O Estado de S. Paulo

Hacker suspeito de atacar TSE é preso em Portugal

Jovem de 19 anos estava com tornozelei­ra eletrônica e diz ter feito invasão a site por ‘diversão’; três brasileiro­s foram alvo de buscas

- / IDIANA TOMAZELLI, VINÍCIUS VALFRÉ, DE BRASÍLIA, PEPITA ORTEGA e FAUSTO MACEDO

Um hacker português suspeito de promover o ataque contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no primeiro turno das eleições foi preso ontem em Portugal. Com 19 anos e de tornozelei­ra eletrônica por outro crime, o jovem diz ter invadido o site por “diversão”.

Um hacker português suspeito de promover o ataque contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no primeiro turno das eleições deste ano foi preso ontem, em Portugal. A ação foi deflagrada pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalid­ade Tecnológic­a da Polícia Judiciária daquele país, em cooperação com a Polícia Federal (PF) brasileira.

O Estadão apurou com fontes ligadas às investigaç­ões, tanto no Brasil como em Portugal, que o preso é o hacker identifica­do como Zambrius. Ele é o líder do CyberTeam, grupo que reivindico­u a autoria de ataques ao TSE, ao Ministério da Saúde e ao Tribunal Regional da 1.ª Região (TRF1), ocorrido anteontem. Em email enviado à reportagem anteontem, ele disse ter agido por diversão. “O ataque efetuado no TRF1 foi por diversão e para demonstrar as vulnerabil­idades, e sim, o grupo em causa está ligado ao CyberTeam”, escreveu.

Zambrius tem 19 anos. Estava em prisão domiciliar e usava tornozelei­ra eletrônica. Conhecido pela polícia de Portugal, ele foi detido pela primeira vez em 2017, quando tinha 16 anos. Ele havia sido alvo das autoridade­s do país europeu pela última vez em abril, também por envolvimen­to em crimes cibernétic­os. O nome dele não foi revelado pelos policiais. Além da prisão do suspeito, policiais portuguese­s cumpriram mandado de busca e apreensão.

Outros três mandados de busca e apreensão e três medidas cautelares de proibição de contato entre investigad­os foram cumpridos em São Paulo e Minas Gerais pela PF. A 1.ª Zona Eleitoral do Distrito Federal decretou a quebra do sigilo dos emails dos três brasileiro­s investigad­os por auxiliar o hacker português no ataque contra o TSE no primeiro turno das eleições. A decisão foi deferida após a PF apresentar mensagens trocadas pelo grupo com o responsáve­l pela invasão.

Os investigad­os brasileiro­s têm entre 19 e 24 anos. As buscas determinad­as pela Justiça miraram aparelhos eletrônico­s, como notebooks, computador­es, pen drives, smartphone­s, tablets e roteadores de internet. Os três investigad­os no Brasil estão proibidos de manter contato um com o outro.

Os crimes investigad­os no inquérito são os de invasão de dispositiv­o informátic­o e de associação criminosa, ambos previstos no Código Penal; além de outros previstos no Código Eleitoral e na Lei das Eleições. A PF ressaltou que “não foram identifica­dos quaisquer elementos que possam ter prejudicad­o a apuração, a segurança ou a integridad­e dos resultados da votação” do dia 15.

As ações fazem parte da Operação Exploit, que tem como objetivo, segundo a PF, “desarticul­ar a associação criminosa que teria promovido os ataques hackers ao TSE”. O ataque resultou no acesso e na divulgação ilegal de informaçõe­s de servidores públicos do TSE. Após o ataque, a corte reforçou seu sistema de segurança digital para o segundo turno, cuja votação ocorre hoje.

Rede. Segundo a polícia portuguesa, os investigad­os formam uma rede criminosa constituíd­a para atacar, de maneira coordenada, não apenas órgãos públicos. “(Os investigad­os) Faziam parte de diferentes redes criminosas, agora afetadas por esta operação policial, e atuavam concertada e transnacio­nalmente, atacando funções de Estado, infraestru­turas críticas e interesses econômicos diversos”, informou a PF.

Agora, segundo fontes da polícia de Portugal, Zambrius será levado a um juiz, que poderá determinar novas medidas restritiva­s. Até então, além de usar tornozelei­ra eletrônica, o hacker não tinha acesso a computador­es. Segundo ele, os ataques a instituiçõ­es brasileira­s foram feitos por meio de um celular.

Em trocas de e-mail com o Estadão, nos dias 17 e 18, Zambrius disse que não tinha a intenção de ajudar a impulsiona­r teorias conspirató­rias contra a urna eletrônica e, sim, mostrar a vulnerabil­idade dos sistemas.

O nome da operação é uma referência a “exploit”, palavra em inglês usada para definir uma parte de software, um pedaço de dados ou uma sequência de comandos que tomam vantagem de um defeito a fim de causar um comportame­nto acidental ou imprevisto no software ou hardware de um computador ou em algum dispositiv­o eletrônico.

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WAGNER SOUZA/FUTURA PRESS Preparação. Urnas foram transporta­das ontem para os locais de votação em Campinas

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