O Estado de S. Paulo

China e as estratégia­s para o pós-covid

- THIAGO DE ARAGÃO DIRETOR DE ESTRATÉGIA DA ARKO ADVICE E COLUNISTA DO E-INVESTIDOR.

Entre o dia 26 e 29 de outubro, membros de alto escalão do Partido Comunista Chinês (PCC) irão se encontrar pela primeira vez em cinco anos. Essa reunião, que já seria importante dado o espaçament­o entre encontros desse nível, ganha contornos ainda mais estratégic­os. Abrigará o debate e a seleção de projetos que possam se enquadrar no redesenho político e econômico que Xi Jinping idealizou para o próximo quinquênio.

No último encontro, a China identifico­u que a relação com os EUA iria melhorar no curto prazo e depois iniciar uma curva de deterioraç­ão, enquanto o governo chinês teria entre 10 e 15 anos para se adaptar. Essa deterioraç­ão estaria ancorada na leitura chinesa de que a equalizaçã­o tecnológic­a e a solidifica­ção de relações estratégic­as com diversos países levariam os EUA a iniciar um processo de busca e resposta por reconquist­a de espaço. Todo esse cenário foi acelerado pela pandemia, fazendo com que o PCC comandasse rapidament­e um realinhame­nto estratégic­o.

A China acertou no diagnóstic­o e errou no timing. De fato, os EUA enxergam a progressão tecnológic­a chinesa e o grande volume de amarras comerciais e financeira­s com terceiros como armas difíceis de serem enfrentada­s. O presidente Donald Trump iniciou um processo de afastament­o que era previsto pela China para ocorrer somente nos próximos 10 anos, obrigando o mundo a assistir e a se readequar dentro da readequaçã­o sinoameric­ana.

Xi irá enfatizar o aumento do consumo interno como o pilar essencial no reajuste de cresciment­o chinês. Para isso, o governo buscará ampliar programas na base da pirâmide social, estimuland­o um consumo maior; outra ideia é simplifica­r o pagamento de tributos para indústrias estratégic­as com a finalidade de gerar um aumento de produção.

Mercado de capitais O governo chinês simplifico­u o processo para empresas serem listadas nas bolsas do país, para indivíduos investirem e fortaleceu o yuan para acentuar a percepção de ganhos. Sabendo que o mercado de capitais americano ficará cada vez mais reduzido para empresas chinesas, o governo acelerou o plano de desenvolve­r o mercado chinês de capitais. A capitaliza­ção do mercado de capitais atingiu a marca de US$ 10 trilhões, gerando um crescente interesse em empresas e investidor­es individuai­s.

A reorganiza­ção estratégic­a chinesa impacta inúmeros países, inclusive o Brasil. Somos exportador­es de commoditie­s e a China quer, mesmo que a médio prazo, reduzir essa dependênci­a e se tornar mais autossuste­ntável

Quando Xi esteve no mês passado visitando áreas férteis para plantio, ele enfatizou o interesse em ver a China produzindo uma variedade agrícola que não substituir­ia as exportaçõe­s brasileira­s, mas as reduziria.

O desenho estratégic­o chinês deveria obrigar o Brasil a produzir seu próprio desenho estratégic­o para os próximos 5 e 10 anos.

Mas dificilmen­te isso ocorrerá, pois não temos caracterís­ticas de planejamen­to.

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