O Estado de S. Paulo

Trump perde vantagem financeira e sugere colocar dinheiro na campanha

Campanha à reeleição começou cedo e manteve gastos excessivos; agora, na reta final da corrida presidenci­al, presidente americano tem menos dinheiro que Joe Biden, seu adversário democrata, e teve de cortar viagens e propaganda­s na TV

- NYT, TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZ­OU

Além da pandemia, da crise econômica e dos protestos sociais nos EUA, a campanha de Donald Trump enfrenta um outro problema grave: a falta de dinheiro. Segundo reportagem do New York Times, em poucos meses, Trump perdeu a enorme vantagem financeira que tinha sobre o rival democrata Joe Biden. Ontem, o presidente sugeriu que pode colocar dinheiro do próprio bolso na corrida presidenci­al.

“Se precisar, eu farei”, disse Trump. Segundo a reportagem, do total de US$ 1,1 bilhão arrecadado pela campanha e pelo Partido Republican­o, entre o início de 2019 e julho, mais de US$ 800 milhões já foram gastos. Estrategis­tas republican­os estariam preocupado­s com uma provável crise de caixa a menos de 60 dias da eleição, afirma a reportagem, citando funcionári­os da campanha.

Nas prévias de 2016, Trump tirou do bolso US$ 50 milhões para bancar sua pré-candidatur­a, mas não colocou dinheiro do próprio bolso na campanha presidenci­al. “Custe o que custar, temos de vencer”, disse ontem o presidente, antes de uma viagem à Flórida. “Se mais dinheiro for necessário, o que duvido que seja, eu o colocarei.”

Bill Stepien, gerente da campanha, não negou a crise de caixa, mas minimizou a importânci­a da arrecadaçã­o. “Se dinheiro fosse o único fator determinan­te entre vencedores e perdedores, Jeb Bush teria sido candidato em 2016”, disse em referência ao irmão do ex-presidente George W. Bush, campeão de arrecadaçã­o de fundos nas primárias republican­as.

Após as primárias democratas, a campanha de Biden estava quebrada. Trump tinha uma vantagem de quase US$ 200 milhões. Mas, cinco meses depois, a supremacia evaporou, de acordo com o Times. Entrevista­s com mais de uma dúzia de assessores e aliados, além da análise de milhares de documentos, mostram que a campanha do presidente criou alguns hábitos perdulário­s, gastando centenas de milhões de dólares.

Sob comando de Brad Parscale, ex-chefe de campanha, substituíd­o em julho, quase metade dos US$ 800 milhões gastos foram para operações de arrecadaçã­o de fundos e financiame­nto de uma equipe grande, de salários elevados, que trabalhava em um escritório imenso e bem equipado nos subúrbios de Washington. Cerca de US$ 100 milhões em uma campanha de TV antes da convenção do partido, quando historicam­ente o eleitorado começa a prestar atenção à corrida eleitoral bem mais tarde. Entre os gastos mais impactante­s – e questionáv­eis – estão anúncios no Super Bowl que a campanha reservou por US$ 11 milhões.

Sem freio. Os críticos dizem que os gastos foram ineficazes: Trump entra na reta final da campanha atrás na maioria das pesquisas e na arrecadaçã­o de fundos – em agosto, Biden bateu recorde ao obter quase US$ 365 milhões.

“Se você gasta US$ 800 milhões e continua 10 pontos porcentuai­s atrás, precisa responder à pergunta: ‘Qual era a estratégia?’”, disse Ed Rollins, veterano estrategis­ta republican­o que dirige um pequeno comitê de ação política pró-trump e acusa Parscale de gastar “feito um marinheiro bêbado”.

Nicholas Everhart, estrategis­ta republican­o e dono de uma empresa especializ­ada em veicular anúncios políticos, disse que os US$ 800 milhões gastos até agora mostram o perigo de se iniciar uma campanha de reeleição muito cedo. “É preciso muito dinheiro para fazer uma campanha presidenci­al funcionar”, disse. “A campanha gastou sem parar por quase quatro anos consecutiv­os.”

Contenção. Com Stepien, o número de funcionári­os autorizado­s a viajar para eventos foi reduzido, para evitar o que ele descreveu como “férias patrocinad­as”. As viagens a bordo do avião presidenci­al, que precisam ser reembolsad­as pela campanha, também foram reduzidas. “A coisa mais importante é prestar atenção ao orçamento”, disse Stepien.

A campanha de Trump reduziu seus gastos com TV em agosto, praticamen­te abandonand­o anúncios em rádio. Nas últimas duas semanas, Biden gastou US$ 35,9 milhões em publicidad­e na TV – a de Trump, apenas US$ 4,8 milhões. “Estamos segurando o dinheiro para termos o poder de fogo que precisamos para os próximos meses”, disse Jason Miller, estrategis­ta de Trump.

Uma das razões pelas quais Biden conseguiu cobrir a margem de caixa inicial de Trump foi que ele conteve drasticame­nte os custos com uma campanha minimalist­a durante os piores meses da pandemia. Assessores de Trump disseram que era uma “estratégia de porão”, mas foi dentro desse porão que Biden abraçou a arrecadaçã­o de fundos por Zoom.

“Se mais dinheiro for necessário, eu colocarei. Custe o que custar, temos de vencer”

Donald Trump

PRESIDENTE DOS EUA

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MANDEL NGAN/AFP Hora da decisão. Donald Trump em comício reduzido na Carolina do Norte: excesso de gastos e dinheiro escasso na reta final da corrida presidenci­al

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