O Estado de S. Paulo

‘No Balcão’, Xico Sá

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Um dia, há alguns anos, antes ainda de eu entrar no ofício do jornalismo, fui a uma Flip, sozinho, e assisti a uma mesa com Xico Sá e Antonio Prata. O que eles falaram já está perdido na memória, mas Prata tinha acabado de lançar Meio Intelectua­l, Meio de Esquerda (Editora 34) e Sá estava na praça com alguns livros, entre eles, o Chabadabad­á: Aventuras e Desventura­s do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha (Editora Record). No livro de

Prata, ele falava em uma crônica sobre obras literárias que caíam na sua cabeça feito um piano, e nem precisava ser um Guerra e Paz ou um Dom Quixote. Eram livros que pareciam terem sido escritos para você. O Chabadabad­á, eu sentia, tinha sido escrito para mim, e animado por uma ou outra cerveja, encontrei o Xico nas ruas de Paraty e falei isso para ele – que recebeu a mensagem de um jovem perdido com simpatia.

Lembro essa pequena anedota para comentar o novo podcast de Xico Sá, o No Balcão, produção original e exclusiva da Orelo – plataforma de podcasts brasileira que chegou ao mercado em agosto, prometendo remunerar os criadores de conteúdo de maneira mais justa do que as concorrent­es internacio­nais. Uma das formas é repassar 30% das receitas com assinatura­s para os produtores. O conteúdo pode ser ouvido de graça, com publicidad­es, e a assinatura do serviço custa R$ 6,90.

Voltando ao programa do Xico Sá. Navegando nos temas caros ao escritor – amor, sexo, política, literatura e futebol –, o podcast se baseia no bom humor do jornalista e escritor para emular um balcão de bar, ausência das mais sentidas na pandemia Brasil afora.

“Em tempos tão difíceis e de isolamento social pelo qual estamos passando, quis trazer aqui um pouco daquele bom bate-papo no balcão de um bar clássico e antigo que todos gostamos para contar sobre os últimos acontecime­ntos”, comenta Xico.

Em um dos episódios, ele convida o também escritor Marcelo Rubens Paiva e pergunta: “e aí, a obra-prima da quarentena já saiu?”. Em outro, diz que sente muita falta do seu lugar, o Nordeste brasileiro, e que quer “voltar como quem volta a Bacurau”. A impossibil­idade da volta, causada pelo vírus e pelas recomendaç­ões da ciência, o faz ficar em casa com a família, “fechadinho que nem time pequeno quando vai jogar no Maracanã”. Aí ele recomenda Meu Primeiro Amor, a canção de Lucas Santtana e Duda Beat que menciona o Blur e depois começa a entender melhor as coisas. Diz Xico: “Meu primeiro beijo, aquele negócio do cabra e da mulher que vêm, fica moderno em São Paulo e escuta... brit-pop londrino. Que frescura da p...! Mas depois vê que bom mesmo é um... chamego. Aquela coisa que Luiz Gonzaga dizia: (cantando) ‘Quando tu balança, dá um nó na minha pança, quando tu balança, dá um nó na minha pança...’” Uma dica para todos que, nesses dias cinzentos de pandemia, já não podem encontrar Xico Sá nos bares nem nas ruas de Paraty.

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