O Estado de S. Paulo

Faltava um mexicano como o Metzi

- •✽ PATRÍCIA FERRAZ patriciacf­erraz@gmail.com @patriciacf­erraz ✽ É JORNALISTA COM PÓS-GRADUAÇÃO EM GASTRONOMI­A. COZINHA E COME A TRABALHO HÁ 21 ANOS. Fica aí

Estava faltando um restaurant­e de cozinha mexicana como o Metzi, aberto semana passada, sem burritos, enchiladas ou frozen margaritas. Tex-mex pode ter seu valor, mas não nessa casa de Pinheiros, que leva o nome da deusa da Lua na mitologia asteca. Comida fiel às raízes, em versão contemporâ­nea e com toques autorais, é o negócio do casal de jovens chefs à frente do Metzi, o mexicano Eduardo Nava Ortiz e a brasileira Luana Sabino. Seus pratos são de execução sofisticad­a, visual minimalist­a e sabores ao mesmo tempo complexos e de muita sutileza.

A casa tem evidente (e declarada!) inspiração no Cosme, em Nova York, o 23º na lista dos melhores restaurant­es do mundo, que pertence ao chef Enrique Olvera, mas é comandado por Daniela Soto-innes, eleita a chef mulher do ano em 2019, pelo 50 Best Restaurant­s.

Explica-se. Foi na cozinha do Cosme que o casal se conheceu. Eduardo é de Oaxaca, trabalhou na região por quase dez anos até desembarca­r nos Estados Unidos. Luana passou por Arturito, Tuju e Petì, em São Paulo, e então conseguiu estágio no Cosme – foi contratada e ficou dois anos ali. As lições importadas estão na combinação de técnicas e sabores mexicanos com produtos locais e nos preceitos de sustentabi­lidade da cozinha. Alimentos são aproveitad­os integralme­nte; as embalagens são biodegradá­veis, feitas com bagaço de cana. A carta de drinques reverencia o mescal, ancestral da tequila.

De nada serviriam as ideias e o estilo se a comida não fosse boa. Mas ela é – e muito. Eu nunca tinha visto um guacamole tão delicado no sabor: amassado rusticamen­te e decorado com pétalas de flores miúdas, é temperado com suco de pimenta jalapeño, limão, cebola, sal e azeite herbal (R$ 26). Vem com tortillas crocantes (as tostadas). São feitas com milho criollo, selvagem, preparado conforme a tradição, macerado em solução com cal. O mole negro (R$ 45) é saboroso, encorpado, escuro, resultado de uma mistura de 50 ingredient­es, entre chiles, frutas, vegetais e especiaria­s, além do chocolate de Oaxaca. Tem toques doces, picantes, ácidos...vem com chips de banana-da-terra.

Difícil escolher a favorita entre as três versões de tortilla. A volcan vem com queijos da Canastra, um creme suave de guacamole, tomate verde, jalapeño e cogumelos (R$ 38). É uma versão de um clássico das ruas de Oaxaca. A memela de suadero (R$ 40; foto) é uma tortilla macia e espessa com frijoles refritos, salsa de physalis, queijo fresco e costela salteada em gordura de tutano. Um espetáculo. O taco de assada (R$ 40) vem com chuleta assada com lenha de macieira, salsa de quiabo tostado, avocado e pimenta seca. E ainda tem ceviche de polvo e peixe branco com leite de tigre de maracujá e cubinhos de manga (R$ 40) e tamal de mandioquin­ha em folha de couve (R$ 27). Na sobremesa, peça a tostada de milho e chocolate com creme de chocolate oaxaqueño (R$ 25).

O Metzi abre à noite (18h/22h), de terça a sábado, mas pedi delivery para não quebrar o isolamento. As entregas são via Rappi e ifood, Dá para retirar no local (R. João Moura, 861).

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GABRIELA SABINO
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