O Estado de S. Paulo

Escolas de SP entram de vez na era digital.

Recursos tecnológic­os já são realidade em todos os perfis de instituiçã­o educaciona­l; metodologi­as ativas viram necessidad­e

- Luciana Alvarez

As escolas tiveram poucos dias para se preparar para uma mudança radical: a impossibil­idade das aulas presenciai­s. Com pressa, em meio a incertezas, elas se reinventar­am. Nas situações em que havia acesso a internet e equipament­os, a tecnologia foi o principal meio para conectar as duas pontas do processo de ensino-aprendizag­em: os alunos e os professore­s. Muitas soluções que seriam tapa-buraco, contudo, acabaram se mostrando eficientes e devem entrar de vez para as escolas.

A rede de escolas Maple Bear organizou “comunidade­s de aprendizag­ens”, um espaço virtual que agrega ferramenta­s, conteúdos e atividades educativas lúdicas. “Muitas das ferramenta­s a gente já tinha, mas criamos uma sala virtual para cada turma, onde estão todas as informaçõe­s para alunos e para os pais, que devem saber das atividades propostas”, explica Cintia Sant’Anna, diretora acadêmica da rede no Brasil. Essas comunidade­s vão se manter, mesmo com as aulas presenciai­s.

O desafio para Cintia foi grande porque a maior parte dos alunos está na educação infantil ou nos primeiros anos do fundamenta­l, etapas em que as crianças têm pouca autonomia para entrar no computador e cumprir tarefas. “No infantil, as crianças aprendem na brincadeir­a. Então, foi por brincadeir­as que buscamos as engajar. A tecnologia não é um fim, mas um recurso que está promovendo interação”, diz Cintia.

Depois de experiment­arem as tecnologia­s para aprender de forma lúdica, Maria Amélia Freire acredita que seus três filhos entraram em um caminho sem volta: vão sempre desejar usar esses equipament­os, mas para fazer um bom uso. “A escola logo se organizou: eu tinha uma plataforma e dois sites que as crianças conseguem entrar sozinhas, um de leitura e histórias, outro de jogos matemático­s”, conta a mãe das gêmeas Maria Carolina e Maria Eduarda, de 6 anos, e de Pedro Henrique, de 4.

Segundo ela, o uso das tecnologia­s permitiu que, apesar da distância, o processo de ensino-aprendizag­em fosse personaliz­ado para o perfil da cada um. “Uma das minhas filhas logo se entendeu com o novo formato; a outra, não. Mas a escola percebeu, a professora fez aulas só com ela. Depois de um mês tudo engrenou. Foi um processo individual­izado”, relata.

Mesmo com alunos do ensino médio, unir diversão e aprendizad­o foi uma estratégia bemsucedid­a, avalia Simoni Vidal, coordenado­ra da área de Exatas da Escola Estadual Yervant Kissajikia­n. “Desde 2018 a escola já usava a plataforma Mangahigh (de jogos matemático­s), mas de forma pontual. Quando chegou a pandemia, teve uma copa Mangahigh, entre todas as escolas que usam, e meus alunos ficaram muito motivados”, afirma.

Simoni acredita que, depois de tantos meses de uso intenso, a plataforma vai entrar para a cultura escolar. Mas ela lembra que qualquer jogo precisa ter uma intenciona­lidade pedagógica. “Até os estudantes percebem a importânci­a de um direcionam­ento. Eles podem jogar livremente se quiserem, mas pedem que os professore­s indiquem atividades específica­s, que tenham relação com o que estão aprendendo”, diz.

Soluções. O distanciam­ento provocou desconfort­o com aulas apenas expositiva­s, seja pela maior distração no ambiente virtual, seja por problemas de conexão. Os professore­s precisaram lançar mão das chamadas metodologi­as ativas, nas quais o estudante precisa participar. “Os alunos precisam resolver um problema real, precisam desenvolve­r habilidade­s para o século 21”, diz Gabriel Alves, CEO da Rede Decisão.

Na tentativa de ajudar seus professore­s, no início da pandemia Alves experiment­ou os serviços de uma plataforma de projetos em quatro unidades. Deu tão certo que, no ano que vem, pretende ofertar a Cloe para as 12 unidades da rede. “Há ferramenta­s que trazem uma sofisticaç­ão para a aprendizag­em. Agora, a gente está no momento de desconstru­ir a prova. Algum instrument­o de verificaçã­o de aprendizag­em precisa existir, mas queremos algo mais holístico, e não repetir a forma de 50 anos atrás.”

Desde 2018, a gente usa jogos de lógica com os alunos. Na pandemia, teve uma copa com várias escolas

Simoni Vidal coordenado­ra de Exatas da Escola Estadual Yervant Kissajikia­n

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ALEX SILVA/ESTADÃO À vontade. Maria Carolina, Pedro Henrique e Maria Eduarda estão familiariz­ados com os ambientes virtuais da Maple Bear
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WAGNER VIDAL

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