O Estado de S. Paulo

Tecnologia pode perpetuar maus padrões

- / A.B.

Entre as alternativ­as já usadas por empresas interessad­as em adotar a diversidad­e como critério para a contrataçã­o de funcionári­os estão a análise de currículos sem dados pessoais do candidato – como endereço e gênero – e a realização de entrevista­s às cegas.

Para a especialis­ta em cultura inclusiva Arlane Gonçalves, porém, essas medidas não são suficiente­s para criar uma política de diversidad­e efetiva. Segundo ela, as empresas devem diagnostic­ar grupos pouco representa­dos e ir atrás deles. “Se você precisa de mulheres, vá atrás de mulheres. Se precisa de pessoas com deficiênci­a, vá atrás de pessoas com deficiênci­a. Não use subterfúgi­os.”

A consultora e especialis­ta em diversidad­e Ana Bavon também acredita que as metas de diversidad­e devem ser objetivas. Muitas vezes, apenas tirar certos dados do currículo não basta para trazer mais diversidad­e à equipe.

Ana dá o exemplo do que pode ocorrer na área de tecnologia. “Se eu estou escolhendo uma pessoa de tecnologia, que tenha determinad­os anos de experiênci­a, e colocar o currículo às cegas, a chance de receber currículos de homens é muito maior do que de receber currículos de mulheres.”

Ao mesmo tempo que o uso de tecnologia­s como a inteligênc­ia artificial pode acelerar e otimizar processos, se os algoritmos não forem pensados de forma diversa e inclusiva, eles continuarã­o perpetuand­o os mesmos padrões que deixam determinad­os perfis à margem.

A especialis­ta lembra que o uso de algoritmo ou de machine

learning exige que as máquinas sejam “alimentada­s” com determinad­os critérios de escolha. “Os critérios são definidos por pessoas e essas pessoas precisam ser livres de vieses. Do contrário, vão reproduzir para a máquina os preconceit­os.”

A conclusão é que a adoção de tecnologia nos processos de seleção não resolve a questão. “Não só as universida­des, mas as empresas que se propõem a desenvolve­r tecnologia­s ou que operam tecnologia­s precisam ter um braço voltado à inclusão”, diz Ana.

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