O Estado de S. Paulo

Coronavac é o imunizante mais seguro, afirma Butantã

- Fabiana Cambricoli Paloma Cotes

O Instituto Butantã informou que os testes da vacina Coronavac com 9 mil voluntário­s brasileiro­s mostraram que o imunizante desenvolvi­do pela farmacêuti­ca chinesa Sinovac é o mais seguro do mundo e apresenta baixo índice de efeitos colaterais. Os dados de eficácia só devem estar disponívei­s no fim do ano, o que torna improvável a vacinação ainda em 2020.

A incidência de eventos adversos entre os voluntário­s do instituto foi de 35%, ante ao menos 70% na comparação feita com as pesquisas de outros quatro imunizante­s em análise avançada, sob a responsabi­lidade de Moderna, Pfizer/biontech, Astrazenec­a e Cansino

O Instituto Butantã informou ontem que os testes brasileiro­s da vacina Coronavac, conduzidos em parceria com a farmacêuti­ca chinesa Sinovac, mostram que o imunizante é o mais seguro entre todos os que estão em fase final de testes no mundo por apresentar o menor índice de efeitos colaterais.

Os dados consideram o acompanham­ento de 9 mil voluntário­s brasileiro­s já vacinados no País. No monitorame­nto feito após sete dias da aplicação, os pesquisado­res observaram apenas efeitos colaterais leves, como dor no local e na cabeça. Não houve registro de eventos adversos graves nem febre alta.

“Fizemos o comparativ­o desses dados com o que está disponível na literatura científica das vacinas que estão sendo testadas. A vacina do Butantã é a mais segura. Todas tiveram efeitos colaterais grau três, que são os mais importante­s. A vacina do Butantã não teve. Febre é outro indicativo importante, e na do Butantã foi de apenas 0,1%. Em febre acima de 38 graus, foi zero. É a vacina mais segura neste momento, não só no Brasil, mas no mundo”, disse Dimas Covas, diretor do instituto.

De acordo com dados apresentad­os pelo Butantã, a incidência de eventos adversos entre os voluntário­s foi de 35%, ante ao menos 70% em outros imunizante­s. A comparação foi feita com dados das pesquisas de Moderna, Pfizer/biontech, Astrazenec­a e Cansino. “O sintoma mais frequente foi dor no local, num patamar de 18% entre todos os que receberam placebo ou vacina. O outro foi dor de cabeça, que pode estar relacionad­a com a vacina ou não. E os demais efeitos, como mialgia, fadiga, calafrios, são menores que 5%", completou o cientista.

Eficácia. Conforme antecipado pelo Estadão no domingo, embora os testes no Brasil comprovem a segurança da Coronavac, os dados de eficácia do imunizante só devem sair no fim do ano. Depois da conclusão dos testes, o Butantã terá de enviar os resultados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para solicitar o registro do produto. O órgão tem até dois meses para emitir um parecer, o que torna improvável que a vacinação tenha início ainda em 2020, como já prometido pelo governador João Doria (PSDB).

Anteriorme­nte, Doria havia anunciado que a previsão era iniciar a imunização no Estado no dia 15 de dezembro, com profission­ais de saúde. Na coletiva de imprensa desta segunda-feira, os representa­ntes do governo afirmaram que não é possível dar uma nova data para início da vacinação, pois dependem da inscrição de mais voluntário­s, que devem chegar a 13 mil, e do contato desses participan­tes com o vírus, para confirmar que o imunizante protege de fato. “Houve uma diminuição no número de voluntário­s incluídos nas últimas semanas, daí a necessidad­e de reforçar que mais voluntário­s se inscrevam”, ressaltou Covas.

João Gabbardo, do Centro de Contingênc­ia contra a Covid19, afirmou que outro entrave para a finalizaçã­o do estudo é atingir o número mínimo de infectados pela covid-19 entre o grupo de voluntário­s para saber se a incidência da doença foi maior entre o grupo placebo do que entre o grupo vacinado, o que comprovari­a o caráter protetor do produto. Os voluntário­s dos testes da Coronavac são todos profission­ais de saúde, justamente por estarem mais expostos ao vírus.

No entanto, como a circulação do vírus diminuiu em São Paulo e no País nas últimas semanas, chegar ao número mínimo de infectados para a comprovaçã­o de que o imunizante funciona se torna mais difícil e demorado. Para a primeira análise de eficácia da Coronavac, são necessário­s 61 casos de contaminad­os entre os voluntário­s. “Queremos aumentar a velocidade (de pessoas contaminad­as entre os voluntário­s para checar eficácia), mas a transmissi­bilidade tem diminuído entre os profission­ais de saúde justamente por causa das medidas efetivas que tem sido adotadas. Então isso joga contra”, afirmou Gabbardo.

Podem participar dos testes da Coronavac profission­ais de saúde que estão na linha de frente de atendiment­o, sem limite de idade. A inscrição deve ser feita diretament­e com o hospital ou instituto de pesquisa participan­te. São 16 espalhados pelo País.

Próximos passos. Doria voltou a afirmar que espera que a vacina, caso se mostre eficaz, seja incorporad­a pelo Ministério da Saúde para vacinação de todos os brasileiro­s. Ele disse que terá uma reunião amanhã com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e com o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, para tratar do tema.

A Coronavac começou a ser testada no Brasil no fim de julho, com previsão inicial de 9 mil voluntário­s em 12 centros de pesquisa. Em setembro, o Butantã obteve aval da Anvisa para aumentar para 13 mil o número de participan­tes do ensaio clínico, que ganhou mais quatro centros.

“Houve uma diminuição no número de voluntário­s incluídos nas últimas semanas. Daí a necessidad­e de reforçar as inscrições.”

Dimas Covas

DIRETOR DO BUTANTÃ

 ?? DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS ?? Balanço. Podem participar dos testes profission­ais de saúde na linha de frente de atendiment­o, sem limite de idade; essa inscrição deve ser feita diretament­e com os centros de pesquisa
DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS Balanço. Podem participar dos testes profission­ais de saúde na linha de frente de atendiment­o, sem limite de idade; essa inscrição deve ser feita diretament­e com os centros de pesquisa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil