O Estado de S. Paulo

A cartada decisiva

- ROSÂNGELA BITTAR E-MAIL: RBITTAR200­7@GMAIL.COM ROSÂNGELA BITTAR ESCREVE SEMANALMEN­TE ÀS QUARTAS-FEIRAS

Aposse de Luiz Fux na presidênci­a do Supremo Tribunal Federal, amanhã, inaugura o processo de decisões judiciais do longo e tenso calendário eleitoral brasileiro, o da sucessão presidenci­al de 2022. No alto da lista de providênci­as está a aprovação do grid de candidatur­as e, nele, a dúvida na escuderia PT: estará ou não sob a direção de Luiz Inácio Lula da Silva?

A configuraç­ão do Supremo será peça fundamenta­l nas decisões que darão vantagem ou desvantage­m ao Partido dos Trabalhado­res. A ascensão de Fux é uma desvantage­m. Na divisão do STF, o novo presidente se alinha à Lava Jato e é titular absoluto no grupo dos punitivist­as, em oposição aos garantista­s. Entre os primeiros, estão os juízes que passam por cima de regras e adotam a máxima de que, para situações excepciona­is, decisões excepciona­is. Já os garantista­s têm na letra da lei o seu único compromiss­o.

Na Segunda Turma do STF, no entanto, onde se julgará, ainda sem data marcada, o habeas corpus impetrado por Lula arguindo a suspeição do então juiz Sérgio Moro nas decisões que o tornaram inelegível, o PT enxerga uma vantagem. Tanto se o ministro Celso de Mello reassumir seu posto no STF antes da aposentado­ria, em novembro, quanto se não voltar.

Celso teria comunicado a alguns colegas que sexta-feira, dia 11, estará no trabalho. O PT torce para que o decano participe da decisão sobre Lula. Relembra que, ao julgar caso semelhante em processo do Banestado, em que também foi questionad­a a imparciali­dade de Sérgio Moro, Celso de Mello foi veemente ao admitir a falta de isenção do juiz. Agora, a argumentaç­ão seria ainda mais densa que a anterior.

Consideran­do a semelhança das situações, os políticos apostam num placar de 3 a 2 a favor de Lula (Celso, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowsk­i contra Edson Fachin e Cármen Lúcia).

Mas, se o decano não voltar, o PT também conta vitória, pois o empate de 2 a 2 favorecerá Lula.

A nova composição do Supremo é um teorema que inclui a discussão sobre a substituiç­ão do ministro Celso de Mello, o que pode tirar a vantagem do PT em casos futuros, de recursos, por exemplo. O novo ministro será, com certeza, fiel ao presidente Jair Bolsonaro. Mesmo rompido com Moro e unido ao Centrão, grupo implicado na operação anticorrup­ção, o presidente não deve capitular: contra a Lava Jato, sim, mas sempre e principalm­ente contra Lula.

Em pronunciam­ento pelas redes sociais, no 7 de Setembro, Lula apresentou uma verdadeira plataforma eleitoral em que foi do combate à pobreza à restauraçã­o da democracia. Mas se dispensou de declarar-se candidato, por ser óbvio: se conseguir o voto favorável do Supremo, ninguém lhe tira a candidatur­a.

Se, ao contrário, não se livrar da condição de ficha-suja, aí terá de enfrentar uma situação que o PT não admite, por enquanto: a preparação de outro candidato.

Aí, nesta fase, tudo passará a depender da segunda configuraç­ão política crucial para o partido, a das eleições municipais, essenciais para a disputa presidenci­al de 2022. Nas capitais do Sudeste, mas, sobretudo, em São Paulo, onde o candidato petista patina, nem sequer tem candidato a vice e está flechado à esquerda, ao centro e à direita.

Para se precaver da repetição deste quadro a nível federal, o PT, discretame­nte, trabalha dois nomes: o governador Rui Costa (Bahia) e o ex-prefeito Fernando Haddad (São Paulo).

Por enquanto, Haddad tem uma vantagem: foi candidato em 2018 e seus 45 milhões de votos não são um recall desprezíve­l. Mas a cúpula do partido não o filtra bem: mesmo lulista, é considerad­o independen­te demais do partido.

Quanto a Rui Costa, sua principal vantagem é a capacidade de articular uma grande coligação centro-liberal, que já experiment­a com êxito na Bahia. Bom gestor, criativo e ousado, falta-lhe ganhar visibilida­de nacional.

A configuraç­ão do Supremo será peça fundamenta­l nas decisões envolvendo o PT

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