O Estado de S. Paulo

‘Senhor Olimpíada’ só pensa no Japão

Tóquio-2020. Hugo Hoyama se prepara para ir aos Jogos pela oitava vez, a segunda como técnico da equipe feminina de tênis de mesa

- Raul Vitor

O técnico da seleção brasileira feminina de tênis de mesa, Hugo Hoyama, vai participar de sua oitava edição dos Jogos Olímpicos, em 2021. No Brasil, não há ninguém como ele. O “Senhor Olimpíada” acumula experiênci­as no maior evento esportivo do mundo tanto como atleta (1992, 1996, 2000, 2004, 2008 e 2012) quanto como técnico (Rio-2016). E quer fazer valer tudo isso. Após um mês com sua equipe na cidade de Gaia, em Portugal, pela Missão Europa do COB, Hoyama volta ao Brasil e se diz satisfeito com o trabalho.

“Esse período em que as meninas treinaram em Gaia foi essencial. Elas estavam há quatro, cinco meses paradas. Não completame­nte, claro, mas paradas. Elas faziam treinos em casa, mas isso não tem comparação. É muito diferente. A limitação impõe um ritmo distinto ao de jogo”, destacou Hoyama ao Estadão. “Lá, tivemos as melhores condições de treino. Ginásio, alimentaçã­o e hospedagem. Fora a recepção dos portuguese­s, que foi sensaciona­l. Isso nos ajudou muito. Nos sentimos em casa e seguros. Eles nos atenderam da melhor maneira e isso foi marcante para mim.”

Em meio à pandemia e com os Jogos remarcados de 2020 para 2021, o Comitê Olímpico do Brasil conseguiu enviar 200 atletas de algumas modalidade­s para treinar em Portugal. Hoyama afirma que saiu de lá com as portas abertas para voltar. Isso em decorrênci­a de três práticas que adota ao realizar treinos no exterior e que aprendeu quando era mais novo: respeito, educação e disciplina.

“É importante participar desse tipo de intercâmbi­o. Eu e as meninas já fomos para o Japão, China e outros lugares da Europa. Fazer esse tipo de viagem é bom para que elas possam treinar com outros atletas e experiment­ar outros estilos de jogo. É superimpor­tante. Para mim, o crucial é sair de lá com as portas abertas. Por isso eu sempre digo que temos de respeitar e ter disciplina. Lá, não foi diferente. Sempre teremos as portas abertas por isso”, pondera o técnico, que voltou ao Brasil com as atletas Giulia Takahashi e Laura Watanabe. Bruna Takahashi, Carol Kumahara e Jessica Yamada permanecer­am em Portugal.

Segundo Hoyama, além de ter garantido portas abertas, o respeito e a disciplina também contribuír­am para que nenhum caso de infecção pela covid-19 fosse registrado durante os treinos na Europa. “Sempre respeitei tudo que foi pedido. Lá, eles tinham um protocolo rígido e necessário para que nós pudéssemos treinar. Nenhum atleta teve problema com a covid por causa dessas prevenções”, explicou o treinador, que dedica parte de seu sucesso aos aprendizad­os que teve no país-sede da próxima Olimpíada.

Hoyama diz que fez seu primeiro estágio no Japão, que considera sua segunda casa, aos 15 anos e aprendeu muito. Tanto nos treinos quanto fora deles. “Em 1985, era muito difícil manter contato com sua família e amigos. Morei em um alojamento de uma universida­de de Tóquio e tinha de lavar minha roupa e fazer minha própria comida. Isso foi importante para o meu aprendizad­o e caráter. Sempre com disciplina, respeito e educação. Posso me tornar repetitivo, mas essas práticas são importante­s. Levo isso comigo desde então”, disse.

Hoyama aponta sua alegria em voltar para o Japão. “Gosto de tudo lá. Desde a comida até o clima. Conheço muito bem o Japão. Com certeza esse evento vai ficar marcado na minha vida. Claro, as outras sete Olimpíadas já estão, mas essa tem sabor especial”, disse.

Recordação. De todos os Jogos em que esteve, Hugo Hoyama aponta com carinho a disputa de 1996, nos Estados Unidos. “A Olimpíada mais marcante que já participei foi a de Atlanta, onde tive meu melhor resultado, 9.º lugar. Mas, na verdade, todas as edições foram marcantes. Eu nunca voltei de lá pensando nas coisas ruins. Sempre quis aproveitar ao máximo a experiênci­a olímpica. Não é fácil chegar até uma Olimpíada. Participei de seis edições como atleta e sei bem que não é um caminho fácil”, afirma.

Hoyama não faz conta para a corrida das medalhas do Brasil nos Jogos de Tóquio na modalidade. Diz que é difícil. Ele mesmo nunca esteve nem perto delas. “Sabemos que a luta por medalha é difícil por causa da concorrênc­ia dos países asiáticos, mas as meninas estão subindo de nível. A Bruna é a brasileira mais bem posicionad­a, tem treinado forte. A Carol, a Laura e a Giulia também estão bem. Tenho certeza de que as três atletas que forem disputar os Jogos vão representa­r o País da melhor maneira possível, jogando ponto a ponto com as rivais.”

Sua meta – ficar entre os 20 ou 30 melhores do mundo – é modesta, mas um avanço para o esporte no Brasil. “Lógico, nosso sonho é conquistar uma medalha, mas temos de ter pé no chão. Espero que elas possam se destacar e mostrar a evolução do tênis de mesa feminino.”

Hugo Hoyama TÉCNICO DA EQUIPE FEMININA ‘Disciplina, respeito e educação. Posso me tornar repetitivo, mas são práticas importante­s’

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Evolução. Hoyama vê cresciment­o da equipe feminina de tênis de mesa, mas admite que ainda não há chance de medalha

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