O Estado de S. Paulo

Maia propõe votação de medidas e corte de gastos

Presidente da Câmara defende agenda para acelerar solução para Renda Cidadã e ajuste fiscal; crise ‘está muito mais perto’, afirma ele

- Adriana Fernandes

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende que governo e partidos definam com urgência um cronograma de votações das medidas de corte de gastos para garantir o Renda Cidadã e tranquilid­ade fiscal para os próximos anos. As propostas incluem extinção do abono salarial, corte no salário e jornada de servidores e congelamen­to de aposentado­rias e pensões acima de três mínimos.

Com poucas semanas até o final do ano, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende que governo e lideranças dos partidos fechem com a máxima urgência um cronograma para votação de medidas de corte de gastos para garantir a adoção do Renda Cidadã e dar tranquilid­ade fiscal ao País nos próximos dois anos.

Em entrevista ao Estadão, Maia afirma que não há mais tempo a perder porque, segundo ele, a crise “está muito mais perto, o prazo é curto e não se tomou a decisão até agora do que fazer”.

Depois do jantar na casa do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, no início do mês, que selou a paz entre Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, os dois se uniram em defesa do novo programa social, com alcance e benefício maiores que os do Bolsa Família, e limitado ao teto de gastos – a regra constituci­onal que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação. “Dentro do teto, pode tudo”, afirma Maia.

Segundo apurou a reportagem, no Ministério da Economia a expectativ­a é que esse entendimen­to com o Congresso saia o mais rápido possível por causa do tempo curto até o fim do ano. Guedes tem dito que, quem dá o ritmo, é a classe política. O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, tem defendido que discussões sobre contenção de gastos fique para depois das eleições municipais.

Para Maia, o importante agora é definir o cronograma e o alcance das medidas, até como sinalizaçã­o para os investidor­es – que passaram a cobrar cada vez mais para financiar o governo na rolagem da dívida pública.

Medidas. O leque de medidas, segundo Maia, não é muito diferente do que as alternativ­as que têm sido faladas nas últimas semanas no Congresso e pela equipe econômica. O Estadão mapeou as propostas, que incluem extinção do abono salarial (espécie de 14.º pago a quem ganha até dois salários mínimos), corte nos salários e jornada de servidores públicos e congelamen­to de aposentado­rias e pensões para quem ganha acima de três salários mínimos (mais informaçõe­s nesta página).

Pelos seus cálculos, a votação da Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) emergencia­l, que vai prever as medidas de cortes de gastos, estará com votação concluída em dois turnos na Câmara e Senado até 15 de janeiro.

Esse calendário proposto por ele leva em conta o início das discussões para votação depois de 15 de novembro, quando termina o primeiro turno das eleições municipais. Se esse processo começar somente após o segundo turno, em 29 de novembro, a conclusão da votação ficará para o final de janeiro.

“Temos de sentar sob o comando dos ministros Luiz Ramos (Secretaria de Governo) e Paulo Guedes (Economia) com os líderes que defendem a agenda de centro-direita na economia para organizar o calendário e o que vai votar”, propõe Maia.

O presidente da Câmara diz que não há outro caminho a não ser votar a PEC emergencia­l antes do Orçamento de 2021. Com essa sinalizaçã­o de calendário, na prática, a votação do Orçamento deve acabar ficando para o ano que vem.

Para ele, não haverá saída com “furinho” do teto de gastos, com soluções “criativas e heterodoxa­s”. “Essa bomba estoura muito mais rápido do que a gente imagina.”

‘Gatilhos’. Além de abrir espaço nas despesas para financiar o Renda Cidadã, a PEC emergencia­l vai regulament­ar o teto de gastos, com o acionament­o automático dos chamados “gatilhos”, medidas de corte de despesas, como a suspensão de concursos e aumentos salariais que já estavam previstos.

“O grande drama é que a regulament­ação do teto de gastos com os gatilhos não pode ser só para a renda mínima. Ela tem de servir para dar uma sinalizaçã­o de curto prazo, de 24 meses, de alguma economia para que possamos olhar a questão da dívida e redução do déficit”, afirma.

O que mais preocupa, diz ele, é a tentativa de tornar permanente medidas que foram adotadas em caráter emergencia­l, por conta da covid-19. Maia é contrário, por exemplo, à prorrogaçã­o do auxílio emergencia­l e do orçamento de guerra (que tirou as amarras fiscais e permitiu, na prática, que o governo ampliasse os gastos com a justificat­iva de combate à pandemia) em 2021. “Outro dia, vi na imprensa que o governo vai tirar dos ricos e dar para o pobre. O problema é que os temas que interessam aos ricos não estão no Orçamento público, como tributação do Imposto de Renda e renúncias”, afirma.

Maia reconhece que todas as propostas em discussão são de difícil aprovação, mas argumenta que é preciso construir um consenso em torno de delas. Sobre propostas de senadores para deixar o Renda Cidadã fora do teto ganhar força e ser incluída na PEC emergencia­l que tramita primeiro no Senado, Maia é taxativo: “Não vou ficar discutindo com o Senado. O Senado está entendendo qual é a posição da presidênci­a da Câmara e o que vai pautar”.

‘Prazo curto’ • “(A crise) está muito mais perto, o prazo é curto e não se tomou a decisão até agora do que fazer (sobre a pauta de votações).” Rodrigo Maia (DEM-RJ) PRESIDENTE DA CÂMARA

 ?? GABRIELA BILO/ESTADÃO-6/8/2020 ?? Calendário. Rodrigo Maia vê chance de o Congresso aprovar até 15 de janeiro, em dois turnos, a chamada PEC emergencia­l
GABRIELA BILO/ESTADÃO-6/8/2020 Calendário. Rodrigo Maia vê chance de o Congresso aprovar até 15 de janeiro, em dois turnos, a chamada PEC emergencia­l

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil