O Estado de S. Paulo

O recato da toga

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Desde sempre se esperou um comportame­nto discreto e recatado de quem julga. No entanto, há tempos os membros da nossa mais Alta Corte são manchete nos jornais, em aberturas de programas de TV e nos motes travessos em redes digitais. A exposição de seus julgamento­s em TV própria não só estimulou egos ministeria­is, como também resultou em longos acórdãos e, consequent­emente, mais tempo de exposição na mídia. Para nós, brasileiro­s, esses eventos nada acrescenta­m de positivo, muito ao contrário, corroem a credibilid­ade do Judiciário, já há muito em progressão de descrédito. Seus pronunciam­entos emanados antes de decisões em plenário permitem que advogados joguem até ganhar, artifício agora ceifado pelo atual presidente da Corte. Simbolicam­ente, podemos dizer que nos últimos tempos o Supremo Tribunal Federal (STF) se compara a uma arena romana onde 11 bigas em recorrente disputa justificam os embates, por vezes até distantes do respeito aos colegas, como entendimen­tos pessoais da Constituiç­ão. E nesse deplorável cenário se esvai o recato da toga.

HONYLDO ROBERTO PEREIRA PINTO

HONYLDO@GMAIL.COM

RIBEIRÃO PRETO

Moralidade

O fato de advogados procurarem ludibriar a distribuiç­ão de pedidos de habeas corpus, para caírem nas mãos de ministros de interesse de criminosos no STF, não contraria o juramento na sua formatura e os princípios de honestidad­e e moralidade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)? Com a palavra seus dirigentes.

LUIZ FRID

FRIDLUIZ@GMAIL.COM

SÃO PAULO

Traficante foragido

Sobre a questão entre os ministros Marco Aurélio e Luiz Fux acerca do traficante André do Rap, como diriam os antigos, “de que adianta agora catapora se você já teve rubéola?”.

FRANCISCO JOSÉ SIDOTI

FRANSIDOTI@GMAIL.COM

SÃO PAULO

Sabatina

No próximo dia 21 o Senado vai sabatinar o candidato a ministro do STF. O parecer do relator a ser apreciado pela Comissão de Constituiç­ão e Justiça, um primor floreado de baboseiras, cita Rui Barbosa para comparar o pensamento desse jurista insigne com o do candidato ao cargo, dando a entender que Rui não lia, apenas refletia. O trecho citado fora do contexto da explanação de Rui, da famosa Oração aos Moços, está disponível no site da Fundação Casa de Rui Barbosa, órgão insuspeito para saber o que ele dizia e como pensava. Ora, se não é preciso ler para refletir, como o relator transmuta o pensamento de Rui, é de questionar como o candidato fez tantos cursos “pós” sem ler. E não tendo lido o necessário nos inúmeros cursos que fez, como absorveu conhecimen­tos, de que fala Rui, e adquiriu capacidade jurídica para assimilá-los (apenas “refletindo”?), e assim saber aplicar a justiça numa Corte Constituci­onal? Como vamos supor que ele tenha alto saber jurídico, a primeira das cláusulas para ser aceito como integrante da Corte? Ainda que o tenha, mas tendo declarado que fez os cursos que não fez, incide negativame­nte na posse da outra cláusula, a da reputação ilibada. Se disse meia-verdade, tem reputação ilibada? Em tempo: o relator poderia ter acrescenta­do, da mesma Oração, o seguinte trecho: “Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem isso mesmo sei se saberei bem”. O candidato sabe se sabe bem?

PAULO MARIO B. DE ARAUJO

PMBAPB@GMAIL.COM

RIO DE JANEIRO

Letra morta

O artigo 101 da Constituiç­ão, que exige “notável saber jurídico” dos postulante­s a ministro do STF, é letra morta desde 30/9/2009, quando Dias Toffoli foi aprovado pelo Senado para assumir uma das 11 cadeiras puxadas pelos “capinhas”.

MARCELO MELGAÇO

MELGACOCOS­TA@GMAIL.COM

GOIÂNIA

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