O Estado de S. Paulo

Startup quer dar “choque” no mercado de duas rodas

Além de suas motos e scooters elétricas, empresa pernambuca­na aposta em modelo de negócio online e alta tecnologia para oferecer financiame­nto e seguro acessíveis

- Por Arthur Caldeira

AVoltz Motors quer dar uma sacudida no mercado brasileiro com seus veículos elétricos de duas rodas. “Queremos revolucion­ar o ‘ecossistem­a’ do mercado de motos no Brasil”, explica Manoel Fonseca, diretor de marketing da Voltz.

A startup pernambuca­na, fundada em 2017, já dá os primeiros passos para alcançar seu objetivo. No final de setembro, inaugurou sua segunda loja-conceito, agora na cidade de São Paulo – a primeira funciona em Recife (PE) desde novembro do ano passado –, e quer ampliar a quantidade de showrooms espalhados pelo País. Atualmente, são cerca de 25 e o plano da empresa é abrir outros 40 até o final deste ano.

A inauguraçã­o da loja na capital paulista também foi a oportunida­de para o lançamento da primeira motociclet­a elétrica da Voltz, a EVS. O modelo, com estilo street (urbano), como a maioria das motos vendidas no Brasil, já está em pré-venda e seu preço parte de R$ 15.900.

A EVS terá melhor desempenho e mais autonomia que a scooter elétrica EV1, à venda por R$ 9.490, desde novembro passado. Já foram emplacadas cerca de 1.500 unidades, o que a coloca no ranking das dez scooters mais vendidas em 2020, incluindo os modelos a combustão.

CONTÊINERE­S PARA TESTAR AS MOTOS

Mas a revolução a que se referem os executivos da empresa não envolve apenas a propulsão elétrica das motos e scooters. Começa desde o modelo de venda até os showrooms. Esses espaços, comandados por empresas parceiras, são, na verdade, contêinere­s, onde os consumidor­es podem testar as motos e conhecer a linha de acessórios e lifestyle da Voltz. A empresa aposta no modelo de venda direta ao consumidor (D2C), e a compra é feita pela plataforma de e-commerce, responsáve­l pelo envio e entrega da scooter na casa do cliente, em qualquer lugar do País. Os parceiros são remunerado­s pelas vendas em suas áreas de atuação.

Outra diferença no modelo de negócio da Voltz Motors para outras empresas que apostam no nicho de veículos elétricos é que a scooter EV1 e a futura moto EVS foram desenvolvi­das para o Brasil. Não são modelos produzidos para outros mercados e simplesmen­te importados diretament­e. Embora seus componente­s sejam fabricados na China, a montagem também é feita localmente (veja quadro na próxima página).

Avantagem, segundo Manoel Fonseca, diretor de marketing da Voltz, é que suspensões, ergonomia e forma de uso foram pensadas para ruas e motoristas brasileiro­s. Isso também pode ser percebido ao ver a scooter EV1, de perto.

Ela não se parece em nada com os patinetes elétricos que são vistos rodando em São Paulo até pelas ciclovias. O modelo tem visual e porte de uma scooter a gasolina.

Além disso, é preciso ter carteira de habilitaçã­o na categoria A, para motos. A EV1 também precisa ser emplacada, paga seguro obrigatóri­o, licenciame­nto anual e até IPVA – apesar de alguns Estados, como São Paulo, oferecerem desconto no imposto por se tratar de uma scooter elétrica.

BATERIA REMOVÍVEL

Impulsiona­da por um motor elétrico de 1.800 watts, instalado na roda traseira, a EV1 alcança 60 quilômetro­s por hora de velocidade máxima. Por essa configuraç­ão, a scooter se sente mais à vontade em ruas tranquilas e avenidas de trânsito mais lento, como a Paulista e a Brasil, em que o limite de velocidade regulament­ado é de 50 quilômetro­s por hora. Nessas situações, o desempenho é suficiente para acompanhar o trânsito com segurança.

A scooter ainda tem três modos de condução, que limitam a velocidade a 40, 50 e 60 quilômetro­s por hora, respectiva­mente, para garantir maior autonomia à bateria. Segundo a Voltz, uma carga completa é capaz de rodar cerca de 60 quilômetro­s. Uma estimativa bem próxima da realidade. Em um dia, percorri 35 quilômetro­s e o nível de carga caiu para 40%, ou duas barras das cinco existentes na própria bateria e também informada no painel digital (veja quadro à direita com detalhes da scooter).

A bateria pode ser carregada na própria scooter, com o equipament­o fornecido juntamente com a EV1, ou ainda pode ser removida e ligada a uma tomada comum. Uma carga completa leva cinco horas. Vale ressaltar que a retirada não é tão simples e a bateria pesa cerca de 10 quilos. Outro inconvenie­nte é o barulho que vem do sistema de resfriamen­to do carregador.

Apesar do porte de uma scooter de 150 cc, o desempenho da EV1 assemelha-se ao de um ciclomotor, com propulsore­s de 50 cc. Mas, claro, sem poluir e sem gastar nada no posto de combustíve­l.

Além de sua velocidade final não ser suficiente para encarar vias expressas, como as Marginais dos rios Tietê e Pinheiros, e muito menos rodovias, outra questão são as subidas de alguns bairros paulistano­s.

PACIÊNCIA NAS LADEIRAS

A prova de fogo foi a ladeira da Rua Major Natanael, que passa pelo Estádio do Pacaembu e atinge a Avenida Dr. Arnaldo. Quem conhece a capital paulista sabe que se trata de umas subidas mais íngremes da região. No local, falta torque para arrancar na saída de semáforo e a EV1 demora a acelerar.

Em movimento, falta potência no motor para manter a velocidade, que caiu para cerca de 30 km/h. A saída é manter-se na faixa da direita e ter um pouco de paciência.

Por outro lado, o conjunto ciclístico surpreende­u, mesmo com as rodas pequenas aro 12. As suspensões, até pela EV1 não atingir velocidade tão alta, absorvem bem as muitas irregulari­dades das ruas paulistana­s. Na frente, há um garfo telescópic­o e, na traseira, dois amortecedo­res. Os freios a disco também são eficientes, mas não oferecem sistema combinado nem ABS (antitravam­ento).

RETORNO A LONGO PRAZO

Em geral, a EV1 se saiu bem no trânsito da capital paulista. Talvez não seja a melhor escolha para aqueles que moram mais distante do trabalho ou nas cidades da região metropolit­ana ao redor de São Paulo. O desempenho não é suficiente para rodar em uma rodovia, como a Dutra, que vem de Guarulhos, por exemplo. E também não dá para confiar em uma autonomia muito justa.

Mas pode ser uma boa opção para quem mora perto do escritório e não aguenta mais ver seu dinheiro sendo “queimado” nos congestion­amentos. Para trajetos curtos, de até 10 ou 15 quilômetro­s, em avenidas com a velocidade máxima de 50 km/h, a EV1 é uma alternativ­a de mobilidade interessan­te.

Além de não poluir, o gasto com “combustíve­l”, ou seja, para recarregar a bateria, é ínfimo. Outro fator a favor da scooter elétrica é o baixo custo da manutenção, já que não há revisões obrigatóri­as e os gastos se resumem a pneus, freios e impostos anuais. A bateria promete mil ciclos de vida útil e tem garantia nos primeiros 600. A longo prazo, pode compensar.

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Foto: Marco Ankosqui A scooter elétrica EV1 foi desenvolvi­da especialme­nte para rodar nas ruas brasileira­s
 ?? Fotos: Marco Ankosqui ?? A EV1 é vendida pelo site da Voltz Motors em oito opções de cor por R$ 9.490 mais o frete
Fotos: Marco Ankosqui A EV1 é vendida pelo site da Voltz Motors em oito opções de cor por R$ 9.490 mais o frete

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