O Estado de S. Paulo

Ministério da Saúde tem de cumprir com a sua obrigação e aprovar um plano nacional de imunizaçõe­s.

- Gonzalo Vecina

Penso que por mais que nós sanitarist­as nos esforcemos para dizer que vacina não é a bala de prata, mas faz parte do conjunto de ações que produzem uma solução, o Brasil espera muito por uma vacina. Temos pelo menos duas candidatas potenciais e com muita chance – a chinesa da Sinovac/butantã e a inglesa da Oxford/astrazenec­a/fiocruz. A primeira negociada sem a participaç­ão do Ministério da Saúde pelo governo de São Paulo e a segunda negociada pela Fiocruz e pelo Ministério da Saúde.

Neste momento não se pode escantear nenhuma das duas e, se as duas forem aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), teremos de conseguir construir um modelo de vacinação nacional coerente com a oferta das doses pelas duas empresas. Até meados do ano que vem nenhuma das duas terá oferta de doses suficiente­s para cobrir a população brasileira e por isso o Ministério da Saúde tem de finalmente cumprir com a sua obrigação e aprovar um plano nacional de imunizaçõe­s com a Comissão Tripartite (órgão de coordenaçã­o do SUS onde se sentam membros do ministério, secretário­s estaduais e municipais de Saúde).

Esse plano levará em conta o volume de doses que já está negociado com as duas produtoras e as necessidad­es da população brasileira que são bem conhecidas, se não pelos atuais ocupantes do ministério, pelos secretário­s estaduais e municipais de Saúde.

Este plano deve começar a ser discutido agora, quando também se começa a discutir a peça orçamentár­ia das três esferas de poder para o ano que vem. Merece em particular atenção a esfera federal, que trabalha com a tese de que o mundo do ano que vem será um mundo sem covid-19. E a proposta orçamentár­ia parte de uma redução de R$ 35 bilhões em relação ao orçamento que será executado este ano. Não sei como estão as propostas orçamentár­ias nos Estados e nos municípios, que, ademais, terão troca de comando com as eleições.

Mas olhando para o que está ocorrendo no Estado de São Paulo, podemos esperar armadilhas semelhante­s. Aqui em São Paulo, por pouco e ainda não pacificado, as universida­des e a Fapesp parecem ter conseguido escapar de um golpe que seria mortal para seus respectivo­s projetos de imenso alcance social e tecnológic­o. Essa até agora vitória foi fruto de uma imensa mobilizaçã­o da sociedade paulista, que levou o governador a negociar uma proposta mais adequada.

Em todo o Brasil, nós, sociedade, temos de fazer o que nos cabe – vigiar nossos representa­ntes eleitos. Assim, o prioritári­o é acompanhar a luta pela manutenção das condições de financiame­nto do SUS nas três esferas de poder. Mas não só. Temos de caminhar na reforma administra­tiva para conseguir aumentar a eficiência da gestão pública e conseguir construir propostas que consigam resolver melhor do que hoje os desastres que são a regulação de acesso em todo o território nacional, bem como o arranjo assistenci­al na atenção primária e a confusão sobre a questão da assistênci­a médica de urgência, o funcioname­nto das UPAS e o necessário atendiment­o à demanda assistenci­al por parte da população.

Os novos governos municipais têm de ser indagados sobre como irão propor a retomada da importânci­a da estratégia da Saúde da Família, levando a cobertura do programa a cerca de 80% da população. E temos de retomar as ações prioritári­as dos municípios em relação às coberturas vacinais.

Mas sobretudo temos de cobrar dos novos prefeitos que busquem os governador­es para conseguir repactuar o modelo de regulação de acesso – a organizaçã­o do que foi chamado durante a epidemia de FILA ÚNICA. A solução não é simples, mas tem de ser enfrentada. Na mesma linha está a melhoria da condição de uso da tecnologia da informação na atenção primária e também no controle das parcerias com o setor privado, para garantir suas entregas contratada­s.

Ministério tem de cumprir com a sua obrigação e aprovar um plano de imunizaçõe­s

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