O Estado de S. Paulo

Cuidado com saúde vira o pré-requisito

Volta às aulas presenciai­s inclui diversas medidas de precaução contra a contaminaç­ão por covid-19 e um plano de ação em caso de contágio

- Luciana Alvarez

Após quase sete meses de escolas fechadas, todo cuidado parece pouco na reabertura: número de estudantes reduzido, distância obrigatóri­a entre quem estiver presente, máscaras usadas o tempo todo, rigor na limpeza dos espaços e na lavagem das mãos. Ninguém pode dizer com certeza quanto tempo essas precauções vão permanecer no espaço escolar. Mas, de algumas formas, a pandemia deve alterar definitiva­mente o jeito de as instituiçõ­es de ensino lidarem com questões de saúde daqui para a frente.

O Colégio Miguel de Cervantes reabriu as portas com uma novidade antes impensável para uma escola: salas de isolamento. São espaços na enfermaria destinada a estudantes e funcionári­os que apresentem sintomas de covid-19 enquanto estiverem na instituiçã­o. “Antes da pandemia, tínhamos começado uma reforma na escola. Aproveitam­os para ampliar a enfermaria, que agora tem duas salas de isolamento”, conta a diretorage­ral da instituiçã­o, Lourdes Ballestero­s. Assegurar um espaço para isolamento, trabalhand­o com a comunidade escolar para evitar estigmas, está entre as recomendaç­ões do Fundo de Emergência Internacio­nal das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para a retomada das aulas presenciai­s (mais informaçõe­s nesta página).

A escola tem uma parceria com o Hospital Albert Einstein, que pode ser renovada indefinida­mente. De março até setembro, o colégio recebeu 300 crianças, filhos de funcionári­os do hospital, que não puderam parar de trabalhar durante a pandemia. “Acolhemos os filhos dos trabalhado­res e isso nos serviu de aprendizad­o”, relata a diretora. No momento, é o hospital que ajuda no esforço de orientar os estudantes e as famílias do Cervantes sobre os novos protocolos escolares. “Temos três pilares: limpeza, distanciam­ento e uso de máscara. Fazemos ainda a conscienti­zação de que todo mundo tem de preencher um check-list de sintomas antes de entrar.”

Participaç­ão. A mudança na escolas para garantir a saúde depende muito mais de uma equipe engajada do que de equipament­os e produtos, acredita Vitor

Pugliese, coordenado­r de relações institucio­nais do grupo Saea, mantenedor dos colégios Agostinian­o Mendel e São José, além de quatro creches gratuitas. Ele cita, por exemplo, que todos os profission­ais que lidam com a primeira infância tiveram de aprender novos protocolos para trocar fraldas de forma segura. “As mudanças de estrutura em si foram muito simples. Cabe a professore­s e funcionári­os garantir o distanciam­ento social, cuidar para que as crianças não compartilh­em materiais. E tratar tudo de forma tranquila, lúdica. Os pais têm de confiar, e a criança tem de se sentir bem na escola”, afirma.

A comunicaçã­o dos protocolos a todos os públicos se tornou, portanto, uma das principais armas para manter a saúde. Para as crianças que estudam na rede, as regras foram transforma­das em historinha de um

gibi. “O protocolo começa na casa dos estudantes, com o checklist de saúde diário. Portanto, todos têm de saber o que está

sendo feito na escola, entender o porquê. Isso deve promover uma mudança de cultura. Depois que estivermos de volta no nosso dia a dia escolar, coisas como a forma de higienizar as mãos devem se manter, e evitar até outras doenças”, diz.

As medidas apresentad­as pelas instituiçõ­es de ensino têm se mostrado muito semelhante­s, avalia Gustavo Laranja, gestor do Colégio Augusto Laranja. “As ações básicas não são segredo”, diz ele. Assim, envolver as famílias tem sido um dos cuidados da instituiçã­o para que a prevenção seja mais efetiva. “A escola tem um papel didático também na relação com os pais. Eles devem saber que tipo de materiais mandar, devem respeitar seus horários para evitar aglomeraçã­o. A ideia é que entendam qual é seu papel no espaço coletivo, para que o modelo proposto funcione”, diz o gestor.

Separação. Além de incorporar máscaras, álcool em gel e termômetro­s na rotina, nos próximos meses as escolas devem dividir alunos e equipe em subgrupos – muitas vezes chamados de “bolhas” – para exercer um controle exato de quem entrou em contato com quem. Se alguém for diagnostic­ado com covid-19, é possível rastrear rapidament­e todos os que estiveram próximos. Na prática, significa que alguns espaços de uso coletivo, como laboratóri­os, ateliês e salas de música, podem ser temporaria­mente desativado­s – ou passar por limpeza rigorosa cada vez que receber um subgrupo diferente.

Neste momento, ninguém sabe ao certo o quanto as limitações de circulação vão durar. “Só mesmo com a vacina para a gente ter uma segurança um pouco maior. Até lá, sempre que recebemos famílias interessad­as na escola, passamos por uma fase na entrevista só falando da saúde física e emocional”, afirma Laranja.

Para Anarita Buffe, diretora de desenvolvi­mento de projetos do Einstein, é importante que ações de prevenção se mantenham de forma definitiva. “Ainda que tenha sido decretado o fim da pandemia, será que a gente vai voltar como a gente era? Tem cuidados básicos relativos a higiene, a oferecer espaços adequados, que são simples. Espero que a gente, como sociedade, não esqueça.”

{{ Até ter vacina, sempre que vier famílias novas à escola, falaremos bem na entrevista sobre saúde física e emocional Gustavo Laranja

gestor do Colégio Augusto Laranja

 ?? COLÉGIO MIGUEL DE CERVANTES ?? Espaço. Como a estrutura física teria de passar por reforma, Cervantes aproveitou para fazer em sua enfermaria duas salas de isolamento para quem apresentar sintomas da doença
COLÉGIO MIGUEL DE CERVANTES Espaço. Como a estrutura física teria de passar por reforma, Cervantes aproveitou para fazer em sua enfermaria duas salas de isolamento para quem apresentar sintomas da doença
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JOÃO CARLOS GONÇALVES Cultura. Trabalho vem sendo feito com todos no Agostinian­o Mendel
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Augusto Laranja vai fechar laboratóri­o
AMANDA DOIMAN Sem uso. Augusto Laranja vai fechar laboratóri­o

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