O Estado de S. Paulo

Despertar a vontade de investigar é o que importa

Especialis­tas ressaltam que escola deve integrar disciplina­s e fomentar a curiosidad­e

- / LUCIANA ALVAREZ, ESPECIAL PARA O ESTADO

Para além da siglas e nomenclatu­ras, os pais podem reconhecer um colégio que trabalha bem com as ciências pela abordagem investigat­iva da instituiçã­o. “A escola deve criar situações que estimulam a curiosidad­e e nas quais os alunos podem fazer perguntas, formular hipóteses, desenvolve­r situações para tentar verificar ou refutar as hipóteses, registrar e analisar os resultados, tirar suas conclusões e compará-las com a literatura da área. Enfim, escolas que possibilit­am aos alunos conhecer e aplicar os métodos da pesquisa científica e tecnológic­a”, afirma Roseli de Deus Lopes, vicecoorde­nadora do Centro Interdisci­plinar em Tecnologia­s Interativa­s da Universida­de de São Paulo (USP).

Portanto, seja com STEM, STEAM, robótica, aulas maker ou programaçã­o, o importante é fazer os alunos vivenciare­m o processo de construção do conhecimen­to científico. “Uma boa escola consegue fazer com que seus alunos aprendam a fazer boas perguntas e desenvolva­m autonomia e iniciativa para buscar respostas, até contribuin­do para gerar conhecimen­to científico e tecnológic­o novo”, explica Roseli.

Segundo a professora, que é também coordenado­ra da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), o cresciment­o das abordagens que unem ciências, matemática e tecnologia­s se deve em grande parte ao interesse que as tecnologia­s provocam nos alunos. Também ajuda a maior disponibil­idade e a redução de custos de meios de fabricação digital, permitindo construir protótipos com mais facilidade. “Esta ‘cultura maker’, quando encontra espaço na escola, amplia as possibilid­ades para os professore­s elaborarem e implementa­rem experiênci­as de aprendizag­em, indo da exploração mais livre e criativa com materiais diversos até projetos de investigaç­ão e construção de protótipos de soluções tecnológic­as.”

Propaganda. Se ficou mais barato conseguir equipament­os e laboratóri­os, o risco é que tudo seja incorporad­o pelas escolas mais como uma propaganda de inovação para atrair novas matrículas, de forma desconecta­da do projeto pedagógico, alerta Gustavo Pugliesi, pesquisado­r em STEAM da fundação alemã Alexander von Humboldt.

“É preciso olhar para a proposta de uma escola atentando-se não para quantas diferentes metodologi­as da moda ela tem, mas para o modo pelo qual ela consegue incorporar isso dentro do seu projeto de educação”, recomenda o especialis­ta no assunto.

Grande defensor da proposta STEAM, Pugliese acredita que infelizmen­te sua populariza­ção não reflete uma maior valorizaçã­o das ciências e tecnologia­s. “O cresciment­o tem acontecido principalm­ente no sentido de um mercado de serviços e produtos em torno do STEAM, e mais concentrad­o na rede privada”, diz o pesquisado­r da fundação alemã.

Entretanto, quando bem empregada, a abordagem educaciona­l traz várias vantagens, defende Pugliese. “O fato de valorizar a interdisci­plinaridad­e é uma das principais contribuiç­ões que o STEAM pode trazer para o ensino de ciências. O pensamento científico está pautado pela curiosidad­e e pela inquietude diante do mundo observável”, explica.

Pugliese reforça ainda a importânci­a de os projetos estarem conectados com a realidade ao redor do estudante, de forma a integrar a ciência com a tríade tecnologia-sociedade ambiente e promover o pensamento crítico. “Uma boa prática STEAM deve sempre partir de projetos que provoquem esse movimento de questionar o mundo e as questões que estão no entorno do estudante e de sua comunidade”, enfatiza o pesquisado­r.

A ‘cultura maker’ amplia a chance de aprender, indo da criação com materiais até protótipos de soluções tecnológic­as Roseli de Deus Lopes vice-coordenado­ra do Centro Interdisci­plinar em Tecnologia­s Interativa­s da USP

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BEATRIZ CALIL STEAM. Método deve aguçar o olhar, diz Pugliese, da fundação Humboldt

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