O Estado de S. Paulo

Osaka é exceção no US Open tímido em protesto antirracis­ta

Jogadora negra nascida no Japão é uma das poucas vozes a se manifestar com firmeza no Grand Slam americano

- Felipe Rosa Mendes

Breonna Taylor, Elijah Mcclain, Ahmaud Arbery e Trayvon Martin. Eles não são atletas ou celebridad­es, mas se tornaram famosos nos últimos dias por causa do US Open. Foram homens e mulheres negros que morreram vítimas de racismo nos Estados Unidos. E ganharam “voz” por meio da japonesa Naomi Osaka, que vem sendo a exceção no torneio em manifestaç­ões de apoio a protestos antirracis­tas nos Estados Unidos.

Osaka estampou o nome dessas quatro pessoas nas máscaras que está usando em cada partida do US Open. Campeã do torneio em 2018, ela diz ter sete destes itens de proteção com nomes diferentes, um para cada jogo que poderá fazer na competição se chegar à final.

“Antes de ser uma atleta profission­al, sou uma mulher negra. E, como mulher negra, eu sinto que há coisas mais importante­s e que merecem atenção mais imediata do que me ver jogar uma partida de tênis”, disse a tenista de 22 anos.

“Eu odeio quando as pessoas dizem que os atletas não devem se envolver com política e se ater ao entretenim­ento. Primeirame­nte, esta é uma questão de direitos humanos. Em segundo, por que você teria mais direito de falar do que eu?”, questiona Naomi Osaka, que apesar de ter nascido em solo japonês tem mais vínculos com os EUA do que com o país asiático.

Neste US Open, ela tem sido voz quase solitária em apoio às manifestaç­ões contra o racismo, que voltaram a crescer no fim do mês passado depois que Jacob Blake, um homem negro, foi alvejado com sete tiros pelas costas por um policial, na cidade de Kenosha, no Wisconsin.

Além de se manifestar por meio das máscaras, Naomi fala sobre o tema nas entrevista­s coletivas, algo incomum no caso dos outros tenistas, até mesmo dos negros. No US Open, as poucas manifestaç­ões em apoio aos protestos acontecem com discrição ou são restritas às redes sociais. A americana Sloane Stephens, campeã do torneio de 2017, foi além do mundo virtual e apareceu no complexo do torneio com a mensagem “No Justice, No Peace” (“Sem Justiça, sem Paz”) em sua máscara.

Frances Tiafoe, tenista negro, também usou a máscara para promover o movimento “Black Lives Matter”. “Não é apenas por mim, eu quero fazer isso para as crianças que estão me assistindo. Há um movimento muito sério acontecend­o”, declarou o americano. Seu perfil no Twitter não traz sua foto, apenas um círculo totalmente preto. E Katrina Scott, outra americana negra, entrou em quadra com uma camiseta com referência ao movimento.

A organizaçã­o do US Open, por sua vez, exibe, desde a primeira rodada, a mensagem “Black Lives Matter” num painel artístico na altura dos primeiros assentos da quadra central, que pode ser vistos na transmissã­o de TV.

A quadra foi batizada com o nome de Arthur Ashe, homenagem ao negro que foi um dos principais tenistas americanos das décadas de 60 e 70. O complexo do US Open também tem referência a Althea Gibson, que ganhou um busto com seu nome. Ela brilhou na década de 50, com cinco Grand Slams no currículo e o topo do ranking.

TENISTA JAPONESA ‘Quando uso máscara com alguma mensagem, estou interagind­o com as pessoas e deixo verem uma parte de minha personalid­ade’

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FRANK FRANKLIN II/AP-7/9/2020 Luta. Naomi lembra vítimas do racismo na máscara

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