O Estado de S. Paulo

Ex-ministro da Defesa do México é preso em Los Angeles

Salvador Cienfuegos, que liderava o combate aos cartéis na gestão de Peña Nieto, vai responder a 4 acusações por narcotráfi­co

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O general Salvador Cienfuegos, ex-ministro de Defesa do México, foi preso ontem no aeroporto de Los Angeles, nos Estados Unidos. O Departamen­to de Justiça informou que o general, identifica­do como “El Padrino”, responderá por quatro acusações de narcotráfi­co.

A prisão de Cienfuegos, que fez parte do gabinete do presidente Enrique Peña Nieto, de 2012 a 2018, foi anunciada no Twitter pelo chanceler mexicano, Marcelo Ebrard. Segundo ele, após uma audiência inicial, o general será transferid­o para Nova York, onde será julgado.

A prisão se tornou um escândalo no México, um país já acostumado à promiscuid­ade entre Estado e crime organizado. Em dezembro, Genaro García Luna, ex-secretário de Segurança do governo de Felipe Calderón, foi preso em Dallas por ligações com o cartel de Sinaloa.

A prisão de Cienfuegos, porém, tem um tom de ineditismo. Desde que Calderón decretou guerra às drogas, em 2006, colocando os militares para combater os cartéis, as Forças Armadas entraram na linha de frente do conflito, colaborand­o com os americanos e executando narcotrafi­cantes. Até então, a corporação era considerad­a imune à corrupção – a prisão do general ajuda a acabar com essa fábula.

Falko Ernst, analista do Grupo de Crise Internacio­nal, disse que oficiais destacados em algumas partes do país são conhecidos por fechar acordos com cartéis. “Este mito da limpeza e incorrupti­bilidade das

Forças Armadas nem sempre condiz com a realidade”, disse.

A trajetória do general sempre foi cercada de suspeitas. Nos anos em que esteve à frente do ministério, seu patrimônio quintuplic­ou. Ele teria mais de US$ 1 milhão em contas bancárias, segundo documentos oficiais.

A prisão ocorre no momento em que Donald Trump pressiona o México a tomar medidas mais duras contra o narcotráfi­co. O país é fonte de quase todos os opioides que entram nos EUA e a principal rota de entrada de cocaína.

Em setembro, Trump disse que o México “deveria demonstrar claramente seu compromiss­o com o desmantela­mento dos cartéis” e trabalhar mais para apreender os produtos químicos usados na produção de drogas, principalm­ente do fentanil, um derivado do ópio.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, sempre criticou a “guerra às drogas” lançada por seus antecessor­es, usando a prisão de García Luna para argumentar que a estratégia era uma farsa. Agora, a prisão do general Cienfuegos pode corroer ainda mais o apoio popular à militariza­ção do combate ao narcotráfi­co e das iniciativa­s apoiadas pelo governo dos EUA.

Obrador deu continuida­de à cooperação com os EUA no combate ao crime organizado e manteve os militares na linha de frente, mas pediu um maior enfoque nos gastos sociais para evitar que os jovens sejam atraídos pelos cartéis.

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DANIEL BECERRIL/REUTERS-19/9/2018 Cadeia. General Cienfuegos: elo mais alto entre militares e narcotrafi­cantes mexicanos

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