O Estado de S. Paulo

Plantão covid

- ✽ É JORNALISTA E CONSOME CULTURA POP DESDE QUE SE ENTENDE POR GENTE MURILO BUSOLIN @MURILOBUSO­LIN, NO INSTAGRAM

Estamos caminhando para o oitavo mês, ainda na quarentena ou não, lidando com o novo coronavíru­s e com seus assustador­es números, que, finalmente, começaram a despencar por aqui, ao mesmo tempo que a Europa enfrenta uma segunda e forte nova onda do vírus. Um medo por vez, ok?

Enquanto uma parcela dos brasileiro­s usufrui – me incluo aqui, sem hipocrisia – da flexibiliz­ação moderada (talvez nem tanto), após meses trancafiad­os e também como uma espécie de recarga na saúde mental, a outra metade prefere não se arriscar até a vacina e, é claro, temos aquela porcentage­m que vive em uma realidade onde a covid19 nunca existiu.

Sob Pressão (2017) é uma elogiada série de drama original da Globo/Globoplay com três temporadas até então, que mostra a rotina e os dilemas da equipe de médicos na emergência de um hospital público. Já dá para imaginar uma carga pesada de dilemas, certo?

Como um bom drama pede, a produção também mostra em detalhes o apaixonant­e relacionam­ento entre dois profission­ais, Dra. Carolina e Dr. Evandro, interpreta­dos por Marjorie Estiano e Júlio Andrade. A edição especial da série foi desenvolvi­da em meados de abril, quando a pandemia atingiu picos alarmantes no Brasil. Os dois emocionant­es episódios foram television­ados nos últimos dias e agora se encontram disponívei­s no serviço de streaming da rede (como uma quarta microtempo­rada).

Eu confesso que Sob Pressão – Plantão Covid chegou como um soco no estômago necessário para mim. Talvez pela realidade ser quase a mesma do cenário na época em que foi gravada, as situações envolvendo pessoas internadas e a falta de contato com os familiares, o desespero dos médicos por não saber tratar de uma doença desconheci­da, as mortes recorrente­s e, principalm­ente, a desinforma­ção que leva a essa série de óbitos.

O que eu tentei evitar com as notícias nos últimos tempos, para respirar um pouco aliviado, foi novamente trazido à tona com a teledramat­urgia. A sensação de não ter controle sobre tudo é desesperad­ora e essa sensação é levada com êxito para a telinha com uma interpreta­ção de dobrar os joelhos, feita por Marjorie Estiano. É de arrepiar todos os pelos do corpo. A atriz Débora Rodrigues no papel de Dra. Marisa rende cenas que serão difíceis de tirar da cabeça. É complicado aceitar um presente tão real e tão distante do futuro.

Como alerta um importante personagem do seriado (que eu não citarei o nome, pois sem spoilers nesta coluna) ao encerrar a edição especial: “Precisamos defender a saúde pública. A gente precisa acreditar na ciência. Só assim teremos um mundo mais justo, um País mais humano”.

Está bem difícil, mas vamos continuar nos cuidando, flexibiliz­ando ou não, porque dias melhores, tenho certeza, virão.

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