Em SP, 200 escolas públicas reabriram
Cálculo do governo, que só conta as da rede estadual, revela que entre 10% e 15% dos alunos compareceram, num total de 128 cidades
Com poucos ou nenhum aluno e cercadas de cuidados, escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo reabriram ontem pela primeira vez depois de quase seis meses. Segundo o governo, 200 escolas da rede estadual retomaram as atividades nesta terça, mas só 10% a 15% dos estudantes foram às unidades.
O retorno em setembro foi autorizado pelo governo paulista em municípios há mais de 28 dias na fase amarela do plano de reabertura, mas o aval depende das prefeituras, que sofrem pressão contrária dos professores. Segundo a Secretaria da Educação do Estado, 128 municípios sinalizaram abertura em setembro – a lista das cidades não foi divulgada. Cotia, que havia dado permissão para abrir a rede estadual recuou ontem.
Sorocaba e São Carlos concentraram a maior parte das escolas estaduais que retornaram. As 200 unidades abertas correspondem a 3,5% do total da rede estadual. Nem todas as 5,6 mil escolas da rede estão em áreas autorizadas a reabrir. Para Henrique Pimentel, subsecretário de Articulação Regional da Secretaria de Educação, o número de unidades que voltaram é bom. “É um retorno gradual, sem pressa.” Já a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Bebel Noronha, contabiliza volta em apenas 20 unidades estaduais e diz que a baixa adesão reflete “a insegurança da população”.
Em Sorocaba, das 81 escolas, houve registro de atividades em três. A Escola Estadual Professora Ana Cecília Martins abriu as portas para número reduzido de alunos. “Foi mais para explicar como vai funcionar, com poucos alunos em cada classe, carteiras distantes, medição de temperatura, álcool em gel, sem contato nenhum”, disse a estudante Silvia Delgado, de 13 anos. Em visita a Sorocaba, o secretário
Rossieli Soares encontrou apenas 17 alunos na escola Ana Cecília Martins, que normalmente acolhe 1,2 mil estudantes. Alguns fizeram agendamento para usar o laboratório de informática. “É uma volta gradativa e importante, porque pouco a pouco a gente vai aprendendo a fazer esse retorno.”
Na Escola Estadual Antonio Padilha, na região central, o estudante Luan Santos, de 16 anos, era o único aluno presente na manhã de ontem. Mas isso tinha uma explicação: ele é filho do zelador da escola, Dorivaldo
Santana, e mora no prédio. A administração informou que a escola está sendo preparada. Em Jundiaí e Taubaté, houve atividades internas, praticamente sem alunos. Escolas municipais de Taubaté também reabriram, mas os alunos não apareceram.
Nas particulares, o movimento foi maior. Na escola Viva a Vida, em Sorocaba, a técnica de enfermagem Elizangela Barbosa Pena conta que passou o fim de semana prolongado preocupada com o retorno do filho Enzo, de 6 anos. “Estou retornando por ele. Foram quase seis meses dentro de casa, em contato só com adultos.” No Colégio Uirapuru, a médica Bianca Calvilho precisou conversar muito para convencer o filho Pedro, de 5 anos, a entrar na escola. O menino cruzava os bracinhos, fincava os pés e resistia. “Acho que estava na hora de voltar, não só pelo meu trabalho, mas pelas atividades que a escola oferece e eles precisam.”
Em outros municípios como Araraquara, Indaiatuba, Itatiba, Itu, Paulínia, Piracicaba e São José do Campos também houve retorno da rede privada. Mãe de três filhos, a empresária Marina do Valle, de 42 anos, mandou os dois mais novos, de 3 e 6 anos, para o Colégio Maple Bear, em Indaiatuba, ontem. O mais velho, de 8 anos, também vai voltar, mas só amanhã – a escola faz um rodízio de estudantes para evitar aglomeração. “Na sala de aula com a professora, o aprendizado é diferente.” A escola priorizou a volta da educação infantil e dos anos iniciais do fundamental. Os mais novos usam até face shield para evitar o contágio.
CEO da Maple Bear, Arno Krug diz que 16 unidades abriram ontem e espera que mais 16 possam abrir hoje. Com a descentralização das decisões sobre a abertura, as escolas têm de checar diariamente se há mudanças nos decretos das prefeituras. “Temos uma sala de guerra com cinco ou seis advogados especialistas recebendo normativas, informações. Tem sido um trabalho enorme”, diz.
Mudanças. Em Cotia, por exemplo, em meio à estreia da retomada, houve alteração nas regras pela prefeitura, que recuou sobre a volta da rede estadual e suspendeu as aulas nessas escolas até o fim do ano. A mudança causou dúvidas até entre as unidades particulares. Por meio de nota, a prefeitura informou que a rede privada continua autorizada a realizar atendimento presencial, com exceção da educação infantil.