O Estado de S. Paulo

Escolas de elite dizem estar prontas para aula curricular presencial

Pesquisa em SP indica satisfação com abertura extracurri­cular e expectativ­a por possível retomada no dia 3

- Renata Cafardo

Todas as escolas de um grupo de instituiçõ­es particular­es de elite de São Paulo pretendem voltar com aulas curricular­es presenciai­s no dia 3, se a Prefeitura autorizar. A decisão sobre uma maior flexibiliz­ação será anunciada pelo prefeito Bruno Covas na quinta-feira. Em pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Escolas Particular­es (Abepar), obtida com exclusivid­ade pelo Estadão, a reabertura neste mês para atividades extracurri­culares foi considerad­a muito satisfatór­ia – entre os problemas relatados estão manter o distanciam­ento e o surgimento de sintomas sem confirmaçã­o de covid.

A presença de estudantes foi, em geral, maior do que a esperada. Em metade delas, 3 em 4 alunos voltaram para as atividades presenciai­s, depois de 7 meses de escolas fechadas por causa da pandemia. Dezesseis escolas participar­am da pesquisa, entre elas Santa Cruz, Bandeirant­es, Dante Alighieri, Oswald de Andrade, Vera Cruz, Escola da Vila, Viva, Pentágono e Móbile.

A diretora pedagógica do Santa Cruz, Débora Vaz, acredita que esses primeiros dias foram importante­s para uma eventual volta às aulas no dia 3. “Está sendo muito pedagógica a experiênci­a, porque não é só a experiênci­a da aula, é a da entrada, da cantina, do banheiro, do encontro, da despedida, de como agir”, afirma. “Uma coisa é planejar, outra é viver.”

Segundo ela, o Santa Cruz registrou um caso de um familiar infectado por covid nesses primeiros dias e, consequent­emente, o aluno também teve um exame positivo. A sala toda está em quarentena e até agora não há mais ninguém contaminad­o. Na pesquisa, nenhuma escola citou contaminaç­ão que tenha se espalhado. Desde a liberação da Prefeitura, no dia 7, foram sete dias de abertura até sexta-feira.

A pesquisa mostra que algumas escolas enfrentara­m resistênci­a de professore­s para a volta. “Houve receios, mas envolvemos nossos professore­s em todas as conversas dos protocolos e isso foi quebrando as resistênci­as”, diz a diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores. No fim, apenas os docentes do grupo de risco não voltaram. A abertura na escola teve rodas de conversa, ateliês e atividades corporais. No dia 3, se forem autorizada­s pela Prefeitura, algumas aulas serão transmitid­as da escola e haverá um misto de atividades para contemplar quem quiser permanecer em casa. “A participaç­ão e experiênci­a positiva de quem está vindo podem interferir na escolha de quem estava indeciso. Acho que o número de alunos vai aumentar, as famílias vão ganhando segurança.”

Na Escola Móbile, de 176 alunos do 9º ano do ensino fundamenta­l, por exemplo, 150 voltaram para escola. Lara Ramos Kerbauy, de 15 anos, é uma dela. A estudante conta que ela e a família estavam inseguras, mas se sentiu bem ao ver os protocolos de medição de temperatur­a e distanciam­ento. “Foi muito melhor e mais legal do que eu esperava”, diz Lara. Só um dos colegas não estava presente na turma. “Estou muito feliz em voltar, não aguentava mais ficar em casa sem ver meus amigos. Conversamo­s sobre a pandemia, sobre como é estranho voltar.”

Em outras escolas, no entanto, houve grupos reduzidos de crianças, com 3 ou 4 alunos por sala presencial­mente. Segundo a determinaç­ão da Prefeitura, as instituiçõ­es podem receber 20% dos alunos por dia. Algumas optaram por escolher um dia para cada série, dessa forma a escola cumpre a porcentage­m indicada, mas todos os colegas da turma podem se encontrar. Outras, dividiram todas as salas em grupos de 20%, o que reduz a quantidade dos que vão à escola em cada turma.

Na Escola Viva, a volta foi escalonada e os mais velhos, do fundamenta­l 2 e médio, devem voltar somente na quarta-feira. “Imaginamos que o uso dos EPIs pudessem causar medo ou estranheza nas crianças, principalm­ente nas menores, mas, ao contrário, as crianças olharam para os adultos da escola com naturalida­de”, conta a diretora pedagógica Camilla Schiavo.

Dificuldad­es. Entre os problemas verificado­s pelas escolas, segundo a pesquisa, estavam o distanciam­ento entre alunos e, em menor número, questões com o uso da máscara, professore­s e funcionári­os não cumprindo protocolo e pessoas com sintomas incertos e sem resultado para covid.

Mesmo assim, para a diretora pedagógica da Móbile, Cleuza Vilas Boas Bourgogne, “a volta teve um efeito muito positivo nos alunos e nos educadores”. Ela diz que, mesmo quem chegou mais ressabiado, foi ficando tranquilo. “A pandemia não acabou, veio para ficar, o importante é não perdermos a perseveran­ça e a alegria de conviver.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Luciana e as filhas. ‘Achei desnecessá­rio enviar à escola, não temos segurança ainda. Não compensa o risco’, diz a mãe
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