O Estado de S. Paulo

80 ANOS REVISTOS PARA TIRAR AS DÚVIDAS SOBRE PELÉ

Dois documentár­ios e uma ficção serão mostrados pelo Canal Brasil sobre as oito décadas do Rei do Futebol

- Luiz Zanin Oricchio

Para festejar os 80 anos do Rei do Futebol, o Canal Brasil programou três filmes. Dois são documentár­ios sobre sua carreira – Isto é Pelé (Luiz Carlos Barreto e Eduardo Escorel) e Pelé Eterno (Aníbal Massaini). O outro, Os Trombadinh­as, de Anselmo Duarte, é uma ficção estrelada pelo ator Edson Arantes do Nascimento.

O primeiro dos documentár­ios, o de Barreto e Escorel, é de 1974, ano em que o Rei, em tese, pendura as chuteiras. Em tese, porque depois ele voltou a jogar pelo Cosmos de Nova York, aposentand­o-se em definitivo em 1977. O filme é feito então na data da despedida brasileira e traz essa emoção da perda. Aliás, uma das cenas mais emocionant­es do filme é o adeus à seleção brasileira, com a torcida gritando “Fica, fica…” enquanto o Rei dava a volta olímpica no estádio.

O filme de Barreto segue a carreira de Pelé não apenas no Santos, mas, em especial, na seleção brasileira, lembrando sua participaç­ão em quatro Copas. Na de 1958, quando é revelado ao mundo, campeão aos 17 anos; em 1962, quando se contunde e fica fora da maior parte dos jogos, tendo Garrincha então assumido o protagonis­mo; em 1966, quando é vítima da violência, sendo o Brasil desclassif­icado por Portugal; e, por fim, na Copa de 1970, seu último Mundial e uma despedida de gênio, com jogadas de antologia e gols decisivos. Algum jogador atingiu nível semelhante ou parecido?

Pelé também é visto tentando ensinar a técnica do futebol a meninos. Como se chuta, a importânci­a do pé de apoio, o cabeceio com os olhos abertos, etc. Futebol se ensina?

Pontos polêmicos do grande jogador não são poupados. Pelé, com sua habilidade infernal, era vítima da violência desde cedo (quase não vai à Copa de 1958, pois um zagueiro do Corinthian­s acertou seu joelho num jogo-treino). Aprendeu a defender-se. E o fazia muito bem e longe dos olhos dos juízes. Sabia ser truculento. Quebrou a perna de um jogador alemão e acertou uma famosa cotovelada num uruguaio na Copa de 1970. Como proteger o talento do craque? Hoje, com as novas tecnologia­s, árbitros auxiliares, VAR e etc, os jogadores habilidoso­s estão mais a salvo que na época do Rei?

Outro ponto de destaque são os gols que Pelé não fez e ficaram mais famosos do que muitos gols marcados. Ambos na Copa de 1970: o chute de meio de campo quase surpreende o goleiro Viktor da Checoslová­quia, que estava adiantado; o drible de corpo em Mazurkiewi­cz, deixando estonteado o goleiro do Uruguai. Destaca o lado “inventor” de Pelé, também criador da “paradinha” na cobrança de pênaltis, o que obrigou a Fifa a mudar a regra para discipliná-la.

Com Pelé Eterno, de 2004, temos o mais completo documentár­io já feito sobre o Rei do Futebol. O filme de Massaini conta com narração e depoimento­s do Rei, mostra mais de 400 gols (dos 1281 que Pelé marcou na carreira) e traça uma linha do tempo que vai do nascimento em Três Corações, em 23 de outubro de 1940, até a aposentado­ria, em 1977.

A partir deste filme, é possível visualizar a carreira incomparáv­el de um gênio, com suas conquistas e repertório inesgotáve­l de jogadas. Foi o jogador perfeito, tanto técnica como atleticame­nte. Longevo, atuou durante 18 anos em um único clube, o Santos Futebol Clube. Depois de aposentado, voltou atrás e jogou mais três pelo Cosmos de Nova York.

Os números são astronômic­os: 1371 jogos, 1281 gols (1091 pelo Santos, 95 pela seleção), três títulos mundiais pelo Brasil, dois pelo Santos, 10 Campeonato­s Paulistas, cinco Taças Brasil (o antigo campeonato brasileiro) e etc. Alguém se atreve a disputar com esse cartel? Que tal compará-lo com Maradona, como gostam de fazer os argentinos? Ou com Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar…?

Nessa antologia de gols de craque, há alguns fatos curiosos. Por exemplo, usa-se o recurso da montagem para mostrar vários gols de pé direito, outros tantos de pé esquerdo, de cabeça, de bicicleta, de pênalti, etc. Aliás, as cenas são acompanhad­as de uma música de Jorge Benjor que fala justamente dessa versatilid­ade. Pelé jogava até no gol, se necessário.

Há outras curiosidad­es. Não existem imagens de dois desses gols de antologia: 1) o chamado “gol de placa” sobre o Fluminense no Maracanã (5/3/1961); 2) o gol contra o Juventus, na Rua Javari (em 2/8/1959). Coutinho, eterno parceiro de Pelé, considerav­a este o gol mais bonito da carreira do craque. No primeiro, Pelé pega a bola na sua intermediá­ria e sai driblando vários adversário­s até chegar ao gol. No segundo, aplica vários chapéus consecutiv­os (o último no próprio goleiro) e completa de cabeça para a rede. No filme, o primeiro gol é reencenado e montado com algumas imagens verdadeira­s de outros jogos. O segundo é refeito com técnica de computação gráfica.

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UNIVERSAL PICTURES ‘Pelé Eterno’. A partir deste filme, é possível visualizar a carreira incomparáv­el de um gênio e seu repertório de jogadas

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