O Estado de S. Paulo

É preciso olhar para a frente

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Na votação de hoje, o melhor para SP seria vitória de Bruno Covas, que já deu demonstraç­ões de sua seriedade e racionalid­ade.

Oex-presidente Lula da Silva declarou seu apoio ao candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, nos seguintes termos: “Todos os eleitores e eleitoras que votam no PT, todos os eleitores que são de esquerda, todos os eleitores progressis­tas, todos que querem restabelec­er a democracia no Brasil, têm agora o compromiss­o histórico de votar no companheir­o Guilherme Boulos para prefeito de São Paulo”.

A declaração é espantosa – não por cobrar dos petistas o voto em Boulos, pois isso é problema dele e de seus devotos, mas sim por dizer que se trata de um voto para “restabelec­er a democracia no Brasil”. Ora, quem disse que a democracia brasileira precisa ser “restabelec­ida”?

É essa visão lulopetist­a que envenena a democracia, tanto quanto o bolsonaris­mo que ela pretende antagoniza­r. Para o chefão do PT, se a esquerda não está no poder, então não há democracia.

Felizmente, contudo, a campanha municipal em São Paulo tem dado provas de que a peçonha autoritári­a deu lugar à discussão sobre os problemas da cidade e sobre quem é mais competente para resolvê-los. À parte as rusgas naturais de uma corrida eleitoral disputada, o que se tem são dois candidatos que se respeitam e ao eleitor.

Decerto a decepção e o cansaço com o populismo lulopetist­a e bolsonaris­ta, medidos em pesquisas e evidentes no cotidiano do País, foram essenciais para reconduzir a democracia ao leito da política, em que as coisas não se resolvem no grito, mas no diálogo e na aceitação da legitimida­de do adversário. Já não era sem tempo.

A declaração de Lula da Silva, contudo, só reforça a percepção de que a candidatur­a do sr. Boulos está atada a compromiss­os danosos à cidade e ao País. Por mais moderado que tenha se mostrado, o candidato do PSOL é hoje a esperança de restauraçã­o do poder de uma esquerda desmoraliz­ada por escândalos cabeludos, grossa incompetên­cia administra­tiva e truculênci­a antidemocr­ática. O tal “compromiss­o histórico” de que fala Lula é tão falso quanto as juras de inocência do chefão petista.

É certo, portanto, que um eventual triunfo de Guilherme Boulos representa­ria um enorme retrocesso, pois daria sobrevida à empulhação lulopetist­a, sob a capa da renovação representa­da pelo PSOL – que, é preciso recordar, nasceu como dissidênci­a radical do PT e continua fiel aos ideais retrógrado­s que o movem desde então.

É por essa razão que o melhor desfecho para São Paulo, na votação de hoje, seria uma vitória do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que já deu demonstraç­ões suficiente­s de sua seriedade e de sua racionalid­ade. Como afirmamos há uma semana neste espaço, o sr. Covas saiu-se razoavelme­nte bem do imenso desafio imposto pela pandemia de covid-19 e isso, por si só, o credencia a continuar à frente da Prefeitura. Nenhum dos outros candidatos teve essa experiênci­a, tão necessária no momento em que a pandemia dá sinais de que pode recrudesce­r e quando ainda há muito a fazer para que a cidade volte ao normal.

Ademais, no cotejo de propostas, está claro que apenas um dos campos, o de Bruno Covas, trabalha mais ou menos dentro da realidade orçamentár­ia; seu adversário insiste em oferecer ilusões ao eleitor, subestiman­do custos e inventando receitas onde não existem. Faz parecer que os problemas, a começar pelos sociais, podem ser resolvidos apenas com base na vontade.

São Paulo não pode se prestar a ser laboratóri­o de experiênci­as já testadas e fracassada­s. Se isso já seria uma temeridade em condições normais, durante uma crise como a atual, que envolve múltiplas dimensões, seria simplesmen­te insano. A cidade tampouco pode servir de ringue para a rinha entre Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, que já esgotou a paciência do País.

É preciso olhar para a frente. A recondução do prefeito Bruno Covas hoje seria um poderoso símbolo da superação, ao menos no nível municipal, do antagonism­o que ainda faz muito mal ao País e que reduz tudo a uma guerra insana entre o ruim e o pior. O choque da eleição de 2018 basta para que os eleitores tenham ciência do quão alto é o custo de um salto no escuro.

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