● ANÁLISE: Pedro Doria
Experiências passadas mostram que as empresas se transformam mesmo quando ganham os processos.
Faz um quarto de século que o governo americano abriu pela última vez um grande processo antitruste como este. Naquela época, do outro lado estava a Microsoft. Antes, nos anos 1980, foi a AT&T. Em finais dos 60, a IBM. A experiência passada revela algo: tais processos duram anos, imobilizam as empresas neste período e, mesmo quando ganham, as transformam.
O governo dos EUA acusa o Google de forçar um monopólio sobre o sistema de buscas, pagando para que plataformas adotassem seu serviço como padrão. A empresa nega e diz que sua busca foi escolhida pelos consumidores.
O problema é complexo: na internet ocorre algo chamado efeito de redes. Quanto mais gente usa um serviço — quanto maior a rede que ele forma —, melhor o serviço. Sim: a internet tende ao monopólio. Mas leis antitruste não servem tanto para combater monopólios e sim para evitar que sejam abusados.
A leitura que o governo americano faz é de que, ao atrelar publicidade à busca, o Google extinguiu o oxigênio de todo um ecossistema que antes havia. Não se trata, portanto de dividir uma empresa, a tradicional solução do antitruste.
Dentro do Google, o problema tampouco é simples. Se ocorrer lá o que ocorreu antes, seus executivos serão obrigados a botar a atenção na defesa deste processo nos próximos anos. Serão anos de inovação reduzida, sem dúvida. Aliás, o próprio Google surgiu no vácuo de quando a Microsoft não olhava para coisas como busca, preocupada em não ser quebrada pelo governo.