O Estado de S. Paulo

Relator prevê corte de R$ 30 bi em gastos

Estimativa de economia faz parte de relatório que será apresentad­o hoje sobre PEC do pacto federativo; texto não vai incluir Renda Brasil

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli

As medidas de corte de despesas previstas na Proposta de Emenda Constituci­onal do pacto federativo, cujo relatório deverá ser apresentad­o hoje pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC), abrem um espaço de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões no Orçamento. Os cálculos dos chamados gatilhos, que incluem itens como a redução de jornada e salário dos servidores públicos, estão sendo finalizado­s pela área técnica do governo para serem apresentad­os aos parlamenta­res, segundo apurou o Estadão/broadcast.

O relatório de Bittar vai deixar de fora o Renda Brasil, o novo programa social do governo que vai substituir o Bolsa Família. O Renda Brasil e os recursos para o seu financiame­nto serão incluídos no projeto do Orçamento de 2021, que tem também o senador como relator. “Eu apresento o relatório sem o Renda Brasil”, disse Bittar.

Ele explicou que, como as mudanças no abono salarial (benefício de até um salário mínimo para quem ganha dois pisos) para financiar o Renda Brasil foram descartada­s pelo presidente Jair Bolsonaro, não será preciso mais de PEC para criar o programa. Dessa forma, o Renda Brasil poderia ser criado por meio de projeto de lei. Enquanto a PEC exige a adesão de três quintos dos parlamenta­res nas duas Casas legislativ­as (308 de 513 deputados e 49 de 81 senadores), o projeto pode passar apenas por maioria simples.

“O ideal é que esse mundo de brasileiro­s que precisa do Estado para se alimentar durma no dia 31 dezembro já com o projeto aprovado”, disse Bittar.

A estratégia dá mais tempo para o governo avançar nas negociaçõe­s para aprovação das fontes de financiame­nto do Renda Brasil, que ainda não tem um modelo definido e depende justamente de espaço no teto de gastos para poder ser ampliado. Ou seja, será preciso cortar despesas para aumentar o Renda Brasil. O teto é a regra que impede o cresciment­o das despesas acima da inflação. Uma das propostas é acelerar a tramitação para levar o texto direto ao plenário do Senado. Essa estratégia, porém, é de difícil execução.

Medidas. Como antecipou o Estadão, o relatório do pacto federativo vai regulament­ar o acionament­o automático de gatilhos (medidas de contenção de despesas) para União, Estados e municípios e propor o chamado “DDD”: desvincula­r (retirar os “carimbos”), desindexar (remover a necessidad­e de conceder automatica­mente reajustes) e desobrigar o pagamento de parte de despesas no Orçamento.

O relator vai propor ainda a desvincula­ção dos pisos da saúde e da educação, medida polêmica que enfrenta resistênci­as dentro do Congresso e na sociedade civil. “Claro que vai ter mínimo. O mínimo do mínimo é a folha de pagamentos. É lógico que vai ter mínimo. Só não será ditado por nós (o Congresso)”, justifica o relator, ao citar o aumento dos gastos com salários, uma das principais despesas do governo. Para ele, a solução não é “carimbar” os recursos e manter o Orçamento engessado como é hoje. A medida é defendida pela equipe econômica.

Boa parte dessas medidas é voltada para a economia com gasto de pessoal. O texto vai reforçar a regra do teto remunerató­rio do serviço público – hoje de R$ 39,2 mil – para fechar as brechas para que seja burlado por adicionais como verbas indenizató­rias – que não são computadas no limite salarial.

A PEC prevê uma economia de R$ 3,6 bilhões com redução de gastos nas Câmaras municipais. Será proposta a criação de nova faixa para municípios com até 5 mil habitantes. Essa faixa poderá ter no máximo cinco vereadores. Nas demais faixas, serão cortados dois vereadores em cada uma delas. Essas faixas aumentam dois vereadores em cada nível até chegar a 55 vereadores, que é a quantidade máxima e que só existe na cidade de São Paulo.

A PEC também altera o repasse máximo para a Câmara de Vereadores. Hoje, municípios até 100 mil habitantes estão todos na mesma faixa: repasse de até 7% da receita para o custeio da Casa. Nesse grupo, estão 5 mil municípios. Serão criadas mais 5 faixas, além das seis existentes. Será reduzido o porcentual máximo que poderá ser repassado.

Benefícios fiscais da União como isenções e subsídios ficarão limitados a 4% do PIB. Não poderá ultrapassa­r esse porcentual a partir de 2026. O prazo até 2026 é para que possa ser feita a transição. Durante esse período, não será permitida a concessão de novos benefícios fiscais, que só serão permitidos quando estiverem abaixo do teto de 4%.

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LEOPOLDO SILVA/AGANCIA SENADO-7/5/2020 Análise. Texto do senador Marcio Bittar prevê ‘gatilhos’ para a redução de despesas, com medidas como o corte de salários

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