Mujica renuncia e encerra a carreira política
Em seu discurso de despedida do Senado, ex-presidente diz que aprendeu com a vida que o ‘ódio é cego e destrói’
José Mujica, ex-presidente uruguaio de 85 anos, encerrou ontem sua carreira política, em uma trajetória que incluiu a luta armada, duas prisões em condições muito duras e, depois, o ingresso no sistema eleitoral com uma mensagem de austeridade e humanidade que marcou sua passagem pela presidência (2010-2015).
“No meu jardim não cultivo o ódio há décadas. Aprendi uma dura lição que a vida me deu: o ódio acaba sendo estúpido porque nos faz perder a objetividade diante das coisas. O ódio é cego, como o amor, mas o amor é criativo e o ódio nos destrói”, disse no discurso de despedida no Senado do Uruguai. Anteriormente, ele disse que precisava cuidar da saúde.
Nascido em uma área operária de Montevidéu, ele foi testemunha das lutas operárias dos anos 50, quando o Uruguai dava seus últimos suspiros como a “Suíça da América”. Em meados da década de 60 ingressou no Movimento de Libertação Nacional Mln-tupamaros, uma guerrilha urbana responsável por roubos, sequestros e assassinatos, até sua derrota em 1972, antes da ditadura que se instalou de 1973 até 1985. Preso em 1972, só foi libertado em 1985.
Na sua gestão, ele apoiou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto e a regulamentação do mercado de maconha, o que lhe rendeu a simpatia de progressistas do mundo todo. Com ele, também renunciou Julio María Sanguinetti, de 84 anos, ex-presidente (19851990 e 1995-2000) e adversário político de Mujica – ambos se abraçaram na despedida.