O Estado de S. Paulo

Arte arrecadou 5 vezes mais que mansão de Edemar Cid Ferreira

Massa falida do Banco Santos obteve R$ 151 milhões com obras; casa do ex-banqueiro saiu por R$ 27 milhões

- / F.S.

Investir em obras de arte é caro, exige tempo, paciência e não é para todo mundo – mas, em alguns casos, pode dar resultado. A grande coleção de arte do exbanqueir­o Edemar Cid Ferreira, do finado Banco Santos, por exemplo, mostrou-se muito valiosa e ajudou a garantir pagamentos a credores da instituiçã­o financeira, que teve a liquidação determinad­a pelo Banco Central em 2013.

Conhecido pelo estilo nababesco e por grandes festas, Edemar Cid Ferreira tinha um patrimônio pessoal que incluía todo o tipo de luxos. O mais evidente era a mansão no bairro do Morumbi, que foi alvo de curiosidad­e e escrutínio desde que ele deixou o imóvel, em 2010. No entanto, as obras de arte que ele angariou ao longo do tempo, e que foram confiscada­s tanto no Brasil quanto no exterior, trouxeram bem mais recursos à massa falida do que a construção gigante com vista para o Jockey Club de São Paulo.

Depois de vários leilões fracassado­s, a casa chegou a ser vendida por menos de R$ 10 milhões, mas a Justiça decidiu refazer o evento quando surgiu um interessad­o de última hora. No início de 2020, o imóvel foi adquirido, por R$ 27 milhões, pelo empresário do ramo educaciona­l Janguiê Diniz. O prédio vai ser transforma­do em uma escola e ajudou a inflar a arrecadaçã­o imobiliári­a da massa falida do Banco Santos para mais de R$ 70 milhões (veja quadro).

No entanto, as duas cifras são pálidas em comparação à arrecadaçã­o com as obras de arte do ex-banqueiro. O total trazido com quadros, esculturas, fotografia­s e esboços de artistas famosos, quando se contam os R$ 25 milhões do mais recente leilão de obras ligadas ao Banco Santos, chega a R$ 151 milhões. É mais do que o dobro do que o angariado com imóveis e mais de cinco vezes o valor de venda da mansão de 4,5 mil m².

Leilão ‘show’. O leiloeiro James Lisboa, responsáve­l pela venda do último grande lote de obras de Edemar Cid Ferreira, resolveu transforma­r um evento em um verdadeiro show. Ele comprou espaços no canal por assinatura Arte 1, que pertence ao Grupo Bandeirant­es, para ampliar o acesso de interessad­os em arte às obras. No fim de setembro, quando as obras mais disputadas foram oferecidas, a transmissã­o durou três horas. O total arrecadado foi mais do que o triplo do inicialmen­te esperado, segundo o leiloeiro.

“Todos os lotes tiveram disputa”, disse Lisboa, lembrando que as três horas foram insuficien­tes. Para cobrir todos os 149 lotes, que incluíram peças de Cildo Meirelles, Tarsila do Amaral e Tunga, ele trabalhou das 20h à 1h da manhã. A obra mais cara da noite – The Founding #6, do americano Frank Stella – foi vendida por R$ 4,2 milhões. Segundo o leiloeiro, o valor só não foi maior porque a peça trazia desafios logísticos. “É um quadro de 4,5 metros por 16 metros. E muita gente teria de fazer reformas para exibi-lo. Porque, no fim das contas, todo mundo que compra quer mostrar.”

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Coleção. Obras de Edemar eram de artistas de renome

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