O setor de motos em números Principal uso é para locomoção
Segundo estudo dos fabricantes, 88% dos que adquiriram moto em 2019 a utilizam nos deslocamentos cotidianos
As scooters, espécie de moto na qual o condutor vai sentado e tem câmbio automático, são muito populares em países do Sudeste Asiático, como meio de transporte diário. As vendas desses modelos disponíveis no País têm aumentado nos últimos anos, embora esse tipo de moto ainda corresponda a apenas 8,46% das 1.077.234 motocicletas comercializadas no ano passado – sendo que 34% dos consumidores eram mulheres.
O dentista Ricardo Cardoso, 41 anos, estava cansado de ficar parado no trânsito entre seus dois consultórios, um em Diadema e outro no centro de São Bernardo do Campo, ambas as cidades no ABC paulista. “Na Avenida Piraporinha, que liga as duas cidades, tem muito caminhão, ônibus, e sempre pegava trânsito parado. Olhava as motos passando pela janela e pensava: preciso dessa agilidade”, conta ele.
No início do ano passado, Ricardo decidiu comprar uma moto. “O principal motivo foi a mobilidade”, revela. O dentista confirma a estatística da pesquisa, com dados do setor de duas rodas, divulgada no início de setembro pela Abraciclo. De acordo com o estudo, 88% dos compradores de moto em 2019 apontam a locomoção como o principal uso da motocicleta.
Ele comemora o ganho de tempo, pois diz que “antes, chegava sempre atrasado” para atender os pacientes; porém, também se surpreendeu com a economia de combustível, que dizia não conhecer. “Eu medi poucas vezes, mas o consumo sempre foi em torno de 30 km/litro. Só sei que, agora, abasteço duas vezes por mês. Comprei pela agilidade mesmo, mas a economia veio de bônus”, comemora.
Ricardo pilota uma Royal Enfield Continental GT de 535 cm³. Optou pela moto, de maior capacidade, pois também pega a estrada em direção a Araraquara, cerca de 275 quilômetros da capital paulista, onde cursa doutorado. “Só saio de carro quando preciso ir ao mercado, transportar algum objeto ou passear com a família”, conta ele, que é casado e tem duas filhas.
Essa tendência já foi observada pelos especialistas. “É o mesmo que acontece em mercados importantes, como na Europa, por exemplo, onde muitas pessoas têm carro, mas, no dia a dia, preferem sair com scooter ou moto”, explica Marcos Fermanian. FALTAM MOTOS PARA VENDER Embora o aumento de motos nas ruas na última década seja expressivo, o presidente da Abraciclo acredita que a quantidade poderia ser ainda maior. O setor enfrentou quedas nas vendas desde 2012, mas vinha se recuperando nos últimos dois anos. A previsão para 2020 também era boa; porém, em função da pandemia, as fábricas, todas localizadas no Polo Industrial de Manaus (AM), paralisaram a produção por cerca de dois meses, o que deve prejudicar o balanço anual.
Segundo Fermanian, a indústria de duas rodas enfrenta uma situação inusitada na retomada da economia. “Temos capacidade produtiva, mas não estamos conseguindo suprir a demanda. Devido ao período de paralisação, temos que atender às entregas atrasadas de consórcio, modalidade responsável por um terço das vendas, e também está havendo uma maior procura por motos”, revela.
Apesar da forte queda registrada em abril e maio, a venda de motos tem demonstrado recuperação nos últimos meses e registrou seu melhor resultado do ano no mês passado. Com 95.998 unidades comercializadas, o volume foi maior até que em agosto de 2019. CAMPANHA PELA SEGURANÇA A pesquisa da Abraciclo revela ainda que a relação entre habitante por motocicleta no Brasil também aumentou. Em 2009, esse índice era de uma moto para cada 13 brasileiros. No ano passado, chegou a uma para cada sete habitantes (veja gráfico abaixo).
Especialistas e executivos de fabricantes acreditam que, pelo perfil do Brasil, o número pode chegar a cinco, como em países asiáticos. “Em dez Estados brasileiros, há mais motos que carros”, diz Fermanian. Em Rondônia, por exemplo, já existe uma moto para cada três habitantes.
Mais motos e scooters em circulação impõem alguns desafios não só à indústria mas também à sociedade como um todo. A maior quantidade de motos se reflete, infelizmente, em mais acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.
Tanto que, neste ano, a Semana Nacional de Trânsito, promovida anualmente pelo Contran entre 18 e 25 de setembro, tem como objetivo abordar a vulnerabilidade de pedestres, ciclistas, motociclistas e pessoas com deficiência, que são os mais expostos a risco.
Segundo o presidente da Abraciclo, tudo parte do processo de habilitação do motociclista, mas também pela conscientização de todos os agentes de trânsito. “O setor tem buscado o aprimoramento do processo de habilitação, participando de discussões de projetos nas câmaras temáticas dos órgãos competentes”, afirma Marcos Fermanian. Entretanto, a instabilidade política no Brasil nos últimos anos tem sido uma dificuldade para dar continuidade à mudança na regulamentação do processo de formação de condutores.