Marcha homenageia em Paris professor decapitado
Governo decide expulsar 231 radicais islâmicos e promete endurecer as regras para concessão de asilo no país
Milhares de pessoas se manifestaram na França ontem para homenagear o professor Samuel Paty, que foi decapitado na sexta-feira por ter mostrado aos seus alunos charges do profeta Maomé, em uma aula sobre liberdade de expressão. O ataque chocou o país e o governo decidiu ontem que vai expulsar 231 radicais – 180 estão presos e outros 51 estão sendo procurados.
Em Paris, os manifestantes se reuniram na emblemática Praça da República, epicentro da grande marcha, em 11 de janeiro de 2015, após os ataques extremistas contra o semanário satírico Charlie Hebdo e um supermercado de produtos kosher. Os manifestantes homenagearam Paty com faixas com frases como “Eu sou um professor”, “Não ao totalitarismo de pensamento” e “Liberdade de expressão, liberdade para ensinar”.
Homenagens também ocorreram em outras grandes cidades francesas, como Lille (Norte), Lyon (Leste) e Nice (Sudeste).
Vários líderes dos principais partidos políticos estiveram presentes: o primeiro-ministro Jean Castex, a prefeita socialista da capital, Anne Hidalgo, a presidente de direita da região parisiense, Valérie Pécresse, e o líder da esquerda radical, Jean-luc Mélenchon. Ex-chefe de Estado, o socialista François Hollande também participou da manifestação.
“Não temos medo. Não temos medo. Eles não vão nos dividir. Nós somos a França!”, escreveu o premiê Castex em um tuíte com imagens do evento.
Alguns dos presentes carregavam faixas com charges de Maomé publicadas pelo Charlie Hebdo. Eles também entoavam o hino nacional francês.
Após uma reunião ontem à noite entre o Conselho de Defesa e o presidente Emmanuel Macron, o governo decidiu expulsar 231 “radicalizados”. De acordo com a rádio Europa 1, o Ministério do Interior vai, a partir de agora, implantar medidas mais restritivas para aceitar requerentes de asilo. O governo estuda ainda uma forma de controlar conteúdo de extremistas nas redes sociais.
Na tarde de sexta-feira, Paty, um professor e pai de família de 47 anos, foi decapitado próximo à escola em que lecionava história e geografia, em um bairro tranquilo de Conflans Sainte-honorine, a 50 quilômetros de Paris. O agressor, um checheno de 18 anos, foi morto pela polícia logo após o crime.
O assassinato abalou o país, três semanas depois de um ataque islâmico, no qual um paquistanês feriu duas pessoas com uma faca em frente às antigas instalações do semanário Charlie Hebdo, alvo de um ataque a tiros que deixou 12 mortos, em 2015. O julgamento dos radicais islâmicos acusados do massacre ocorria no momento em que as duas vítimas foram atacadas.
No total, 11 pessoas foram detidas desde sexta-feira, entre elas os pais, o avô e o irmão mais novo do agressor. Segundo informações não oficiais, um dos preso teria uma filha matriculada na escola de Paty e gravou um vídeo em que incitava radicais a se manifestar contra o professor. De acordo com a polícia, o extremista islâmico acusado do crime perguntou aos alunos quem era o docente antes de atacá-lo. Iniciada em 2015, a onda de ataques extremistas na França já registra 259 mortes.
Na quarta-feira, de acordo com o Palácio do Eliseu, será feita uma homenagem nacional com participação da família do professor assassinado.
“Não temos medo. Eles não vão nos dividir”
Jean Castex
PRIMEIRO-MINISTRO DA FRANÇA