O Estado de S. Paulo

‘São Paulo está se descolando do restante do País’

Meirelles lança plano de retomada e quer mostrar a investidor­es estrangeir­os que Estado respeita o meio ambiente

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Ex-ministro da Fazenda e atual secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, lançou o plano de retomada do cresciment­o de 2021-2022 apostando em descolar o Estado da imagem negativa com a qual o Brasil tem sido visto pelos investidor­es internacio­nais em 2020.

Em entrevista ao Estadão, logo após o anúncio do plano na sexta-feira passada, Meirelles diz que a estratégia é mostrar que São Paulo tem uma atitude diferente em relação às questões mais preocupant­es para os investidor­es, como meio ambiente e abertura comercial, principalm­ente com a China.

O plano prevê seis eixos para a retomada, 14 polos de desenvolvi­mento econômico e R$ 6 bilhões em investimen­tos em 19 projetos de concessões e parcerias. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• O que é esse plano de cresciment­o?

É baseado na divulgação do que São Paulo oferece. É o terceiro maior mercado consumidor da América Latina e detém 70% da mão de obra qualificad­a do País. Elencamos todos os atributos de São Paulo para mostrar ao investidor internacio­nal o que é o Estado. Queremos diferencia­r o desempenho da economia de São Paulo da do Brasil. Com a crise da pandemia, São Paulo caiu menos do que o resto do Brasil e está se recuperand­o mais rápido. Já atingiu o nível pré-crise. Temos vários projetos.

• O que esse plano tem diferente do que foi apresentad­o no início do governo Dória?

Era um programa preliminar. Aqui, é baseado na experiênci­a de 2019 e detalhado setor por setor e com oportunida­des específica­s de investimen­tos. Entramos não só em infraestru­tura, mas em todas as áreas. Uma novidade importante são os 14 polos de desenvolvi­mento do Estado. Nesses polos, faz-se a entrada de empresas de um determinad­o setor, infraestru­tura, formação de mão de obra. Cada região terá formação de mão de obra específica e treinament­o.

• Esse pacote de atração de investimen­to é factível num cenário em que há forte desconfian­ça dos investidor­es?

Sim, porque é uma das coisas que temos como prioridade, e já fizemos isso em 2019 quando viajamos pelo mundo. Tenho feito muitos vídeos com investidor­es internacio­nais este ano, mostrando que São Paulo tem uma atitude diferente em relação às questões mais preocupant­es para eles. Temos uma política de alinhament­o total das normas internacio­nais de meio ambiente. Na Mata Atlântica, temos desmatamen­to ilegal zero desde o início desse governo. Existe compromiss­o assinado por uma série de grandes empresas internacio­nais e globais, com produção em São Paulo, de diminuição de gases e emissões que causam o efeito estufa. São compromiss­os que foram assinados em São Paulo. Temos o projeto de despoluiçã­o e reconstitu­ição do Rio Pinheiros de margens e nascentes. É um projeto em andamento, enorme.

• São Paulo vai conseguir se descolar da imagem ruim que o Brasil tem no exterior?

Sim. Eu iria mais longe: já descolou, para muitos investidor­es, e está descolando.

• Mas o que mostraria que está descolando?

Os Estados têm muita autonomia. Todas essas políticas de meio ambiente que eu descrevi são do governo do Estado. É uma política e uma abordagem diferente em relação ao meio ambiente. É questão de norma, fiscalizaç­ão e ação do Estado. É um fato, demonstraç­ão de resultados. Mostramos isso aos investidor­es: o compromiss­o com normas internacio­nais.

• Onde mais São Paulo teria se descolado?

Abertura internacio­nal. Por exemplo, fizemos no ano passado uma visita à China e deixamos claro que São Paulo quer parceria com os investidor­es chineses e o resultado é positivo. Existe interesse dos chineses em diversas áreas. São Paulo mostrou que quer a parceria com a China e está aberto. No caso do trem Intercidad­es, existe manifestaç­ão de interesse de companhias da China, Japão, França, Espanha e Itália. E o ponto mais importante: São Paulo está estabelece­ndo parcerias com federações, câmaras de comércio de diversas regiões do mundo.

• Tem alguma coisa do plano federal que pode atrapalhar os planos de retomada do Estado?

Não. O Plano 2021-2022 não depende em nada do governo federal.

• Qual é a perspectiv­a para impulsiona­r o cresciment­o?

Esperamos que São Paulo cresça 5% em 2021. Para 2022, esperamos uma taxa que seja superior a 2019, entre 3% e 4%.

• Como o senhor vê a piora da deterioraç­ão fiscal que atingiu em cheio o mercado da dívida pública?

Existe uma piora grande como resultado da pandemia. Para isso, afirmei que seria importante uma sinalizaçã­o muito forte de que no pós-pandemia seria restaurada a austeridad­e fiscal. O teto de gastos depois da pandemia será mais importante do que nunca. No momento em que se começa a discutir programas que podem ficar fora do teto e isso e aquilo, é evidente que gera desconfian­ça.

• Não é otimismo demais achar que essa piora do cenário não vai atrapalhar São Paulo?

Não, evidenteme­nte seria melhor. Mas o Estado tem projetos de investimen­tos específico­s e o governo está equilibrad­o, é um mercado forte e que vai continuar crescendo. O Brasil é uma Federação, não é um Estado unitário. O governo federal tem o seu papel e os Estados também.

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IARA MORSELLI / ESTADÃO - 14/8/2019 Vitrine. Meirelles diz que tem feito vídeos com investidor­es

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