Empresas usam onda verde para captar com estrangeiro
Com o tema do desmatamento da Amazônia em voga no exterior, um número grande de companhias vai embarcar na pegada sustentável para atrair e atender à demanda crescente dos investidores estrangeiros por papéis de empresas comprometidas com o meio ambiente e com aspectos sociais. A gigante Suzano (foto), de papel e celulose, deu a largada nesse sentido, com uma captação que pode chegar aos US$ 2 bilhões. Pagará juro mais baixo porque está prometendo reduzir em 15% as emissões de carbono, em 10 anos. O responsável pela área de mercado de dívida do BTG Pactual, Sandy Severino, diz que cerca da metade das emissões brasileiras previstas para os próximos meses deve estar relacionada à sustentabilidade.
» Verdes. O cálculo dos profissionais desse mercado é que o total captado pelas empresas brasileiras este ano supere os cerca de US$ 33 bilhões de 2019. Até agora, o Brasil já levantou US$ 19 bilhões, contra US$ 17,5 bilhões em emissões nos primeiros seis meses do ano passado.
» Tem mais. Suzano e Embraer abriram a temporada de emissões de títulos de dívida no exterior (bonds), que começou ontem. Mas há pelo menos dois ou três anúncios previstos para esta semana.
» Sem capa. A Oi, que em 2008 foi alvo de um esforço polêmico no governo Lula de criação da “supertele nacional”, com uma providencial ajuda do BNDES, já tinha tirado a capa de “super”. Começou a abandonar a característica de “tele” na assembleia realizada ontem para que os credores aprovassem seu novo plano de recuperação judicial. Ele prevê o fatiamento da operadora, que será responsável por oferecer apenas infraestrutura ao setor.
» Nunca se endireita. “Pau que nasce torto, morre torto”, disse Luiz Carlos Mendonça de Barros, ministro do governo FHC à época da privatização, à Coluna. Ele lembrou que, como no Brasil até então vigorava um monopólio nas telecomunicações, havia uma exigência no processo de que todos os grupos na disputa dos leilões tivessem ao menos um operador estrangeiro para garantir a expertise. Somente a Telemar, que se transformaria depois na Oi, descumpriu a obrigação.
» Origem. Uma cláusula pétrea criada por seu antecessor no ministério, Sérgio Motta, também determinava que nunca poderia haver redução de competição no setor no País, o que está prestes a acontecer. A empresa é a prova de que não basta a mão do governo ou a vontade política para definir a atuação de um setor, muito menos um setor tão tecnologicamente complexo. “Não perceberam que telefonia muda muito rapidamente. Foi o que aconteceu, com a expansão do celular, o digital etc. As tentativas de consertar esbarram no pecado original”, diz Mendonça de Barros. Procurada, a Oi não quis comentar.
» Sacado. A necessidade de as empresas buscarem capital de giro durante a crise fez mais do que dobrar, no Banco Fibra, a chamada antecipação de crédito – produto no qual a instituição financeira antecipa o pagamento de uma dívida a um fornecedor de uma cadeia produtiva e alonga o prazo do comprador.
» Socorro. No segundo trimestre, as antecipações de crédito realizadas pelo Fibra somaram R$ 1 bilhão, alta de 163% em relação aos R$ 380 milhões registrados no segundo trimestre do ano passado.
» Lupa. A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB), que havia pedido no fim de julho a investigação da venda de uma carteira de créditos vencidos do Banco do Brasil de R$ 2,9 bilhões para o BTG Pactual pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reforçou a demanda incluindo também o Banco Central no pedido de investigação. » Testemunha. A principal alegação da ANABB é a de que não houve concorrência no processo de cessão da carteira, já que a venda não foi feita por meio de leilão. Ao reiterar o pedido e chamar o BC para olhar o caso, encaminhou simultaneamente o testemunho de um fundo, com mais argumentos à tese de uma suposta falta de “transparência”.
» Oculto. O fundo, que quer ser mantido no anonimato, questiona a resposta do BB, na qual alega ter apresentado a carteira a quatro empresas especializadas e escolheu o que apresentou a melhor proposta de pagamento. O denunciante disse que a praxe do mercado para a venda de uma carteira tão grande é por meio de leilão. Há mais de 20 empresas atuantes nesse mercado, incluindo fundos internacionais. Procurado, o BB reiterou a explicação dada anteriormente com o passo a passo da venda, lembrando ainda que a operação foi acompanhada pela Pricewaterhouse Coopers.