O Estado de S. Paulo

Sem lousa, mas com ensino híbrido

Mesmo colégios adeptos de recursos tecnológic­os acreditam na mistura de ambiente virtual com itens físicos como livros

- L.A.

A entrada das escolas no mundo virtual tem mostrado que três objetos clássicos das instituiçõ­es de ensino – lousa, livro e caderno de papel – podem ser substituíd­os pelos similares na versão digital, sobretudo com alunos a partir do 6.º ano. Nenhuma escola aboliu por completo esses objetos, e instituiçõ­es que já vinham investindo pesado no meio digital salientam que a educação de hoje, assim como nos próximos anos, é híbrida.

Nos colégios da vanguarda tecnológic­a, o antigo quadro negro foi o primeiro a cair em desuso. “Não usamos mais quadros tradiciona­is, e o som estridente do giz só é lembrado por alguns de nossos funcionári­os mais velhos”, afirma Titus Edge, headmaster da St. Paul’s School. As salas de aula têm quadros brancos interativo­s que podem ser usados para escrever e exibir o conteúdo de um dispositiv­o.

Edge destaca, contudo, que as tecnologia­s não são o mais importante da escola. “Eu preferiria ter um professor experiente, inventivo e carismátic­o, munido de apenas um pedaço de giz e um quadro, do que alguém com acesso a toda a tecnologia do mundo, mas sem o talento”, afirma.

Na St. Paul’s, os cadernos e os livros impressos ainda mantêm seu reinado inabalável. Mas, em outras escolas, até esses começam a perder espaço. Aluno do 2.º ano do ensino médio do Colégio Bandeirant­es, Marcelo Vampré, de 16 anos, já não usa cadernos há quatro anos. “Quando preciso anotar alguma coisa, se tenho que resolver um exercício de Matemática, Química ou Física, uso o tablet como se fosse uma folha de papel”, conta o estudante. “Acho até melhor o tablet, porque você pode apagar, colocar cores diferentes.”

A adoção massiva de novas tecnologia­s no Bandeirant­es vem de muito antes de as aulas

se tornarem remotas por causa da pandemia. Em 2014, um dispositiv­o móvel passou a fazer parte da lista de materiais obrigatóri­os da escola. Os alunos escolhem se usam livros em papel ou digitais. Já havia um estúdio para gravação de aulas na instituiçã­o, e as lições de casa eram passadas por uma plataforma online. Todos os avisos para os pais chegavam por um aplicativo.

Combinação. “Temos uma cultura digital muito forte. Ainda assim, a escola é um lugar de encontro de pessoas, de conversas olho no olho”, afirma Emerson Bento Pereira, diretor de tecnologia educaciona­l do colégio. O dia a dia dentro da instituiçã­o é, de fato, híbrido. Estudantes usam às vezes livros impressos, em outras digitais. A maioria ainda adota cadernos, mas Pereira notou que desde o ano passado cresceu o número de estudantes que preferem os tablets com caneta.

No Porto Seguro, o dispositiv­o móvel entrou para a lista de materiais obrigatóri­os neste

ano, para o fundamenta­l 2 e médio. “Nossa passagem para o ensino remoto acabou sendo mais tranquila porque todos já tinham equipament­os próprios, sem precisar dividir”, afirma Iara Bertolani, diretora do Fundamenta­l 2 do colégio.

Os mundos analógico e digital continuam convivendo. “Não consigo enxergar a educação sem o uso da tecnologia, mas eles leem Machado de Assis com o livro físico, ao menos a maior parte deles”, relata Iara. Rafael Goes da Cunha, de 14 anos, no 9.º ano do Porto Seguro, vive essa rotina mista sem problemas. “Tenho um caderno de anotações, mas prefiro entregar trabalhos digitais. Para ler, tanto faz o livro em papel quanto o tablet.” /

{{ Preferiria ter um professor inventivo munido só de giz e quadro, do que com tecnologia, mas sem talento Titus Edge headmaster da St. Paul’s School

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Escolha. Marcelo, do Colégio Bandeirant­es, não tem caderno há quatro anos; ele usa o tablet como caderno para exercícios de Exatas
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ANA GOES Trabalhos. No Porto Seguro, o aluno Rafael prefere fazer digitalmen­te

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