FUTURO CARIOCA Fernando Gabeira
Eleições no Rio parecem ser questão de vida ou morte.
As eleições de hoje são importantes em todas as 57 cidades em que há segundo turno. Mas, no Rio, parecem ser uma questão de vida ou morte, porque a cidade vive um longo processo de decadência prestes a ultrapassar um ponto de não retorno. Personalidades cariocas enfatizam que a cidade, bonita por natureza, ainda pode encontrar sua vocação no desenvolvimento sustentável, produção do conhecimento, turismo e cultura.
Segundo algumas pesquisas, mais da metade do território do Rio é controlado pelas milícias. Um entre quatro moradores vive em favelas, sem endereço legal, título de propriedade e serviços públicos, sobretudo saneamento básico.
Uma velha canção diz que quando derem vez ao morro, toda a cidade vai cantar. Um potencial de desenvolvimento limpo e grandes problemas sociais pela frente são um enorme desafio para o novo prefeito.
Tudo indica que as necessidades de uma metrópole cosmopolita chocaram-se com a estreita visão religiosa de Crivella, que subestimou até o carnaval, ponto central do calendário turístico, ao lado de outros, como o Rock in Rio.
Paes foi prefeito do Rio duas vezes. Parece sensível a todos os problemas. É sobrevivente da era Cabral e terá de provar que aprendeu com os erros e não apenas se adaptou ao novo momento para vencer as eleições.
As lagoas da Barra da Tijuca, bairro onde Paes vive, jamais foram recuperadas num projeto urbano que poderia reviver na área o movimento aquático de uma Veneza.
Da mesma forma, Paes contraiu covid-19 um pouco antes da campanha e teve sintomas leves. É importante que se organize para enfrentar a pandemia e preparar o caminho para uma vacinação em massa, o que pode viabilizar o carnaval, remarcado para o meio do ano que vem.
Até o momento, não se dedicou muito ao tema, nem sequer visitou a Fundação Oswaldo Cruz, onde a vacina será fabricada.
O fim de campanha no Rio foi marcado pelo baixo nível. Crivella acusa Paes de ter o apoio do PSOL, que iria para o setor de educação promover a pedofilia. O padrinho de Crivella, Bolsonaro, fortalece essa acusação, revivendo a famosa mamadeira de piroca, que foi uma das estrelas de sua campanha de fake news.
Se conseguir realmente demonstrar maturidade, Paes pode mobilizar o potencial da sociedade assustada com o processo de decadência. Se quiser, por exemplo, além da qualidade de vida num território contido entre o mar e a Mata Atlântica, poderá implementar os passos de uma cidade inteligente. O conhecimento para esse passo revolucionário já é desenvolvido na Universidade Federal do Rio.
Portanto, apesar de discretas, sob o impacto da pandemia, as eleições no Rio podem marcar o futuro, inclusive porque neste ano está prevista uma revisão do Plano Diretor da cidade – decisões que envolvem praticamente tudo no cotidiano dos cariocas.