As duas tendências irreversíveis
Uma tendência irreversível, de pelo menos 20 anos, mas que agora se tornou óbvia é que tudo será “figital”. Mercados, empresas, times, pessoas, governos estão na transição do físico para uma articulação entre o físico, que passa a ser habilitado e estendido pelo digital, ambos orquestrados no espaço social, em tempo real. Figital é a união destes três aspectos. Parte significativa do comportamento dos agentes de mercado, de trabalhadores a clientes, deixou de se realizar na dimensão física e passou a se iniciar no digital.
Agora, as empresas têm que fazer reflexões profundas sobre seus modelos de negócios – o conjunto de respostas às perguntas “quem paga? O quê? Para quem? Fazer o quê? Para quem? Quando, como onde e por quê?”. Tudo em tempo real. Em condições normais, para qualquer negócio, as respostas a estas perguntas podem estar certas, erradas, indefinidas ou mudando. Nas transições, as respostas estão quase sempre erradas, indefinidas ou mudando. Sem falar que as perguntas são difusas, incompletas e dependem do contexto. O desafio de transformação digital– ou melhor, “figital” –, que já estava na pauta desde o início da década, se tornou urgente.
Outra tendência irreversível é que o trabalho será híbrido. A começar pelo óbvio – o local, que agora está no espaço figital. O trabalho já é e cada vez mais será realizado por trabalhadores humanos e agentes digitais, criando performances híbridas, com os segundos assumindo parte das competências e responsabilidades. Por fim, os contratos do futuro devem ser entre um trabalhador e mais de uma empresa, portanto híbridos.
Um sinal dos tempos aparece na pesquisa Hbr/freshworks 2020, onde 66% dos trabalhadores diz esperar que aspectos repetitivos do trabalho sejam realizados por máquinas no futuro próximo. Para patrões desavisados, um recado: 77% dos colaboradores buscariam novo emprego se não houvesse tecnologia e informação para realização apropriada do trabalho. O desempenho da dimensão digital do espaço “figital” já passou a ser um imperativo de sobrevivência para negócios – e a disputa é por trabalhadores, não só clientes.
Tudo poderia ser acelerado se as relações internacionais fossem mais simples: a The Economist estima que a abertura global de fronteiras aumentaria o PIB do planeta em R$ 440 trilhões. Mas mesmo sem tais mudanças no curto prazo, o trabalho já é híbrido no espaço “figital”, onde o mercado não está limitado pela geografia do trabalhador. À medida que mais gente descubra o que tem que aprender para trabalhar no mundo, mais trabalho será híbrido – a menos que haja uma grande marcha à ré e fechemos as fronteiras digitais. Mas essa, até aqui, não é uma tendência irreversível.