Trabalho em equipe sai valorizado da pandemia
Ações colaborativas entre docentes passam exemplo aos estudantes e ampliam a chance de experiências positivas
“Não existe professor isolado. Ou não deveria existir. Quando há um senso de equipe, eles se apoiam e todos ficam fortalecidos”, diz Márcia Padilha, pesquisadora e formadora em educação e inovação. Para além de motivação e ânimo, equipes bem integradas permitem que o aluno seja acompanhado de forma holística. O professor conhece a evolução dele ano a ano, assim como o desempenho em outras disciplinas.
O trabalho colaborativo dos funcionários de uma escola traz vantagens porque mostra um modelo para inspirar os alunos, assim como multiplica o número de experiências e, com elas, as chances de sucesso, explica Márcia. “Ensinar-educar é complexo. A gente educa sobretudo pelo exemplo. É complicado uma escola que não sabia trabalhar em equipe ensinar seus alunos a trabalhar em equipe.”
Mesmo colégios que tradicionalmente preparam para vestibulares estão mudando sua cultura, passando a valorizar habilidades socioemocionais. Isso não apenas por ser uma exigência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que orienta a educação básica brasileira desde 2018, mas porque é uma exigência atual. “A gente fala tanto em indústria 4.0, em colaboração, diversidade. É uma tendência no mundo corporativo, que é onde muitos pais costumam projetar o futuro profissional dos filhos.”
E, em grupo, é de fato mais fácil encontrar boas respostas para problemas. “Agora na pandemia, por exemplo, os professores que tinham mais facilidade com tecnologias, mais repertório para uso delas na educação, puderam ajudar os que tinham menos. Se a minha escola trabalha em colaboração, a curva de aprendizagem é mais rápida, porque cada um experimenta uma coisa e acaba virando um conhecimento coletivo da equipe”, diz Márcia.
Segundo ela, os pais que procuram um colégio devem tentar perceber se a equipe docente tem boa relação com os gestores, se há suporte por parte de coordenadores. “Podem pesquisar se há muita troca de professores, buscar perceber o clima, como são as relações. Eu evitaria locais em que os professores são muito isolados, ou muito competitivos”.
Balanço. Trabalhando com monitoria para 15 escolas públicas na pandemia, Márcia acredita que faltou aos colégios de elite um olhar para uma equipe mais ampla, a que trabalha pela educação de forma geral. “Poderiam ter tido uma postura um pouco mais solidária, não apenas em ações isoladas, mas problematizando e propiciando que os estudantes desenvolvessem ações de solidariedade e transformação social via tecnologias. De modo geral, pecamos um pouco tentando manter uma normalidade um pouco forçada em um cenário difícil.”
Na visão da educadora, a escola é o lugar da sociedade. “Deve criar possibilidades de transformações positivas. A gente vai para a escola para aprender sobre nossas cultura e tradições, mas também para transformar.”