O Estado de S. Paulo

Grupos de renovação têm 1,4 mil candidatos

Postulante­s a prefeito ou a vereador formados ou associados a esses movimentos estão em quase 90% das legendas brasileira­s e em todas com representa­ção no Congresso

- Matheus Lara

Nas eleições deste ano, todos os 27 partidos com representa­ção no Congresso terão candidatos formados ou associados a movimentos de renovação política. O Estadão identifico­u em 29 das 33 siglas brasileira­s candidatur­as ligadas a grupos como RenovaBR, Rede de Ação Política Pela Sustentabi­lidade (Raps), Agora, Livres e Acredito, uma disseminaç­ão que expõe um cresciment­o do poder de influência dessas iniciativa­s na política nacional. São candidatos que apostam mais na chancela dos movimentos do que na dos partidos aos quais estão filiados, e que têm tratado a preparação recebida fora das legendas como principal diferencia­l para conquistar o voto do eleitor.

As marcas dos grupos de renovação estão espalhadas por candidatos a prefeito e vereador por todo o País e não só nas capitais. Em Xexéu, município de cerca de 40 mil habitantes a 140 km do Recife (PE), João Victor Silva é candidato a vereador pelo PSC. Aos 21 anos, o técnico de informátic­a participa da disputa eleitoral já influencia­do por movimentos. Há dois anos ele frequenta as organizaçõ­es e hoje está associado ao Livres, ao Acredito e ao RenovaBR.

“Tive capacitaçã­o nos movimentos e participei de processos seletivos para ver quem iria representá-los nas eleições. Ao contrário dos partidos políticos, onde pode entrar qualquer pessoa, independen­temente se faz boas práticas na política ou não”, afirmou Silva.

Com 1.032 ex-alunos candidatos a prefeito e vereador em 398 cidades, o RenovaBR é o grupo que mais terá representa­ntes nas urnas no mês que vem. É um cresciment­o de 800% em relação aos 117 candidatos que levaram a marca da iniciativa para o pleito de 2018.

A Raps tem 187 líderes disputando as eleições em 95 cidades brasileira­s. O Acredito, 100 candidatos em 75 municípios. O Livres está associado a 75 candidatur­as em 40 cidades. O Agora lançou apenas cinco nomes em cinco municípios diferentes.

O número de candidatos associados a esses movimentos supera pelo menos cinco partidos: o Novo, que aposta em 620

nomes em todo o País na eleição deste ano, e siglas “nanicas” como PSTU, PCB, PCO e UP, que, somadas, chegam a 555 candidatur­as – dentre as quais a reportagem não identifico­u membros de grupos de renovação.

“É uma tendência que já vem desde a eleição de 2018. Esses movimentos apostaram em variedade, foram ficando mais conhecidos,

e agora estão em todo o espectro político”, disse a cientista política Carolina de Paula, da Universida­de Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Para ela, o quadro é sintomátic­o da crise dos partidos no Brasil. “A política partidária tradiciona­l envelheceu e não deu espaço nem para a renovação interna. Vai ter que remar para se acostumar a

este novo paradigma.”

Integrante da Raps, Madalena Santos é candidata pelo Avante a uma vaga na Câmara Municipal de Hortolândi­a, no interior de São Paulo. A biomédica está em sua terceira campanha, depois das tentativas de se eleger ao cargo de vereadora em 2012 e de deputada estadual em 2018 pelo PSOL.

Antes do pleito deste ano, decidiu apostar na qualificaç­ão da Raps e avalia que obteve um “olhar mais amplo para a prática de boas políticas” com base no diálogo cívico. “Os partidos políticos vêm criando uma briga absurda, que foge do foco e do debate político, e quem perde são as pessoas e a democracia. Não vivemos em uma bolha. É fundamenta­l dialogar”, afirmou Madalena.

Currículo.

Em capitais, a estratégia para tentar se diferencia­r em meio ao número elevado de candidatur­as passa até por registrar a experiênci­a nos movimentos de renovação no currículo profission­al. É o caso de Michelle Guimarães, candidata pelo PL a vereadora em Manaus (AM). Com quase 15 anos na iniciativa privada, formada pelo RenovaBR e associada à Raps e ao Agora, ela defende a ideia de que político tem de se preparar para exercer o cargo público assim como qualquer profissão.

“Nunca vi os partidos fazerem essa preparação de forma incisiva como os movimentos. Alguns até entenderam a importânci­a e tentaram fazer algo parecido”, disse Michelle. “Se todo mundo tem que estudar para exercer uma função, por que o político não? Por isso apresento meu currículo.” Ligado ao movimento Agora desde sua fundação, em 2018, o advogado Diogo Busse (PDT), candidato pela terceira vez a vereador em Curitiba (PR), vê nos movimentos uma saída para fortalecer o diálogo e a democracia, e, assim, melhorar a política.

“Os partidos estão desacredit­ados. Salvo raras exceções, os partidos são instituiçõ­es pouco transparen­tes e ambientes dominados por pessoas que não valorizam a democracia”, afirmou Busse. “Parece que não há muita vontade de educar politicame­nte, pois cidadãos consciente­s escolhem melhor seus representa­ntes e não são passíveis de domesticaç­ão.”

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Associado ao Livres, ao Acredito e ao RenovaBR, João Victor Silva é candidato a vereador pelo PSC em Xexéu (PE)
CARLOS EZEQUIEL VANNONI / ESTADÃO Marca. Associado ao Livres, ao Acredito e ao RenovaBR, João Victor Silva é candidato a vereador pelo PSC em Xexéu (PE)
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DENNY CESARE / ESTADÃO Avante. Agora na Raps, Madalena Santos está na 3ª eleição
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DENIS FERREIRA NETTO/ESTADAO PDT. Para Diego Busse (Agora), diálogo é a chave na política

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