O Estado de S. Paulo

A última paciente do Anhembi

Unidade é desativada pela Prefeitura de SP

- Felipe Resk Daniel Teixeira

Guiomar Sargo de Lima, de 83 anos, recebe alta do hospital de campanha do Anhembi; construída em caráter de urgência pela Prefeitura, a unidade encerrou os trabalhos ontem, após quase cinco meses em operação. Desde o início da pandemia, São Paulo chegou a receber quatro hospitais de campanha, mas só dois continuam funcionand­o.

Após 12 dias internada e sem poder receber familiares, a aposentada Guiomar Sargo de Lima, de 83 anos, se tornou a última paciente de covid-19 a receber alta e deixar o hospital de campanha do Anhembi, na zona norte de São Paulo. Construída em caráter de urgência pela Prefeitura, a unidade fechou as portas nesta terça-feira, após quase cinco meses.

Durante a pandemia, a capital paulista chegou a ter quatro hospitais de campanha, mas agora só dois continuam funcionand­o, ambos do governo do Estado, e tratam de menos de 150 pacientes no momento. Um deles, em Heliópolis, na zona sul, também deve fechar.

Mais de 5,5 mil pessoas chegaram a ficar internadas nos hospitais de campanha da cidade. A queda na demanda, entretanto, é o argumento da Prefeitura e do Estado para encerrar as atividades nesses locais.

Filho de Guiomar, o contador Cláudio Roberto Sargo de Lima, de 59 anos, mora na zona leste e relata que o equipament­o foi importante para que a mãe recebesse tratamento adequado. “Aqui na região, não ia ter outro lugar para internar.”

Segundo Lima, a idosa começou a sentir falta de ar em meados de agosto e confirmou a infecção por exame, após idas e vindas a hospitais do bairro. Com a taxa de saturação oscilando abaixo dos 90%, a idosa foi transferid­a para o Anhembi e precisou fazer uso de máscara de oxigênio na unidade, mas não chegou a ser entubada.

“Ela ficou mal nos primeiros dias, era nítido que estava com falta de ar e muita dor. Naquele momento, tive muito medo. Com o tempo, foi recuperand­o a firmeza na voz e conversava com mais ânimo, e aí foi dando um alívio”, conta. “É uma alegria incontida poder ter minha mãe de volta em casa.”

Vetada de receber visitas durante a internação, Guiomar continuou conversand­o com os parentes por meio de videochama­das, feitas com celulares emprestado­s por enfermeira­s. “O pessoal é muito atencioso, realmente entendeu também o lado do parente: a gente fica angustiado sem poder ver”, afirmou o contador.

O hospital do Anhembi começou a acolher pacientes no dia 11 de abril. No auge da doença, chegou a ter 1,5 mil funcionári­os e 871 leitos ativos. O fim da operação do equipament­o emergencia­l havia sido anunciado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) na semana passada.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO ?? Recuperaçã­o. Aposentada Guiomar é saudada por profission­ais de saúde no Anhembi
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Recuperaçã­o. Aposentada Guiomar é saudada por profission­ais de saúde no Anhembi

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