Faltava um mexicano como o Metzi
Estava faltando um restaurante de cozinha mexicana como o Metzi, aberto semana passada, sem burritos, enchiladas ou frozen margaritas. Tex-mex pode ter seu valor, mas não nessa casa de Pinheiros, que leva o nome da deusa da Lua na mitologia asteca. Comida fiel às raízes, em versão contemporânea e com toques autorais, é o negócio do casal de jovens chefs à frente do Metzi, o mexicano Eduardo Nava Ortiz e a brasileira Luana Sabino. Seus pratos são de execução sofisticada, visual minimalista e sabores ao mesmo tempo complexos e de muita sutileza.
A casa tem evidente (e declarada!) inspiração no Cosme, em Nova York, o 23º na lista dos melhores restaurantes do mundo, que pertence ao chef Enrique Olvera, mas é comandado por Daniela Soto-innes, eleita a chef mulher do ano em 2019, pelo 50 Best Restaurants.
Explica-se. Foi na cozinha do Cosme que o casal se conheceu. Eduardo é de Oaxaca, trabalhou na região por quase dez anos até desembarcar nos Estados Unidos. Luana passou por Arturito, Tuju e Petì, em São Paulo, e então conseguiu estágio no Cosme – foi contratada e ficou dois anos ali. As lições importadas estão na combinação de técnicas e sabores mexicanos com produtos locais e nos preceitos de sustentabilidade da cozinha. Alimentos são aproveitados integralmente; as embalagens são biodegradáveis, feitas com bagaço de cana. A carta de drinques reverencia o mescal, ancestral da tequila.
De nada serviriam as ideias e o estilo se a comida não fosse boa. Mas ela é – e muito. Eu nunca tinha visto um guacamole tão delicado no sabor: amassado rusticamente e decorado com pétalas de flores miúdas, é temperado com suco de pimenta jalapeño, limão, cebola, sal e azeite herbal (R$ 26). Vem com tortillas crocantes (as tostadas). São feitas com milho criollo, selvagem, preparado conforme a tradição, macerado em solução com cal. O mole negro (R$ 45) é saboroso, encorpado, escuro, resultado de uma mistura de 50 ingredientes, entre chiles, frutas, vegetais e especiarias, além do chocolate de Oaxaca. Tem toques doces, picantes, ácidos...vem com chips de banana-da-terra.
Difícil escolher a favorita entre as três versões de tortilla. A volcan vem com queijos da Canastra, um creme suave de guacamole, tomate verde, jalapeño e cogumelos (R$ 38). É uma versão de um clássico das ruas de Oaxaca. A memela de suadero (R$ 40; foto) é uma tortilla macia e espessa com frijoles refritos, salsa de physalis, queijo fresco e costela salteada em gordura de tutano. Um espetáculo. O taco de assada (R$ 40) vem com chuleta assada com lenha de macieira, salsa de quiabo tostado, avocado e pimenta seca. E ainda tem ceviche de polvo e peixe branco com leite de tigre de maracujá e cubinhos de manga (R$ 40) e tamal de mandioquinha em folha de couve (R$ 27). Na sobremesa, peça a tostada de milho e chocolate com creme de chocolate oaxaqueño (R$ 25).
O Metzi abre à noite (18h/22h), de terça a sábado, mas pedi delivery para não quebrar o isolamento. As entregas são via Rappi e ifood, Dá para retirar no local (R. João Moura, 861).