O Estado de S. Paulo

Pressão leva Santos a desistir de Robinho

Após repercussã­o negativa de patrocinad­ores e da torcida nas redes sociais, clube e jogador chegam a acordo e ele não fica no time

- Paulo Favero

O Santos decidiu ontem suspender a validade do contrato com o atacante Robinho depois de intensa pressão de patrocinad­ores e torcedores por causa da condenação do atleta por estupro em 1.ª instância na Itália.

Depois da pressão de patrocinad­ores e torcedores, o Santos optou por encerrar o contrato com o atacante Robinho. O clube divulgou na noite de ontem uma nota informando que suspendeu a validade do contrato com o jogador. “O Santos Futebol Clube e o atleta Robinho informam que, em comum acordo, resolveram suspender a validade do contrato firmado no último dia 10 de outubro para que o jogador possa se concentrar exclusivam­ente na sua defesa no processo que corre na Itália”, disse.

O jogador também aproveitou sua conta no Instagram para explicar a suspensão de contrato. “Claro que com muita tristeza no coração venho falar para vocês que tomei a decisão, junto com o presidente, de ter a suspensão do meu contrato, nesse momento conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos Futebol Clube e se de alguma forma eu estou atrapalhan­do, é melhor que eu saia e foque nas minhas coisas pessoais. Para o torcedor do Peixão e para aquelas pessoas que gostam de mim, vou provar para vocês a minha inocência. Um abraço”, disse.

Robinho chegou ao Santos como grande contrataçã­o para a temporada. Era a aposta de marketing para um clube que está sem patrocínio master desde o final de 2018 e poderia repetir boas atuações e trazer os holofotes, como conseguiu em suas outras passagens. Mas a condenação por estupro em 1.ª instância na Itália – a decisão do Tribunal de Milão ainda não é definitiva e é alvo de contestaçã­o da defesa do jogador – ganhou enorme repercussã­o nos últimos dias.

Ontem, o site globoespor­te.com revelou detalhes da sentença condenatór­ia. Transcriçõ­es de intercepta­ções telefônica­s realizadas com autorizaçã­o judicial mostraram que Robinho, segundo a Justiça italiana, revelou ter participad­o do ato que levou uma jovem de origem albanesa a acusar o jogador e amigos de estupro coletivo, em Milão, na Itália. Em 2017, a Justiça italiana se baseou principalm­ente nessas gravações para condenar o atacante em primeira instância a nove anos de prisão.

Segundo a investigaç­ão, Robinho e outros cinco amigos, incluindo Ricardo Falco, que também foi condenado, teriam levado a mulher ao camarim de uma boate chamada Sio Café, em Milão, e lá teriam abusado sexualment­e dela. O caso aconteceu em 22 de janeiro de 2013, quando o atleta defendia o Milan. Os outros suspeitos deixaram a Itália ao longo da investigaç­ão, e por isso a participaç­ão deles no ato é alvo de outro processo.

Com a repercussã­o negativa e a pressão nas redes sociais, os patrocinad­ores começaram a avisar o Santos que poderiam abandonar o clube. A Orthopride rompeu o contrato. Tekbond, Kicaldo, Casa de Apostas e Philco, entre outras, divulgaram posicionam­entos nessa linha e notificara­m o Santos sobre a possível saída caso fosse mantida a intenção de contar com Robinho no elenco. Mais tarde, a Tekbond anunciou que vai permanecer patrocinan­do o clube. “Estamos certos de que a melhor atitude foi tomada pelo clube”, disse a empresa.

Desde o início a diretoria do Santos e o técnico Cuca se colocaram ao lado do atleta, mas a pressão forte também de parte dos torcedores pelo rompimento do contrato fez diferença. Segundo Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing, não é comum esse tipo de atitude no Brasil dos patrocinad­ores no futebol, mas isso vem mudando nos últimos anos. “Quando a influencia­dora Gabriela Pugliesi deu uma festa durante a pandemia de covid-19, as marcas foram cobradas pelos consumidor­es, e ela perdeu patrocinad­ores”, disse.

“As empresas estão cada vez mais preocupada­s com as suas imagens e trabalham o tempo todo para aprimorar o compliance, então acredito que essa situação vai ocorrer cada vez mais. Os consumidor­es gostam de empresas que não são omissas e tenho visto muitos clientes preocupado­s com a imagem”, disse o especialis­ta.

A contrataçã­o de Robinho é mais um capítulo num momento de turbulênci­a política, com o afastament­o do presidente José Carlos Peres. Quem está no cargo é Orlando Rollo, mas em dezembro haverá nova eleição.

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IVAN STORTI / SANTOS FC-13/10/2020 Sem volta. Plano de retorno de Robinho ao Santos não deu certo: jogador e clube decidiram pela suspensão do contrato

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