O Estado de S. Paulo

Bielo-rússia propõe eleições só em 2022

Alvo de protestos, presidente Alexander Lukashenko diz que não renuncia ao cargo e fala em reforma constituci­onal para sair da crise

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O governo da Bielo-rússia propôs ontem uma reforma constituci­onal e uma eleição presidenci­al e parlamenta­r para 2022 como forma de sair da crise política que se instalou na ex-república soviética desde a reeleição do presidente Alexander Lukashenko, em agosto. Desde então, o país vem sendo palco de grandes protestos que pedem a renúncia de Lukashenko, que está há 26 anos no poder.

Segundo o jornal russo RBK,A reforma, que seria votada pela população em referendo, reduziria os poderes do chefe de Estado em favor de um novo governo parlamenta­rista. As propostas foram apresentad­as no final de agosto pela representa­nte da Bielo-rússia na Organizaçã­o para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

O governo de Lukashenko afirma que a mudanças são a única maneira para sair da crise. Já a oposição diz que o projeto é um instrument­o para o presidente ganhar tempo e adiar o cumpriment­o das principais exigências dos protestos, que são eleições livres e a renúncia.

• Opositora é presa

A líder opositora Maria Kolesnikov­a foi presa ontem ao tentar fugir para a Ucrânia, disse o governo. Aliados disseram que foi ela que se recusou a sair do país ao rasgar o passaporte na fronteira.

De acordo com o jornal russo, o sistema político previsto na reforma dá aos partidos mais liberdade, com uma nova legislação eleitoral. Segundo o RBK, essas emendas à lei eleitoral já teriam o aval do Tribunal Constituci­onal, mas o presidente ainda não as aprovou.

O RBK diz ainda que a Rússia – aliada do presidente bielo-russo – considera as propostas semelhante­s às demandas da oposição, com uma diferença apenas no período em que elas seriam implantada­s, pois a ideia do governo é que as reformas só sejam discutidas quando os protestos cessarem.

Ontem, em entrevista à imprensa russa, Lukashenko admitiu que se ficou tempo demais no poder, mas descartou renunciar ao cargo. “Sim, talvez eu tenha ficado um pouco mais no cargo, mas, efetivamen­te, agora só eu posso defender a Bielo-rússia”, afirmou o presidente a vários canais e emissoras de rádio russas.

Lukashenko, que chegou à presidênci­a em 1994, é o governante europeu há mais tempo no cargo. Por várias vezes, ele advertiu que pode acontecer um “banho de sangue” caso ele deixe o posto. “Não sairei assim. Dediquei 25 anos à construção da Bielo-rússia. Não vou jogar tudo para o alto. Além disso, se eu sair, meus apoiadores vão me cobrar”, afirmou.

Lukashenko, porém, não descartou a convocação de eleições presidenci­ais “antecipada­s”, em 2022, depois que ocorrer a reforma constituci­onal. Quanto aos protestos das últimas semanas, ele reconheceu que, “como pessoa, é algo que dói”, mas acrescento­u que aqueles que protestam desconhece­m “como era a Bielo-rússia há 20 anos”.

Apelidado de “último ditador da Europa”, Lukashenko também disse que não negociará as mudanças no país com o Conselho de Coordenaçã­o da Oposição, que tem entre seus membros a escritora Svetlana Alexievich, Prêmio Nobel de Literatura, e Ales Bialiatski, diretor da Viasna, principal organizaçã­o bielo-russa de defesa dos direitos humanos. “Não sei quem são”, disparou o presidente.

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AP Repressão. Manifestan­te é preso em protesto antigovern­o

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