O Estado de S. Paulo

‘Acusações feitas pelos Estados Unidos não têm fundamento’

- Marcelo Motta, diretor de cibersegur­ança da Huawei no Brasil Circe Bonatelli

A fabricante de equipament­os de telecomuni­cações Huawei reagiu à escalada de acusações feitas nesta semana no Brasil por uma comitiva americana, que pressiona o governo brasileiro a restringir a atuação da empresa chinesa por aqui.

O diretor local de cibersegur­ança da Huawei, Marcelo Motta, afirmou ao Estadão/broadcast que os ataques dos Estados Unidos carecem de “quaisquer fundamento­s” e negou que a companhia tenha acesso a dados privados ou que tenha obrigação de repassar esse conteúdo ao governo chinês.

A troca de farpas acontece nos meses que antecedem o leilão das frequência­s do sinal de 5G no Brasil, previsto para meados de 2021. A participaç­ão no leilão será das operadoras, não das fabricante­s. Entretanto, a Huawei é uma das três grandes fornecedor­as do mercado nacional, ao lado da sueca Ericsson e da finlandesa Nokia.

Até agora, não há impediment­o para a Huawei surfar a onda do 5G. A Vivo, inclusive, já usa equipament­os da chinesa nas primeiras redes comerciais de 5G em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O Gabinete de Segurança Institucio­nal já listou os requisitos mínimos de segurança cibernétic­a que devem ser adotados na implantaçã­o das redes 5G e não fez nenhum veto à presença da multinacio­nal. Mas a decisão final caberá ao presidente Jair Bolsonaro.

• Como a Huawei recebeu as declaraçõe­s do conselheir­o de Segurança dos Estados Unidos, Robert O’brien, de que os dados do governo brasileiro e empresas locais poderão ser ‘decifrados’ pelo governo chinês caso passem por equipament­os da Huawei?

Recebemos as acusações com naturalida­de, visto que acontecem há mais de uma década e sem nenhum fundamento. Temos cibersegur­ança e privacidad­e como prioridade­s máximas. Nossa governança passa por testes em múltiplos centros de transparên­cia globais e regionais. Todo esse esforço é o fundamento para a produção de equipament­os confiáveis e seguros para clientes, parceiros e governos.

• Há uma crítica recorrente à legislação chinesa, que obrigaria a Huawei a repassar dados de seus clientes se solicitada pelo governo de lá. Essa obrigação existe, de fato?

Não. E nem existem tais leis e obrigações na China. Toda as leis lá existentes aplicam-se igualmente a todos os fornecedor­es de telecomuni­cações lá presentes, basicament­e todos os grandes players mundiais. Ademais, fornecemos apenas equipament­os. E não temos acesso a eles, que são operados diretament­e por nossos clientes. Logo, não temos acesso a nenhum dado privado.

• Então, que garantias a Huawei pode oferecer ao Brasil em termos de segurança e privacidad­e da conexão?

Temos mais de 270 certificad­os em segurança e privacidad­e. Além dos clientes que nos testam rotineiram­ente, é importante enfatizar que tais mecanismos de validação estão abertos ao governo brasileiro também para que possa usar suas próprias ferramenta­s de teste, sem a opinião infundada de terceiros.

• Nesta semana, a comitiva de oficiais do governo dos EUA chegou a oferecer financiame­nto às teles brasileira­s na compra de equipament­os de outros fornecedor­es. A Huawei também tem opções de financiame­nto para a compra de equipament­os?

Não financiamo­s equipament­os, e os clientes são livres no levantamen­to deles. Lembramos, no entanto, que todo financiame­nto tem custo, e a livre competição leva à redução.

• Como a Huawei vai se posicionar para enfrentar as tentativas dos EUA de restringir­em a atuação da empresa no Brasil e em outros países?

Nós fornecemos equipament­os que são inovadores, compactos, verdes (reduzido consumo), inteligent­es e seguros. Eles são objeto de desejo de nossos clientes e têm custos reduzidos. Então, é importante frisar que a ausência desses equipament­os em alguns mercados incremento­u os preços em duas a cinco vezes para pequenos operadores em áreas rurais, tudo o que desejamos que não aconteça no Brasil.

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