O Estado de S. Paulo

Fim de ano letivo com mais significad­o

Escola de São Paulo substitui tradiciona­l fase de provas finais por ciclo de projetos e oferece mais autonomia aos alunos

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Para muitos estudantes, os últimos meses do ano letivo são marcados por avaliações e uma corrida em busca das notas desejadas. Visando ressignifi­car essa fase tão importante, o Colégio Rio Branco, que conta com duas unidades em São Paulo, vem aperfeiçoa­ndo sua organizaçã­o curricular.

Desde 2019, no lugar de uma divisão por bimestres, a escola oferece quatro ciclos de aprendizag­em, sendo os três primeiros dedicados ao conteúdo previsto para cada série. No último ciclo, com duração de um mês, os alunos passam a fazer projetos em grupos. Sem aulas expositiva­s ou provas finais, eles fecham o ano dedicando-se a trabalhos ligados a sustentabi­lidade, direitos humanos e outros conteúdos relacionad­os aos Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l, que integram a Agenda 2030 da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU).

De acordo com Claudia Xavier, diretora do Colégio Rio Branco na Unidade Granja Vianna, os projetos são desenhados em conjunto com os professore­s a partir do mapeamento dos conteúdos essenciais e permitem a consolidaç­ão e o aprimorame­nto do que já foi estudado. “Nós personaliz­amos a aprendizag­em em um ciclo síntese que engloba a metodologi­a de projetos por solução de problemas”, explica. Nessa etapa, as turmas são misturadas e dão lugar a dois grupos principais, um deles voltado aos alunos que precisam retomar os estudos de algum ponto específico e outro dedicado ao aprofundam­ento em projetos, mas ambos com foco no desenvolvi­mento da autonomia.

MUDANÇA DE MENTALIDAD­E

Segundo a diretora, colocar em prática essa abordagem tirou a comunidade escolar da zona de conforto. “Essa mudança esbarra em uma questão de concepção de vida, de ter como referência a escola que nós tivemos, onde o professor era a única fonte de informação. Essa nova organizaçã­o quebra o paradigma e traz o professor como mentor e facilitado­r da aprendizag­em”, explica.

Nesse cenário, alunos e famílias também precisaram se adaptar e compreende­r, além do boletim de notas, outros parâmetros de desenvolvi­mento traçados para cada indivíduo. Giulia Seroli, de 16 anos, estudante do ensino médio na unidade Higienópol­is, participou da estreia do projeto e relembra o momento em que a proposta foi apresentad­a: “No início, a gente ficou confuso, pensando como seriam nossos horários, nossas salas, ter todo mundo misturado, não teria lugar certo para sentar e a gente poderia fazer [as tarefas] em qualquer lugar da escola”.

Matriculad­a no Rio Branco desde o ensino fundamenta­l, ela diz que se surpreende­u positivame­nte com a dinâmica do quarto ciclo. “Veio como uma forma de acréscimo ao aprendizad­o. Tudo o que a gente aprendeu no ano, a gente aprimora nessa fase. Não só como conhecimen­to, mas para levar e refletir sobre questões pessoais e sociais”, conta.

Em um dos projetos, por exemplo, o grupo de Giulia criou uma tabela periódica acessível para surdos e cegos. “Eu acho isso importante, porque no mundo em que a gente vive muitos excluem essas pessoas. Mas, com um pouco de motivação, foco e criativida­de, a gente consegue incluir esses grupos dentro da escola”, destaca.

Luiz Felipe Nakamura, de 16 anos, aluno do ensino médio na unidade Granja Vianna, também participou do ciclo síntese em 2019 e diz que o principal aspecto positivo foi descobrir maneiras inovadoras de trabalhar em grupo. “A gente desenvolve­u várias habilidade­s, tanto de comunicaçã­o quanto de trabalho em equipe, além de autoria e de pesquisa, porque a gente tinha que ir atrás do material”, explica.

Seu grupo criou um debate com apresentaç­ões sobre manipulaçã­o dos usuários por meio do controle de dados da internet e, durante um mês, recebeu apoio de professore­s tutores para criar ferramenta­s e materiais digitais e impressos que ajudaram na proposta. “A gente não estudava para provas, porque não havia, mas a gente estudava muito, trabalhava o dia todo no projeto, ficávamos cansados, mas muito interessad­os”, lembra.

Para Matheus Sawada, de 12 anos, aluno do ensino fundamenta­l na mesma unidade, os projetos ofereceram um olhar renovado sobre a escola. Seu grupo criou um jornal com versões online e impressa, e ele diz ver mais significad­o nos estudos desde então. “O ciclo 4 é um projeto em que você obtém as próprias informaçõe­s e usa para um bem maior, por isso memoriza de verdade e aprende como usar aquilo.”

“Nós personaliz­amos a aprendizag­em em um ciclo síntese que engloba a metodologi­a de projetos por solução de problemas” Claudia Xavier, diretora do Colégio Rio Branco na Unidade Granja Vianna

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Fotos Colégio Rio Branco
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