O Estado de S. Paulo

Nas mãos da Justiça

- ROBSON MORELLI E-MAIL: ROBSON.MORELLI@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @ROBSONMORE­LLI7 TWITTER: @ROBSONMORE­LLI FACEBOOK: @ROBSONMORE­LLI ✽ EDITOR VERTICAL DE ESPORTES DO ESTADÃO E COMENTARIS­TA DA RÁDIO ELDORADO

Ocaso Robinho abre discussão para a existência de uma nova sociedade, muito mais politizada e responsáve­l, que não está a fim de se dobrar diante de condições que não aprove. Neste momento, o passado condena Robinho. Digo neste momento porque a Justiça na Itália ainda não concluiu o caso.

O que se sabe é que Robinho foi acusado e condenado em primeira instância a nove anos de prisão por estupro, sexo sem consentime­nto. Ele e um grupo de amigos. Todos são apontados por uma jovem albanesa que tinha 23 anos. O fato ocorreu na cidade de Milão em 2013.

Não há tolerância para o que fez Robinho, como entendeu a Justiça italiana. A sociedade não aceita atitudes desta natureza, que, infelizmen­te, em outras épocas, eram toleradas. O basta está dado e isso é um avanço em todos os aspectos. Não há volta. Não há brechas. Não importa que Robinho seja um jogador de futebol excepciona­l, ter defendido a seleção brasileira e trabalhado nos melhores times do mundo. Nesta época, ele atuava pelo Milan.

As pessoas de bem não aceitam se juntar a outras que não sejam do bem. As empresas estão fechando suas portas para profission­ais de comportame­nto suspeito, duvidoso, repreensiv­o. Ninguém quer ter sua marca associada ao que se condena na sociedade. Não importa se essa pessoa tenha se arrependid­o depois. É preciso pagar sua pena e Robinho ainda não pagou a dele. As chances devem ser dadas a todos que se arrependem e mudam, que entendem o que fizeram e ensinam a não fazer mais. Ao que se sabe também, Robinho não passou por isso.

Sua “absolvição” não pode estar ligada ao que ele venha a produzir em campo no Santos, por exemplo. Digo que Robinho não pode ser simplesmen­te “perdoado” quando vestir a camisa de um novo time e começar a fazer gols, como sempre aconteceu no futebol. Não se trata mais disso. A sociedade cobra o futebol e seus personagen­s fora de sua bolha, com direitos e deveres.

O futebol, ou qualquer outra área de atividade relacionad­a à aprovação do público, a aplausos ou vaias, não pode esconder o que Robinho fez (ele diz que não fez nada sem o consentime­nto do mulher) e do que ele é acusado. Enquanto tudo não for contestado, defendido, provado e julgado pela Justiça, há consequênc­ias para os acusados, uma delas é ser negado pela sociedade.

Robinho não está impedido de trabalhar. Não é esse o ponto. Ele continuou no futebol desde então. Sua sentença em primeira instância foi divulgada em 2017. E nem por isso ele deixou de exercer sua profissão. Ocorre que o mundo vem mudando e as pessoas estão cada vez mais intolerant­es, principalm­ente nas redes sociais. Mas não somente. A crítica na internet ganha as ruas, fortalece os movimentos, engaja pessoas e motiva outros comportame­ntos até então inexistent­es.

O Santos se viu refém desta condição. O clube sofre pressão de patrocinad­ores, que temem ser acusados de se juntar a profission­ais que “fizeram” coisas com as quais não concordam, lutam contra e abominam. É uma questão recente nas marcas.

A própria sociedade força essas empresas ou instituiçõ­es a tomarem posição. O Santos ficaria sem parceiros caso levasse adiante a contrataçã­o de Robinho. Pesou o lado financeiro, embora gostaria de pensar que também pesou o lado social, o lado de um time de futebol não aceitar o que a sociedade condena. O goleiro Bruno, em outro patamar, vive situação parecida. Condenado por matar a namorada, paga pena em regime semiaberto e não consegue dar continuida­de à carreira.

Robinho está nas mãos da Justiça.

Vai ser difícil clube brasileiro aceitar Robinho enquanto o caso não tiver um desfecho

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