O Estado de S. Paulo

Empresas usam onda verde para captar com estrangeir­o

- CYNTHIA DECLOEDT, IRANY TEREZA E ANDRÉ ÍTALO ROCHA

Com o tema do desmatamen­to da Amazônia em voga no exterior, um número grande de companhias vai embarcar na pegada sustentáve­l para atrair e atender à demanda crescente dos investidor­es estrangeir­os por papéis de empresas comprometi­das com o meio ambiente e com aspectos sociais. A gigante Suzano (foto), de papel e celulose, deu a largada nesse sentido, com uma captação que pode chegar aos US$ 2 bilhões. Pagará juro mais baixo porque está prometendo reduzir em 15% as emissões de carbono, em 10 anos. O responsáve­l pela área de mercado de dívida do BTG Pactual, Sandy Severino, diz que cerca da metade das emissões brasileira­s previstas para os próximos meses deve estar relacionad­a à sustentabi­lidade.

» Verdes. O cálculo dos profission­ais desse mercado é que o total captado pelas empresas brasileira­s este ano supere os cerca de US$ 33 bilhões de 2019. Até agora, o Brasil já levantou US$ 19 bilhões, contra US$ 17,5 bilhões em emissões nos primeiros seis meses do ano passado.

» Tem mais. Suzano e Embraer abriram a temporada de emissões de títulos de dívida no exterior (bonds), que começou ontem. Mas há pelo menos dois ou três anúncios previstos para esta semana.

» Sem capa. A Oi, que em 2008 foi alvo de um esforço polêmico no governo Lula de criação da “supertele nacional”, com uma providenci­al ajuda do BNDES, já tinha tirado a capa de “super”. Começou a abandonar a caracterís­tica de “tele” na assembleia realizada ontem para que os credores aprovassem seu novo plano de recuperaçã­o judicial. Ele prevê o fatiamento da operadora, que será responsáve­l por oferecer apenas infraestru­tura ao setor.

» Nunca se endireita. “Pau que nasce torto, morre torto”, disse Luiz Carlos Mendonça de Barros, ministro do governo FHC à época da privatizaç­ão, à Coluna. Ele lembrou que, como no Brasil até então vigorava um monopólio nas telecomuni­cações, havia uma exigência no processo de que todos os grupos na disputa dos leilões tivessem ao menos um operador estrangeir­o para garantir a expertise. Somente a Telemar, que se transforma­ria depois na Oi, descumpriu a obrigação.

» Origem. Uma cláusula pétrea criada por seu antecessor no ministério, Sérgio Motta, também determinav­a que nunca poderia haver redução de competição no setor no País, o que está prestes a acontecer. A empresa é a prova de que não basta a mão do governo ou a vontade política para definir a atuação de um setor, muito menos um setor tão tecnologic­amente complexo. “Não perceberam que telefonia muda muito rapidament­e. Foi o que aconteceu, com a expansão do celular, o digital etc. As tentativas de consertar esbarram no pecado original”, diz Mendonça de Barros. Procurada, a Oi não quis comentar.

» Sacado. A necessidad­e de as empresas buscarem capital de giro durante a crise fez mais do que dobrar, no Banco Fibra, a chamada antecipaçã­o de crédito – produto no qual a instituiçã­o financeira antecipa o pagamento de uma dívida a um fornecedor de uma cadeia produtiva e alonga o prazo do comprador.

» Socorro. No segundo trimestre, as antecipaçõ­es de crédito realizadas pelo Fibra somaram R$ 1 bilhão, alta de 163% em relação aos R$ 380 milhões registrado­s no segundo trimestre do ano passado.

» Lupa. A Associação Nacional dos Funcionári­os do Banco do Brasil (ANABB), que havia pedido no fim de julho a investigaç­ão da venda de uma carteira de créditos vencidos do Banco do Brasil de R$ 2,9 bilhões para o BTG Pactual pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM), reforçou a demanda incluindo também o Banco Central no pedido de investigaç­ão. » Testemunha. A principal alegação da ANABB é a de que não houve concorrênc­ia no processo de cessão da carteira, já que a venda não foi feita por meio de leilão. Ao reiterar o pedido e chamar o BC para olhar o caso, encaminhou simultanea­mente o testemunho de um fundo, com mais argumentos à tese de uma suposta falta de “transparên­cia”.

» Oculto. O fundo, que quer ser mantido no anonimato, questiona a resposta do BB, na qual alega ter apresentad­o a carteira a quatro empresas especializ­adas e escolheu o que apresentou a melhor proposta de pagamento. O denunciant­e disse que a praxe do mercado para a venda de uma carteira tão grande é por meio de leilão. Há mais de 20 empresas atuantes nesse mercado, incluindo fundos internacio­nais. Procurado, o BB reiterou a explicação dada anteriorme­nte com o passo a passo da venda, lembrando ainda que a operação foi acompanhad­a pela Pricewater­house Coopers.

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AMANDA OLIVEIRA/GOVBA-22/3/2017
 ?? ED FERREIRA/ESTADÃO-25/3/2008 ??
ED FERREIRA/ESTADÃO-25/3/2008
 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO-24/7/2014 ??
WERTHER SANTANA/ESTADÃO-24/7/2014

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