O Estado de S. Paulo

Ministério diz que comprará 46 milhões de doses da vacina Coronavac este ano

- Pedro Venceslau Fabiana Cambricoli

Decisão foi informada pelo ministro Eduardo Pazuello aos 27 governador­es, destacando que o imunizante será ‘a vacina brasileira’, pois mesmo tendo sido desenvolvi­do na China será produzido integralme­nte na fábrica de São Paulo. A compra deve custar R$ 1,9 bilhão

O Ministério da Saúde vai comprar 46 milhões de doses da vacina Coronavac, desenvolvi­da pela farmacêuti­ca chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã. A informação foi confirmada ao Estadão pelo governo de São Paulo e divulgada mais tarde pelo Ministério da Saúde.

A decisão federal foi informada ontem pelo ministro Eduardo Pazuello em reunião virtual com os 27 governador­es. No encontro, Pazuello ressaltou que a “vacina do Butantã será a vacina brasileira” ao lembrar que o imunizante, mesmo tendo sido desenvolvi­do na China, será produzido integralme­nte na fábrica de São Paulo.

Ele destacou o papel do instituto na produção de outros imunizante­s ofertados no SUS – “75% das vacinas que nós compramos para vacinar os brasileiro­s vêm do Butantã”. “E essa vacina da Sinovac é a mesma tecnologia que o Butantã utiliza para outras vacinas, como da H1N1.”

Segundo o Palácio dos Bandeirant­es, a expectativ­a é de que a aquisição ocorra até o fim do ano, após o imunizante obter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a vacinação tenha início já em janeiro. O ministério informou que investirá R$ 1,9 bilhão na compra. O recurso extra será liberado por meio de medida provisória.

O anúncio encerra especulaçõ­es que indicavam que poderia haver resistênci­as federais por divergênci­as entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista João Doria (PSDB). O ministério disse ter assinado um protocolo de intenções com o Butantã, mas ressaltou que, para dar seguimento ao processo, o instituto terá de enviar “todos os documentos comprobató­rios dos ensaios clínicos já feitos e daqueles em andamento”. Também ressaltou que o produto terá de comprovar segurança e eficácia.

Além da Coronavac, o ministério já tem acordo com o laboratóri­o Astrazenec­a para compra de 100 milhões de doses da vacina desenvolvi­da pela farmacêuti­ca em parceria com a Universida­de de Oxford. No Brasil, o imunizante é testado pela Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp) e deverá ser produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O Brasil tem ainda a garantia de 40 milhões de doses por integrar a Covax, iniciativa da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) que reúne vários imunizante­s.

De acordo com o ministério, além dessas doses, a Fiocruz deverá começar, em abril, a produção própria da vacina da Astrazenec­a/oxford e ofertar até 165 milhões de doses durante o segundo semestre de 2021. De acordo com Pazuello, todas as vacinas, incluindo a Coronavac, serão distribuíd­as a todos os Estados pelo Programa Nacional de Imunizaçõe­s (PNI).

Prioridade. A Coronavac e a vacina da Astrazenec­a/oxford estão sendo estudadas com a administra­ção de duas doses por pessoa. O quantitati­vo inicial de 146 milhões de doses, portanto, seria suficiente para vacinar 73 milhões de pessoas, cerca de um terço da população.

De acordo com o ministério, serão vacinados primeiro os profission­ais de saúde e integrante­s de grupos de risco, como portadores de doenças crônicas que têm chance aumentada de complicaçõ­es pela covid. De acordo com a pasta, a Organizaçã­o Panamerica­na da Saúde (Opas) afirma que a vacinação de metade da população pode ser suficiente para alcançar a chamada imunidade coletiva (ou de rebanho).

O ministério citou esse dado para reafirmar que não recomendar­á a obrigatori­edade de vacinação aos gestores locais, como prefeitos e governador­es, “respeitand­o o direito individual de cada brasileiro”. O tema criou embate entre Bolsonaro e Doria, após o governador dizer que o imunizante seria de uso compulsóri­o em São Paulo. O presidente afirmou que o ministério não seguirá esse caminho.

Status. A Coronavac, segundo o Instituto Butantã, demonstrou ser o imunizante em desenvolvi­mento no mundo com o menor índice de efeitos colaterais. Os dados de segurança, apresentad­os nesta semana, levaram em consideraç­ão o acompanham­ento de 9 mil voluntário­s brasileiro­s já vacinados no País na fase 3 de testes clínicos,.

Os resultados de eficácia, porém, só devem sair no fim do ano, conforme revelou o Estadão no domingo. Até agora, o Butantã conseguiu vacinar 9 mil dos 13 mil participan­tes esperados. Após a conclusão da análise de eficácia, os dados devem ser enviados à Anvisa, que tem até dois meses para conceder ou não o registro.

Em fase similar de pesquisa está o produto de Oxford/astrazenec­a. No Brasil, 6 mil dos 10 mil voluntário­s já foram vacinados com ao menos uma dose. Não há previsão de quando os primeiros resultados de eficácia devem ser divulgados.

Para ser aprovado pela Anvisa, qualquer imunizante deverá comprovar, por meio de testes clínicos, uma eficácia de ao menos 50% contra a covid. O índice é calculado pela comparação da incidência da doença entre os voluntário­s da pesquisa que receberam a vacina e o grupo que tomou placebo.

• Compromiss­o “Já fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantã. É o compromiss­o da aquisição dessas vacinas, que serão fabricadas até o início de janeiro. Essas vacinas servirão para iniciarmos a vacinação em janeiro.” Eduardo Pazuello

MINISTRO DA SAÚDE

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ERASMO SALOMÃO/MS Reunião virtual. Anúncio encerra especulaçõ­es sobre resistênci­as; País já tem acordos para 146 milhões de doses, suficiente­s para um terço da população

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