#Sustentabilidade
Sustentar é o mesmo que apoiar, proteger, conservar, cuidar. Perseguir uma agenda de sustentabilidade equivale a buscar perenidade. No mundo todo, e agora mais do que nunca, essa é a agenda que ganha espaço crescente, nos campos social e ambiental. Aqui no Brasil ainda patinamos – e muito. Mas coube ao Banco Central do Brasil (BCB) nos trazer boas notícias nessa área. Ao introduzir “Sustentabilidade” como a quinta dimensão da Agenda BC#, o BCB toma a frente e, mais uma vez, nos coloca na fronteira da regulação financeira.
Surgida a partir da Agenda BC+ – projeto que se iniciou em 2016 –, define os pilares da atuação estratégica do Banco Central. Originalmente composta por quatro dimensões (inclusão, competitividade, transparência e educação), é por meio dela que o BCB declara suas prioridades de atuação no curto, médio e longo prazos: fortalecimento da cidadania financeira; modernização da legislação de forma a garantir a estabilidade financeira; fomento a um sistema financeiro mais eficiente e barateamento do crédito. Sustentabilidade se junta agora como resposta aos impactos de eventos climáticos extremos que – cada vez mais frequentes – afetam variáveis econômicas e impõem novos riscos ao sistema financeiro.
Seus três principais objetivos atendem à demanda de uma sociedade mais consciente social e ambientalmente e fomentam de forma mais objetiva a incorporação de avaliações de riscos socioambientais na tomada de decisão das instituições financeiras com atuação local: (i) promoção de finanças sustentáveis no âmbito do SFN; (ii) aprimoramento das regras de gerenciamento dos riscos social, ambiental e climático aplicáveis às instituições financeiras; e (iii) incorporação de variáveis associadas à sustentabilidade nos processos de trabalho e de tomada de decisões no BCB. O Banco Central acompanha assim – e no caso do Brasil lidera – uma tendência mundial que redesenha a atuação do mercado financeiro no que tange ao risco climático e à consciência socioambiental.
Instituições financeiras globais, motivadas por uma demanda crescente mas também por essa nova tendência regulatória, vêm adotando técnicas de mensuração e precificação de riscos socioambientais nas suas avaliações individuais de crédito e incorporando o risco climático nos seus exercícios de teste de estresse. O impacto não é desprezível e afeta sensivelmente as avaliações de risco e o comportamento das carteiras. Compreender esses riscos e mensurar seus efeitos financeiros é fundamental para controlá-los e precificálos adequadamente. Da mesma forma, novos produtos verdes vêm abrindo outros mercados e gerando desafios que acompanham uma demanda crescente de consumidores que se movem de forma acelerada na direção de produtos estruturados que levem em conta questões ambientais e climáticas. Impulsionasse assim um novo mercado de títulos verdes que, embora ainda pequeno e limitado, impõe-se como uma tendência inexorável. A contrapartida desses movimentos nos balanços patrimoniais dos bancos ainda não está totalmente clara. Ao misturar riscos financeiros com uma liderança em finanças verdes juntamente com riscos de reputação e conduta, as novas tendências exigem também maior profundidade de análise para garantir sua mitigação e correto controle e provisionamento. Muito além de políticas, são métricas mais granulares e o uso intensivo de dados e informações os caminhos que permitirão que, ao mesmo tempo que se fomente essa agenda, se garanta a sustentabilidade também dessas tendências. Daí a importância de um regulador financeiro atento e pronto.
A incorporação da nova dimensão na Agenda BC#, marcada também pela entrada do BCB no Network for Greening the Financial System (NGFS) e a assinatura de um memorando de entendimento com a Climate Bonds Initiative (CBI), nos coloca numa agenda sem volta. Felizmente. Esse passo fundamental pavimenta as duas vias de atuação do sistema financeiro no tema socioambiental: ao mesmo tempo que fomenta as ações de responsabilidade social e destaca a relevância do engajamento dos bancos na agenda de sustentabilidade, atualizando a regulação em vigor desde 2014, incorpora a visão de mensuração dos riscos socioambientais – a começar pelos riscos climáticos – nas carteiras de crédito das instituições financeiras. Ou seja, faz-se necessário avaliá-los, precificá-los, controlá-los e monitorá-los, pois vivemos em um ecossistema único, em que todos são diretamente afetados pela deterioração socioambiental.
Embora tenhamos hoje muito a lamentar numa agenda que parece (quiçá momentaneamente) perdida no nosso País, há que se reconhecer e aplaudir a entrada definitiva do Banco Central do Brasil no tema. Afinal, sustentabilidade socioambiental significa cuidar do presente e do futuro. Significa a construção de um mundo melhor, mais equilibrado e mais justo. E o mercado financeiro é e sempre será parte disso.
A incorporação na Agenda BC# nos coloca numa agenda sem volta. Felizmente
✽ ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA