O Estado de S. Paulo

País começa em novembro a produzir a opção russa

Fundo diz que pretende oferecer 1,2 bilhão de doses no mundo, 200 milhões somente na América Latina

- Roberta Jansen

O Brasil começará a produzir em larga escala, já na segunda quinzena de novembro, doses da vacina russa contra a covid19, a Sputnik V. O anúncio foi feito ontem por cientistas e autoridade­s russas e a informação foi confirmada pela farmacêuti­ca União Química, responsáve­l pela produção no País.

Em setembro, técnicos brasileiro­s estiveram no Instituto Gamaleya. Agora, eles aguardam a liberação da Anvisa e a chegada de especialis­tas russos para acompanhar a primeira partida do imunizante. O presidente da União Química, Fernando de Castro Marques, acredita que parte da produção esteja disponível para a população em janeiro. “Faltam algumas etapas legais a serem cumpridas, como a aprovação da Anvisa, mas estamos fazendo todo o esforço para resolver tudo no menor espaço de tempo possível”, explicou Marques.

Segundo ele, a União produzirá vacinas também para outros países da América Latina, de acordo com o contrato firmado com os russos. A farmacêuti­ca não informou, no entanto, quantas doses pretende produzir nem quanto cobrará. “Não sabemos o preço, mas será algo acessível, nada absurdo.”

O governo do Paraná também firmou acordo para a produção da vacina, com transferên­cia de tecnologia. Ainda não se sabe se o governo federal fará contrato com a Rússia – Índia, Coreia do Sul e China são outros três países que vão produzir o imunizante russo.

O diretor do Fundo Russo de Investimen­to Direto, Kirill Dmitriev, contou em entrevista pela manhã que a Rússia pretende produzir 1,2 bilhão de doses. Dessas, 200 milhões serão somente para a América Latina. “Vamos apresentar os resultados da fase 3 aos órgãos de controle de cada país com os quais firmamos acordo”, explicou Dmitriev. “A velocidade com a qual esses acordos serão aprovados depende de cada órgão, mas queremos iniciar a distribuiç­ão em dezembro.” O governo da Bahia já anunciou a compra de 50 milhões de doses.

No início de setembro, os primeiros resultados das fases 1 e 2 de ensaios clínicos foram publicados na The Lancet. O trabalho mostrou que a vacina é capaz de induzir resposta imune e é segura. Diretor do Instituto Gamaleya, Denis Logunov voltou a assegurar que os principais efeitos adversos reportados até agora nesta terceira fase de análises foram febre, dor no local da injeção e mal-estar leve. Ainda segundo Logunov, a capacidade da vacina de induzir a produção de anticorpos seria de 100%. E a imunidade perduraria por até dois anos.

A vacina russa consiste em duas doses aplicadas com um intervalo de 21 dias. Ela é produzida com o uso de dois adenovírus como vetores para material genético do vírus. Procurada, a Anvisa informou que não recebeu nenhum pedido de registro para a vacina russa.

“Tenho esperança de que em janeiro já haja algo disponível, sim; não será ainda uma grande produção, mas parte da vacina.”

Fernando de Castro Marques

PRESIDENTE DA UNIÃO QUÍMICA

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