O Estado de S. Paulo

Supremo deverá confirmar afastament­o do senador.

Parlamenta­r que foi flagrado com R$ 30 mil na cueca será julgado amanhã; caso, no entanto, poderá ter um longo embate no Senado

- Breno Pires Daniel Weterman / BRASÍLIA

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deve confirmar amanhã o afastament­o do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), mas o caso ainda tem potencial para enfrentar um longo embate no Senado. A decisão que afastou Rodrigues do cargo por 90 dias foi tomada na quinta-feira pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, um dia depois de o senador ter sido flagrado pela Polícia Federal com R$ 33.150 na cueca, além de R$ 10 mil e US$ 6 mil guardados em um cofre.

Rodrigues é suspeito de participar de um esquema de desvio de recursos destinados ao combate à covid-19. Desde que o escândalo veio à tona, após a operação da PF e da Controlado­riageral da União identifica­r irregulari­dades na aplicação de emendas parlamenta­res, o presidente Jair Bolsonaro procura se desvencilh­ar do antigo aliado, que era vice-líder do governo no Senado e perdeu o posto.

Após seu despacho, Barroso recebeu várias críticas de políticos. No Congresso, muitos parlamenta­res, especialme­nte aqueles que enfrentam investigaç­ões, argumentam que não podem abrir precedente­s para a interferên­cia do Judiciário sobre mandatos obtidos nas urnas. O ministro do STF solicitou, então, ao presidente da Corte, Luiz Fux, que levasse o caso ao plenário e a tendência é que sua decisão seja referendad­a. De qualquer forma, porém, cabe ao Senado dar a última palavra.

O entendimen­to de que o Judiciário tem poder para destituir parlamenta­res – ficando com o Legislativ­o a tarefa de validar ou não essa decisão – foi firmado em 2017. À época, o Supremo havia afastado o senador e hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e, no ano anterior, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ). No caso de Aécio, o Senado derrubou o veredicto da Corte.

Agora, o que será julgado pelo tribunal é se a decisão de Barroso preencheu os requisitos legais. Para ministros ouvidos pelo Estadão, sob reserva, o afastament­o foi determinad­o com base nas regras definidas pelo próprio plenário do Supremo, em 2017, e, por isso, o despacho de Barroso não deve ser revogado.

Os magistrado­s deverão discutir, no entanto, se foi adequado o prazo de 90 dias para o afastament­o. No inquérito sigiloso, a PF chegou a pedir a prisão de Rodrigues. A Procurador­ia-geral da República (PGR) se posicionou a favor do confinamen­to do senador em casa, com tornozelei­ra eletrônica, e da proibição de comunicaçã­o com demais investigad­os. Barroso entendeu essa medida como insuficien­te e justificou sua iniciativa como forma de impedir que o senador usasse o cargo “para dificultar as investigaç­ões ou para, ainda mais grave, persistir no cometiment­o de delitos”.

Licença. No Senado, Rodrigues é alvo de uma representa­ção protocolad­a no Conselho de Ética pela Rede e pelo Cidadania, que pedem a cassação do seu mandato. Ontem, o senador deixou de integrar o colegiado (mais informaçõe­s nesta página). A cúpula do Senado, porém, tenta montar uma estratégia para salvar o mandato de Rodrigues. Como antecipou o Estadão, o presidente do Conselho de Ética, Jayme Campos (DEM-MT), sugeriu uma licença de quatro meses ao colega.

“Eu sugiro para o senador pedir um afastament­o por 120 dias para não dizer que está obstruindo o andamento dos trabalhos e a apuração dos fatos. Mas essa é uma decisão pessoal dele

e nós temos que respeitar”, afirmou Campos, colega de partido de Rodrigues.

O Conselho de Ética está com as atividades paradas por causa da pandemia do coronavíru­s. A decisão de reativar o colegiado para julgar Rodrigues cabe ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que permanece em silêncio. É improvável, porém, que a Casa tome qualquer decisão sobre o destino do ex-líder do governo antes das eleições municipais, marcadas para novembro.

Nos bastidores, a maioria dos senadores vai se movimentar para não votar agora qualquer posição do STF favorável ao afastament­o de Rodrigues. A ideia é deixar o caso só com o Conselho de Ética, adiando o seu desfecho.

Em nota divulgada ontem, a defesa de Rodrigues afirmou que o dinheiro encontrado nas vestes íntimas se destinava “ao pagamento dos funcionári­os de empresa da família do senador”. Segundo os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso e Yasmin Handar, o ex-vice-líder “está sendo linchado por ter guardado seu próprio dinheiro”.

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JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO - 7/10/2020 Alvo. Chico Rodrigues é suspeito de desviar recursos destinados ao combate à covid-19

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