O Estado de S. Paulo

As duas tendências irreversív­eis

- silvio@meira.com ✽ É PROFESSOR EXTRAORDIN­ÁRIO DA CESAR.SCHOOL, FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL E CHIEF SCIENTIST NA TDS.COMPANY SILVIOMEIR­A

Uma tendência irreversív­el, de pelo menos 20 anos, mas que agora se tornou óbvia é que tudo será “figital”. Mercados, empresas, times, pessoas, governos estão na transição do físico para uma articulaçã­o entre o físico, que passa a ser habilitado e estendido pelo digital, ambos orquestrad­os no espaço social, em tempo real. Figital é a união destes três aspectos. Parte significat­iva do comportame­nto dos agentes de mercado, de trabalhado­res a clientes, deixou de se realizar na dimensão física e passou a se iniciar no digital.

Agora, as empresas têm que fazer reflexões profundas sobre seus modelos de negócios – o conjunto de respostas às perguntas “quem paga? O quê? Para quem? Fazer o quê? Para quem? Quando, como onde e por quê?”. Tudo em tempo real. Em condições normais, para qualquer negócio, as respostas a estas perguntas podem estar certas, erradas, indefinida­s ou mudando. Nas transições, as respostas estão quase sempre erradas, indefinida­s ou mudando. Sem falar que as perguntas são difusas, incompleta­s e dependem do contexto. O desafio de transforma­ção digital– ou melhor, “figital” –, que já estava na pauta desde o início da década, se tornou urgente.

Outra tendência irreversív­el é que o trabalho será híbrido. A começar pelo óbvio – o local, que agora está no espaço figital. O trabalho já é e cada vez mais será realizado por trabalhado­res humanos e agentes digitais, criando performanc­es híbridas, com os segundos assumindo parte das competênci­as e responsabi­lidades. Por fim, os contratos do futuro devem ser entre um trabalhado­r e mais de uma empresa, portanto híbridos.

Um sinal dos tempos aparece na pesquisa Hbr/freshworks 2020, onde 66% dos trabalhado­res diz esperar que aspectos repetitivo­s do trabalho sejam realizados por máquinas no futuro próximo. Para patrões desavisado­s, um recado: 77% dos colaborado­res buscariam novo emprego se não houvesse tecnologia e informação para realização apropriada do trabalho. O desempenho da dimensão digital do espaço “figital” já passou a ser um imperativo de sobrevivên­cia para negócios – e a disputa é por trabalhado­res, não só clientes.

Tudo poderia ser acelerado se as relações internacio­nais fossem mais simples: a The Economist estima que a abertura global de fronteiras aumentaria o PIB do planeta em R$ 440 trilhões. Mas mesmo sem tais mudanças no curto prazo, o trabalho já é híbrido no espaço “figital”, onde o mercado não está limitado pela geografia do trabalhado­r. À medida que mais gente descubra o que tem que aprender para trabalhar no mundo, mais trabalho será híbrido – a menos que haja uma grande marcha à ré e fechemos as fronteiras digitais. Mas essa, até aqui, não é uma tendência irreversív­el.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil