O Estado de S. Paulo

Aliado de Evo Morales vence eleição no 1º turno na Bolívia

Mesmo sem um resultado oficial, Luis Arce, ex-ministro da Economia gestão Morales, é apontado como presidente eleito por quase todos os rivais na disputa, que reconhecer­am sua vitória no primeiro turno; em pronunciam­ento, ele adotou um tom moderado

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Projeções colocam como presidente eleito da Bolívia o economista Luis Arce, aliado do ex-presidente Evo Morales, do partido Movimento ao Socialismo (MAS). Arce disse que a Bolívia, com sua vitória, “recuperou a democracia”. O resultado foi reconhecid­o pelo seu principal adversário, Carlos Mesa, e pela presidente Jeanine Áñez. Exilado na Argentina, Morales disse que sua volta ao país é uma “questão de tempo”.

Embora o resultado oficial não tenha saído, projeções colocam como presidente eleito da Bolívia o economista Luis Arce, de 57 anos, aliado do expresiden­te Evo Morales, do partido Movimento ao Socialismo (MAS). Ontem, Arce comemorou a vitória ainda no primeiro turno, dizendo que a Bolívia “recuperou a democracia”. O resultado foi reconhecid­o pela presidente interina, Jeanine Áñez, e pelo seu principal adversário na disputa, Carlos Mesa.

Em seu primeiro pronunciam­ento após a eleição, Arce adotou um tom moderado. “Vamos governar para todos os bolivianos. Vamos construir um governo de unidade nacional. Vamos construir a unidade de nosso país”, afirmou o ex-ministro da Economia, ao lado de seu vicepresid­ente, David Choquehuan­ca, que era chanceler boliviano. “Vamos reconduzir nosso processo de mudança, sem ódio, aprendendo e superando nossos erros.”

Segundo pesquisa da Cesmori, o mais importante instituto da Bolívia, Arce obteve 52,4% dos votos. Mesa, ex-presidente do centrista Comunidade Cidadã (CC), ficou em segundo, com 31,5%. Em terceiro, com 19%, ficou o líder de extrema direita Luis Fernando Camacho – o único que não reconheceu o resultado e disse que só se manifestar­ia após o fim da apuração.

Se os resultados se confirmare­m, Arce terá obtido 5 pontos porcentuai­s a mais do que Morales na eleição de 2019, que acabou anulada. Na época, o então presidente, que concorria a um quarto mandato, chegou a ser declarado vencedor com 47% dos votos, à frente de Mesa, que teve 36,5%.

A eleição de 2019 foi marcada por uma confusão estabeleci­da após a interrupçã­o da apuração. Antes, os resultados apontavam para o segundo turno entre Morales e Mesa. Depois que o sistema voltou a funcionar, o presidente estava eleito. A desconfian­ça provocou protestos de rua que acabaram levando à renúncia do presidente, em meio a um motim da polícia e depois de um ultimato dos militares. Evo fugiu para o México e depois se exilou na Argentina.

Ontem, Evo comemorou a vitória do aliado. Segundo ele, o resultado mostra que houve um “golpe de Estado” em 2019. “A vitória eleitoral contundent­e demonstra que, em 2019, não houve fraude, mas sim um golpe de Estado”, escreveu o ex-presidente em uma rede social.

Segundo Morales, seu retorno à Bolívia é apenas uma questão de tempo. “Mais cedo ou mais tarde, eu vou voltar. Isto não está em discussão. É apenas uma questão de tempo”, afirmou. “Mais uma vez, lideraremo­s o cresciment­o econômico da região, porque o MAS é o único partido com um programa e uma visão de país que sempre integrou campo e cidade, oriente e ocidente.”

Ontem, Mesa disse que as projeções são “muito contundent­es e muito claras” e declarou que lhe cabe apenas “reconhecer que há um vencedor na eleição”. “É nossa vez de liderar a oposição”, tuitou o ex-presidente. No domingo, logo após a divulgação das projeções, a vitória de Arce já havia sido reconhecid­a pela presidente interina, uma feroz opositora de Evo. “Arce e Choquehuan­ca venceram a eleição. Felicito aos vencedores e peço que governem pensando na Bolívia e na democracia”, afirmou Jeanine.

A vitória de Arce também mereceu elogios de alguns países aliados do governo do MAS, como México, Argentina e Cuba. No entanto, até antigos desafetos de Morales, como o governo americano, enviaram felicitaçõ­es. “Parabeniza­mos o presidente eleito da Bolívia, Luis Arce e o vice-presidente, David Choquehuan­ca”, disse no Twitter Michael Kozak, chefe do setor de América Latina no Departamen­to de Estado dos EUA. “Estamos ansiosos para trabalhar com o governo recém-eleito para promover a prosperida­de econômica, os direitos humanos e liberdade de imprensa.”

Até o início da noite, o governo brasileiro não havia se pronunciad­o sobre a vitória de Arce e a embaixada do Brasil em La Paz aguardava instruções sobre o que fazer. Pessoas próximas ao presidente eleito disseram que não houve sequer tentativa de contato da parte do Palácio do Planalto. Fontes do Itamaraty dizem que o chanceler Ernesto Araújo foi surpreendi­do com a vitória do MAS, embora tenha sido informado de que a possibilid­ade era real. Diplomatas que acompanham a relação do Brasil com a Bolívia apostam em uma posição pragmática em razão dos enormes interesses econômicos e também do perfil moderado do eleito.

“Vamos governar para todos os bolivianos. Vamos construir um governo de unidade nacional. Vamos reconduzir nosso processo de mudança, sem ódio, aprendendo e superando nossos erros.” Luis Arce

PRESIDENTE ELEITO DA BOLÍVIA

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MARTIN ALIPAZ / EFE Comemoraçã­o. Partidário­s de Arce celebram vitória nas ruas de La Paz: mesmo antes do fim da apuração dos votos, rivais reconhecer­am a derrota
 ?? JUAN KARITA/AP ?? Disputa. Luis Arce (ao centro) comemora ao lado do vice, David Choquehuan­ca (de bolsa), a vitória no primeiro turno na eleição realizada no domingo
JUAN KARITA/AP Disputa. Luis Arce (ao centro) comemora ao lado do vice, David Choquehuan­ca (de bolsa), a vitória no primeiro turno na eleição realizada no domingo

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