Aprender empreendedorismo pelo bem do planeta
Tema deve ser abordado, mas para estudantes pensarem em aproveitar melhor os recursos ambientais e sociais
Em março, quando a pandemia parou o comércio, dona Teresa Ragusa precisou fechar as portas da loja de roupas que mantém em um shopping de São Paulo. Quando Maria Clara Ragusa Marcicano soube que o faturamento da avó iria cair, não hesitou. A adolescente de 14 anos usou o que aprendeu nas aulas de empreendedorismo no colégio para reinventar a forma de a empresa se comunicar com clientes. A principal ação foi mudar o Instagram, com hashtags para promoção de fotos, mais postagens e um padrão de cores para o feed. Com isso, aumentou o número de visualizações e, claro, as compras online.
“É um caso que exemplifica como nossos alunos são protagonistas e põem em prática não só os conceitos de empreendedorismo, como os conteúdos que complementam esse aprendizado, como empatia e resolução de problemas”, diz Juliana Ragusa, coordenadora de Tecnologia Educacional da Escola Internacional de Alphaville.
Lá, os alunos de 1.º e 2.º anos do ensino médio cursam a disciplina Empreendedorismo e Escolhas de Vida. Apoiados em tecnologias inovadoras, são instigados a criar modelos de negócio com base no desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais. “Estudamos cases de sucesso e analisamos as causas de fracasso de startups. Mas, acima de tudo, fazemos uma discussão crítica sobre novas tecnologias e tendências, ponderamos as implicações éticas do uso de inteligência artificial, por exemplo”, afirma Juliana.
Ana Carolina de Lima Silva, do 1.º ano do médio, aplicou o que aprendeu para criar a Janelas para o Futuro, plataforma para ensinar inglês a alunos atendidos por um projeto social do colégio. E o engajamento se reflete no visual: ela costura roupas com plástico reciclado.
Sentido. Abordar empreendedorismo não é mais opcional. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é um dos eixos que deve orientar os itinerários formativos dos alunos do ensino médio. Não numa perspectiva de abrir o próprio negócio, mas em uma visão que considere o aproveitamento dos recursos ambientais e sociais do planeta na gestão dos empreendimentos.
“Aqui ninguém aprende a fazer tortinha para vender. Nosso propósito é criar produtos para reduzir o descarte dos resíduos sólidos. Não é só sustentabilidade, mas economia circular, que tem a ver com prolongar o tempo de vida de um determinado objeto”, afirma Márcia Sakay, coordenadora dos projetos de empreendedorismo do Centro Educacional Pioneiro.
Dos 5 Erres da Sustentabilidade – Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar –, os projetos da instituição centram foco na reutilização. Entretanto, naquela que cria inovação. “Não é pegar a garrafa PET e fazer virar um carrinho que não anda. Mas é pegar a PET, refilar e, a partir daí, fazer o que quiser”, acrescenta Márcia.
O que os alunos em assembleia decidiram fazer foi almofada para pets com garrafa pet. Como pano de fundo, o crescimento do segmento voltado aos animais domésticos. As garrafas refiladas viraram o recheio da almofada e a capa foi feita com forro externo de guarda-chuva quebrado, material impermeável.
As ideias são sempre apresentadas em formato de pitch – termo próprio do mercado empreendedor, que designa uma apresentação rápida de um produto novo para angariar investidores. Há uma banca avaliadora, que inclui um designer, alguém da academia e um profissional de ONG ou empresa ligada à sustentabilidade.