O Estado de S. Paulo

Rio de Janeiro e a oportunida­de de valorizar ainda mais seus imóveis

- Por Fernanda Tejada, secretária de Urbanismo do Rio de Janeiro

Conhecida por suas belezas naturais, a cidade do Rio de Janeiro também abriga uma diversidad­e arquitetôn­ica digna de ser cantada em prosa e verso. Mas, ao longo do tempo, uma questão veio para tirar o sono de quem ama suas ruas e avenidas: como ajustar o ordenament­o urbano ao que já está construído e instalado em uma metrópole que, tal como o organismo vivo que é, muda conforme as necessidad­es de seus habitantes?

Como resposta a esse desafio, foram apresentad­os à Câmara Municipal os projetos que viraram a Lei Complement­ar 219/2020, em vigor desde o dia 20 de agosto.

O texto oferece atrativos tanto para os cidadãos quanto para a indústria da construção civil, que gera milhares de empregos diretos e indiretos em todo o país. O destaque é a redução de 40% do total para pagamento à vista da contrapart­ida, que é o termo técnico correspond­ente ao valor cobrado pela regulariza­ção a ser feita nas construçõe­s, estejam elas concluídas ou não.

Como toda boa oportunida­de, essa também teve prazo para acabar: empresas interessad­as em construir no Rio de Janeiro e donos de imóveis puderam solicitar o desconto até o dia 15 de outubro.

Para se ter uma ideia, um levantamen­to interno da Secretaria Municipal de Urbanismo mostrou que há 20 mil processos de contrapart­ida abertos e sem conclusão. Em muitos casos, isso acontece porque os proprietár­ios deram entrada na regulariza­ção das edificaçõe­s, mas não conseguira­m pagar a contrapart­ida, também chamada de Mais Valia.

Ao oferecer um desconto atraente sobre a quantia total devida, o Rio de Janeiro ganha a oportunida­de de valorizar ainda mais seus imóveis, evitando aborrecime­ntos para os cidadãos e garantindo a arrecadaçã­o para os cofres públicos, pois a legalizaçã­o gera o pagamento de tributos como IPTU, ISS e ITBI.

Outro ponto positivo da LC 219/2020 é fomentar a economia carioca pós-pandemia, oferecendo condições especiais para estimular o licenciame­nto de novas construçõe­s. Ao flexibiliz­ar alguns parâmetros, como a média da altura das edificaçõe­s, a metragem de afastament­o em relação à rua e a área correspond­ente à projeção horizontal, a lei dá mais liberdade para profission­ais de arquitetur­a e engenharia fazerem seu trabalho.

A quem torce o nariz quando ouve a palavra flexibiliz­ação, vale lembrar o caso do projeto da renomada arquiteta Zaha Hadid, que deveria fazer parte da paisagem da orla de Copacabana. Caso o

Legislação promete fomentar a economia pós-pandemia, oferecendo condições especiais para o licenciame­nto de novas construçõe­s

empreendim­ento tivesse saído do papel, teria dado ao Rio de Janeiro a chance de ser a cidade da América do Sul a ter um edifício assinado por Hadid, morta em 2016 e a primeira mulher a receber o Prêmo Pritzker, considerad­o uma espécie de Nobel da arquitetur­a.

Inicialmen­te, o prédio, com formato sinuoso, lembrando uma espinha dorsal, seria um hotel, mas depois foi transforma­do em residencia­l de luxo. As dificuldad­es para licenciame­nto, entretanto, afastaram os investidor­es e o terreno acabou indo a leilão.

A LC 219/2020 também resolve um problema muito comum em grandes cidades, agravado pela pandemia: permite reaproveit­ar edificaçõe­s sem uso ou subutiliza­das, instaladas em áreas já consolidad­as da cidade, com sistema de transporte e toda a infraestru­tura. Um exemplo é o Centro do Rio de Janeiro, que passa por uma mudança de perfil, pois boa parte das empresas autorizou os funcionári­os a trabalhare­m de casa, como forma de prevenir o contágio pelo novo Coronavíru­s. Essa parte do município só tem a ganhar com a transforma­ção de prédios comerciais em residencia­is, trazendo a vida de volta a ruas cheias de história.

A Lei Complement­ar respeita todas as regras de proteção do patrimônio natural e cultural, além de não valer para terrenos ou edificaçõe­s que sejam clandestin­os ou irregulare­s. O valor arrecadado com o pagamento de contrapart­idas também vai gerar recursos para ajudar no enfrentame­nto da Covid-19, custeando ações emergencia­is de saúde pública, melhoria de infraestru­tura, habitação e assistênci­a social para a população mais vulnerável.

É a parceria entre o município, o setor da construção civil e a sociedade, em busca de um Rio de Janeiro mais moderno e focado em atender às necessidad­es de todos os seus habitantes.

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