O Estado de S. Paulo

Imunização coletiva é arma poderosa para frear doenças

Além de evitar a infecção em cada pessoa, vacina reduz o número de possíveis hospedeiro­s, explicam especialis­tas

- Larissa Gaspar

Enquanto o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirma que a vacinação será obrigatóri­a no Estado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que as pessoas não serão obrigadas a tomarem o imunizante. Especialis­tas ouvidos pelo Estadão ressaltam que a vacina, independen­temente da estratégia, é uma ferramenta coletiva de saúde pública. “Em momentos de epidemias, ou pandemias, o mais importante não é a falta de doença no indivíduo e sim a quantidade de hospedeiro­s que um vírus tem para circular. A vacinação cria resistênci­a ao vírus e quanto mais pessoas resistente­s menos pessoas o vírus pode infectar. A vacina em massa é uma ferramenta poderosa de controle de doenças”, afirma Flávio Guimarães da Fonseca, virologist­a da UFMG.

Gonzalo Vecina, ex-presidente da Anvisa e professor da USP, aponta que é papel do Ministério da Saúde desenvolve­r campanhas para estimular que as pessoas aceitem ser vacinadas. O principal risco em não imunizar as pessoas é a maior incidência de doenças que poderiam ser evitadas. “As vacinas que temos hoje são seguras e os efeitos colaterais são absolutame­nte suportávei­s, como febre, mal-estar, dor de cabeça. Não há razão para evitar tomar a vacina. (No entanto) em tempos de epidemia se não se consegue cobrir 60% a 70% da população o vírus continuará circulando”, diz ele, colunista do Estadão.

Conforme Fonseca a estratégia para a vacinação da covid-19 será “dentro das possibilid­ades”, uma vez que não haverá imunizante para 7 bilhões de pessoas no planeta a curto prazo. “O ideal seria vacinar todo mundo, principalm­ente no caso do coronavíru­s, uma doença que não possui distinção de gênero, raça ou faixa etária”, diz.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIM), Renato Kfouri, reforça que se vacinar é ter empatia. “É mais do que proteger a si mesmo, é agir com consciênci­a. A conscienti­zação é muito mais efetiva que a coerção. Não se vai imunizar uma pessoa amarrada. A obrigatori­edade, no caso de imunização de crianças, visa a criar uma norma legal sobre a importânci­a da vacina. Para adultos, é mais difícil”, conta.

“Em um país democrátic­o, é complicado obrigar a vacinação. Mas qualquer estratégia de vacinação deve ser ampla. Caso contrário, teremos grupos populacion­ais descoberto­s”, explica Fonseca. Como a vacinação em massa não será possível em futuro próximo, a primeira medida seria escalonar a vacina, priorizand­o grupos de risco e profission­ais da linha de frente de combate ao coronavíru­s.

Com diversas vacinas em desenvolvi­mento, Vecina afirma que não é indicado que uma pessoa tome mais de um tipo. “Antes de qualquer indicação nesse sentido, porém, terão de ser feitos testes específico­s para ver se existe algum tipo de incompatib­ilidade. A princípio, uma pessoa que foi imunizada por uma vacina não pode tomar outra.”

• Para conter o vírus

“O ideal seria vacinar todo mundo, principalm­ente no caso do coronavíru­s, que é uma doença que não possui distinção de gênero, raça ou faixa etária. Tecnicamen­te, se não houver vacinação em massa, o vírus continuará circulando. E para vacinar terá de ser de maneira obrigatóri­a. Não há espaço para meias medidas.” Flávio Fonseca

VIROLOGIST­A DO CENTRO DE

TECNOLOGIA DE VACINAS E

PESQUISADO­R DO DEPARTAMEN­TO DE

MICROBIOLO­GIA DA UFMG

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